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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Quem escolhe? Deus ou nós?



Essa pergunta tem levantado acirrados debates teológicos.

Somos nós que escolhemos ser salvos ou é Deus, em Sua soberania, que escolhe quem Ele quer? Será que todos tem oportunidade de salvação?

A princípio, talvez a sua resposta seja: "Somos nós que escolhemos, afinal todos tem oportunidade".

Mas será que é isso mesmo que a Bíblia ensina? Vamos analisar os textos bíblicos e depois você poderá responder com mais precisão.

A Bíblia não diz que Deus amou o mundo?

Sim, com certeza!

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”
(João 3:16 RA)

E amar o mundo não significa escolher todas as pessoas do mundo?

Não! Veja o que Jesus falou sobre Seus discípulos:

“Se vocês fossem do mundo, o mundo os amaria por vocês serem dele. Mas eu os escolhi entre as pessoas do mundo, e vocês não são mais dele. Por isso o mundo odeia vocês.”
(João 15:19 NTLH)

Então não somos nós que escolhemos a Deus? É Ele que nos escolhe?

Exatamente. Assim Ele diz:

“Não foram vocês que me escolheram; pelo contrário, fui eu que os escolhi para que vão e dêem fruto e que esse fruto não se perca.”
(João 15:16a NTLH)

Quando Ele nos escolheu?

Antes da criação do mundo.

"Antes da criação do mundo, Deus já nos havia escolhido para sermos dele por meio da nossa união com Cristo, a fim de pertencermos somente a Deus e nos apresentarmos diante dele sem culpa..."
(Efésios 1:4 NTLH)

Mesmo sendo Deus que nos escolheu, será que Ele não nos escolheu por que sabia das nossas obras futuras?

Não, pois a salvação não depende das nossas obras, mas sim do plano e da graça de Deus.

"Deus nos salvou e nos chamou para sermos o seu povo. Não foi por causa do que temos feito, mas porque este era o seu plano e por causa da sua graça. Ele nos deu essa graça por meio de Cristo Jesus, antes da criação do mundo."
(2 Timóteo 1:9 NTLH)

Tem algum exemplo na Escritura que mostre isso?

Sim, Jacó e Esaú são um bom exemplo de que Deus não leva em consideração as obras de ninguém na hora de escolher.

"Mas, para que a escolha de um deles fosse completamente de acordo com o plano de Deus, o próprio Deus disse a Rebeca: “O mais velho será dominado pelo mais moço.” Disse isso antes de eles nascerem e antes de fazerem qualquer coisa, boa ou má. Assim ficou confirmado que é de acordo com o seu plano que Deus escolhe aqueles que ele quer chamar, sem levar em conta o que eles tenham feito. Como dizem as Escrituras Sagradas: “Eu escolhi Jacó, mas rejeitei Esaú.”
(Romanos 9:11 e 12 NTLH)

Amar um e rejeitar outro antes de nascerem não é uma grande injustiça de Deus?

De modo nenhum. Veja:

"Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia."
(Romanos 9:14-16)

Que direito Deus tem pra agir assim?

O direito que o Criador tem sobre aquilo que Ele cria.

"Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?"
(Romanos 9:20 e 21)

Mas por que Deus escolhe uns e não escolhe outros?

Porque quer mostrar o seu poder sobre os vasos da ira e também mostrar a sua glória nos vasos de misericórdia.

"E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para perdição, para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?"
(Romanos 9:22-24 RC)

Acho que Deus pode escolher pessoas para muitas coisas, mas não para a salvação. Onde a Bíblia diz que é escolha para a salvação?

Em várias passagens das Escrituras, veja um exemplo:

"Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade, para o que também vos chamou mediante o nosso evangelho, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo."
(2 Tessalonicenses 2:13 e 14 RA)

Será que não foi por que eu quis buscar a Deus que Ele me deu a salvação?

Não, pois o homem natural, afastado de Deus, nunca o busca. Como está escrito:

"Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só."
(Romanos 3:10-12 RC)

Sim, mas eu tive fé. A minha fé não veio antes da escolha de Deus?

Não! Primeiro é preciso que Deus escolha a pessoa, para que então ela tenha fé.

"Pois esta é a ordem que o Senhor Deus deu a nós, o seu povo: “Eu coloquei você como luz para os outros povos, a fim de que você leve a salvação ao mundo inteiro.” Quando os não-judeus ouviram isso, ficaram muito alegres e começaram a dizer que a palavra do Senhor era boa. E creram todos os que tinham sido escolhidos para ter a vida eterna."
(Atos 13:47 e 48 NTLH)

Mas a fé é minha ou é um dom de Deus?

A fé é um dom de Deus!

"Por causa da bondade de Deus para comigo, me chamando para ser apóstolo, eu digo a todos vocês que não se achem melhores do que realmente são. Pelo contrário, pensem com humildade a respeito de vocês mesmos, e cada um julgue a si mesmo conforme a fé que Deus lhe deu."
(Romanos 12:3 NTLH)

E o meu arrependimento?

Até o arrependimento tem que ser concedido por Deus.

"E ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em cuja vontade estão presos."
(2 Timóteo 2:24-26 RC)

Então ninguém pode ser salvo se Deus não permitir?

Exatamente. Foi isso que Jesus falou.

"E prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido."
(João 6:65 RA)

Há mais textos que falam isso?

Sim. Veja:

"Todos aqueles que o Pai me dá virão a mim; e de modo nenhum jogarei fora aqueles que vierem a mim. Pois eu desci do céu para fazer a vontade daquele que me enviou e não para fazer a minha própria vontade. E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum daqueles que o Pai me deu se perca, mas que eu ressuscite todos no último dia."
(João 6: 37-39 NTLH)

Então por que Jesus falou até por meio de parábolas? Não foi pra que todas as pessoas pudessem entender Sua mensagem?

Muito pelo contrário, Ele usou parábolas justamente para que os que não foram eleitos não entendam, não se arrependam e, conseqüentemente, não sejam perdoados.

"Jesus disse a eles: —A vocês Deus mostra o segredo do seu Reino. Mas para os que estão fora do Reino tudo é ensinado por meio de parábolas, para que olhem e não enxerguem nada e para que escutem e não entendam; se não, eles voltariam para Deus, e ele os perdoaria."
(Marcos 4:11 e 12 NTLH)

Eu nunca tinha visto as coisas dessa forma. Pode me mostrar mais textos que mostrem isso?

Sim. O apóstolo Paulo, após falar sobre o povo de Israel e mostrar que mesmo dentro do povo escolhido haviam escolhidos, fala sobre a época da igreja:

"A mesma coisa também acontece agora, isto é, por causa da graça de Deus, ainda existe um pequeno número daqueles que ele escolheu. Essa escolha se baseia na graça de Deus e não no que eles fizeram. Porque, se a escolha de Deus se baseasse no que as pessoas fazem, então a sua graça não seria a verdadeira graça. E isso quer dizer que não foi o povo de Israel que encontrou o que estava procurando. Quem encontrou foi apenas um pequeno grupo que Deus escolheu; os outros não quiseram ouvir o chamado de Deus. Como dizem as Escrituras Sagradas: 'Deus endureceu o coração e a mente deles; deu-lhes olhos que não podem ver e ouvidos que não podem ouvir até o dia de hoje.' "
(Romanos 11:5-8 NTLH)

Deus endurece o coração e a mente das pessoas?

Sim, Ele endurece o coração e a mente de quem quer quando isso é necessário para cumprir Seu plano.

"Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, nem entendam com o coração, e se convertam, e sejam por mim curados."
(João 12:40 RA)

Pode mostrar algum exemplo disso na Bíblia?

Sim. Faraó é um bom exemplo de alguém que teve o coração endurecido por Deus.

"Porém o SENHOR endureceu o coração de Faraó, e não os ouviu, como o SENHOR tinha dito a Moisés."
(Êxodo 9:12 RC)

"Porque, como está escrito nas Escrituras Sagradas, Deus disse a Faraó: “Foi para isto mesmo que eu pus você como rei, para mostrar o meu poder e fazer com que o meu nome seja conhecido no mundo inteiro.” Portanto, Deus tem misericórdia de quem ele quer e endurece o coração de quem ele quer."
(Romanos 9:17 e 18 NTLH)

Tenho uma dúvida: Judas Iscariotes era um escolhido?

Não, Judas não era um escolhido. Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus fala que eles foram escolhidos, exceto Judas.

"Eu afirmo a vocês que isto é verdade: o empregado não é mais importante do que o patrão, e o mensageiro não é mais importante do que aquele que o enviou. Já que vocês conhecem esta verdade, serão felizes se a praticarem. —Não estou falando de vocês todos; eu conheço aqueles que escolhi. Pois tem de se cumprir o que as Escrituras Sagradas dizem: 'Aquele que toma refeições comigo se virou contra mim'. Digo isso a vocês agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vocês creiam que 'EU SOU QUEM SOU'."
(João 13:16-19 NTLH)

Pedro fala que Judas se desviou para ir para o seu próprio lugar.

“E, orando, disseram: Tu, Senhor, conhecedor do coração de todos, mostra qual destes dois tens escolhido, para que tome parte neste ministério e apostolado, de que Judas se desviou, para ir para o seu próprio lugar.”
(Atos 1:24 e 25 RC)

Isso quer dizer que algumas pessoas já estão predestinadas para a condenação?

Veja:

“Porque se introduziram furtivamente certos homens, que já desde há muito estavam destinados para este juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de nosso Deus, e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo.”
(Judas 4 RC)

Se é assim, então quer dizer que Deus criou essas pessoas para serem condenadas?

Exatamente.

“O Senhor fez tudo para um fim; sim, até o ímpio para o dia do mal.”
(Provérbios 16:4 RC)

Existem muitos escolhidos?

Jesus disse que não.

"Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos."
(Mateus 22:14 RC)

E os escolhidos podem perder a salvação?

Não, pois ninguém pode arrebatar as ovelhas da mão de Jesus, e nada pode nos separar do amor de Deus, pois é Ele que nos justifica.

"As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar."
(João 10:27-29 RA)

"Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor."
(Romanos 8:38 e 39 RA)

"Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica."
(Romanos 8:33 RA)

Mas há pessoas que abandonaram a fé cristã. Elas não perderam a salvação?

Não, pois na verdade nunca foram salvas. A Bíblia diz que são como porcas que foram lavadas e voltaram para a lama. Jesus diz que nunca conheceu essas pessoas. Mesmo que tenham feito milagres, expulsado demônios e profetizado em Seu nome, nunca foram Dele.

"Portanto, aqueles que chegaram a conhecer o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e que escaparam das imoralidades do mundo, mas depois foram agarrados e dominados por elas, ficam no fim em pior situação do que no começo. Pois teria sido muito melhor que eles nunca tivessem conhecido o caminho certo do que, depois de o conhecerem, voltarem atrás e se afastarem do mandamento sagrado que receberam. O que aconteceu a essas pessoas prova que são verdadeiros estes ditados: 'O cachorro volta ao seu próprio vômito' e 'A porca lavada volta a rolar na lama'."
(2 Pedro 2:20-22 NTLH)

"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade."
(Mateus 7:21-23 RA)

E o que acontecerá com aqueles que morreram sem conhecer a Palavra de Deus?

Perecerão, pois a única forma de salvação é a fé em Cristo.

"Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados."
(Romanos 2:12 RC)

"Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim."
(João 14:6 RA)

"E em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, em que devamos ser salvos."
(Atos 4:12 RA)

Pode citar mais textos que falam sobre o assunto?

Sim. Aí estão:

"... havendo sido predestinados, conforme o propósito dAquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da Sua vontade; com o fim de sermos para louvor da Sua glória ..."
(Efésios 1:11-12)

"Sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de Deus; porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder ... e vós fostes feitos nossos imitadores ..."
(1 Tessalonicenses 1:4-6)

"... tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus ..."
(2 Timóteo 2:10)

"... segundo a fé dos eleitos de Deus ..."
(Tito 1:1)

"Mas vós sois a geração escolhida ... o povo adquirido ..."
(1 Pedro 2:9)

"... vencerão os que estão com Ele, chamados, e eleitos, e fiéis."
(Apocalipse 17:14)

"Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste."
(João 17:2)

"Pois pela graça de Deus vocês são salvos por meio da fé. Isso não vem de vocês, mas é um presente dado por Deus. A salvação não é o resultado dos esforços de vocês; portanto, ninguém pode se orgulhar de tê-la."
(Efésios 2:8 e 9)

"... o qual, tendo chegado, aproveitou muito aos que pela graça criam."
(Atos 18:27)

"Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou."
(Romanos 8:28-30)

"Ouvindo isto, os discípulos ficaram grandemente maravilhados e disseram: Sendo assim, quem pode ser salvo? Jesus, fitando neles o olhar, disse-lhes: Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível".
(Mateus 19:25 e 26)

"Para ele, os seres humanos não têm nenhum valor; ele governa todos os anjos do céu e todos os moradores da terra. Não há ninguém que possa impedi-lo de fazer o que quer; não há ninguém que possa obrigá-lo a explicar o que faz.”
(Daniel 4:35)

“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu sou o Senhor, que faço todas estas coisas.”
(Isaías 45:7)

"Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar."
(Mateus 11:27)

"Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade."
(Filipenses 2:13)

Nesse estudo aprendemos que é Deus quem nos escolhe, e nos escolhe entre as pessoas do mundo. Descobrimos que Ele opera em nós tanto o querer quanto o efetuar, que é poderoso para endurecer o coração de quem quer, e ter misericórdia de quem quer, pois, assim como um oleiro, Ele tem poder sobre o barro para, da mesma massa, fazer um vaso para honra e outro para desonra, segundo a Sua vontade.

Vimos também que a escolha foi feita antes da criação do mundo, e não levou em conta as nossas obras, nem boas nem más. Deus fez Sua escolha de acordo com o Seu plano. O homem natural não pode nem quer buscar a Deus, pois a própria fé é um dom de Deus, e o arrependimento tem que ser concedido por Ele.

Aqueles que o Pai deu a Jesus inevitavelmente irão a Ele, e os que vão a Ele jamais serão lançados fora. Os eleitos nunca perecerão, pois ninguém pode arrebatar as ovelhas da mão de Jesus e da mão do Pai.

Espero que você seja fortalecido na fé em saber que é de Deus que depende a nossa salvação, e que Ele merece todo o crédito e todo o mérito pela obra realizada em nós.

Glória somente a Deus!

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Ascetismo e Hedonismo

Crente não bebe, não dança, não fuma, não vai ao cinema, não vai a praia, não assiste TV, não ouve músicas seculares etc.

Assim foi criado um estereótipo do cristão protestante, especialmente os pentecostais, que ainda permanece na sociedade.


O ascetismo, marca registrada da “espiritualidade” medieval, atingiu em cheios os cristãos pietistas (A origem da palavra PIETISTA é latina, “pius” = “aquele que cumpre seus deveres”, mas é usada para se referir a uma “reverência especial a Deus”, sinônimo de “devoção”.) Enquanto isso a sociedade hedonista do grego hedonê, "prazer", "vontade"é uma teoria ou doutrina filosófico-moral que afirma ser o prazer o supremo bem da vida humana. busca, a cada dia, satisfação nos prazeres fúteis e passageiros desse mundo.
O que é hedonismo?
O que é ascetismo? E por que a igreja deve evitar essas “filosofias”?


1° O hedonismo é uma “teoria ética que identifica o bem com a felicidade e entende a felicidade como a presença do prazer e a ausência da dor”


2° O ascético acredita que a prática de “exercícios espirituais” irá recompensá-lo com a salvação, pois a ascese leva o homem para realização plena da virtude e mortificação da carne.

O hedonista adora o prazer, o ascético o despreza com veemência. O hedonista cultua o corpo, enquanto o ascético o vê com desconfiança. Um é anti-bíblico e o outro também. A cristandade sempre se aproximou do ascetismo, mas hoje é possível ver “cristãos” hedonistas, principalmente os contaminados pela pregação de prosperidade e saúde plena. Os “cristãos” ascetas ainda continuam, principalmente em igrejas pentecostais, contaminados pelos seus equívocos.


Hedonismo e os “prazeres” do evangelicalismo


Os adeptos da “teologia” da prosperidade são hedonistas, pois os mesmos acham que a felicidade está no prazer da glória terrena. Os pastores que pregam tal aberração exaltam em testemunhos estridentes aqueles que conquistaram um modelo de vida luxuoso. As evidências da vida “cristã” se constituem, dentro desse contexto hedonista, com carros, mansões, iates, sucesso empresarial etc.
O Movimento Carismático acentua demasiadamente o “sentir-se bem” no ambiente de culto. Com isso, os cultos carismáticos são recheados de clichês com músicas do tipo mantra. A dita “adoração extravagante” atende a demanda do misticismo vazio de conteúdos objetivos. Nesses “momentos de adoração”, a eventual êxtase serve como o ópio contrário a racionalidade cúltica proposta pelo apóstolo Paulo em Rm 12.01.




Ascetismo e seus males


Como dito no início, o protestantismo criou vários estereótipos em versões de tabu quanto aos prazeres dessa terra. Comportando-se somente como peregrinos, os cristãos rejeitaram a cultura e o papel de influência sobre ela. Nessa cosmovisão, criam forte aversão ao cinema, rádio, televisão, erudição, esportes, lazeres, entretenimento, teatros, artes, danças, esculturas etc. Fruto de uma dicotomia grega chamada Gnosticismo que vem do grego gnosis , "conhecimento". .... desdobra na divisão entre corpo (que é mau) e espírito (que é bom),, e não de convicção bíblica, o legalismo protestante desprezou a dosagem equilibrada do prazer.




A falsa santidade e o ascetismo


Prejuízos enormes já foram causados pela confusão existente nas cabeças legalistas, entre ascetismo e santidade. Santidade vem de Deus, ascetismo vem do homem; santidade está casada com a graça, ascetismo está casado com o legalismo; santidade liga a Deus, ascetismo afasta o homem de Deus. Santidade tem uma total dependência da obra regeneradora e purificadora do Espírito Santo, enquanto o ascetismo depende do esforço humano. Quantos pentecostais pregam e vivem como se os “usos e costumes” os levassem para o céu! Sobre o assunto, sabiamente escreve o teólogo Augustus Nicodemus:


Ser santo não é guardar uma série de regras e normas concernentes ao vestuário e tamanho do cabelo. Não é ser contra piercing, tatuagem, filmes da Disney, a Bíblia na Linguagem de Hoje. Não é só ouvir música evangélica, nunca ir à praia ou ao campo de futebol e nunca tomar um copo de vinho ou uma cerveja. Não é viver jejuando e orando, isolado dos outros, andar de paletó e gravata. Para muitos pentecostais no Brasil, santidade está ligada a esse tipo de coisas. Duvido que estas coisas funcionem. Elas não mortificam a inveja, a cobiça, a ganância, os pensamentos impuros, a raiva, a incredulidade, o temor dos homens, a preguiça, a mentira. Nenhuma dessas abstinências e regras conseguem, de fato, crucificar o velho homem com seus feitos. Elas têm aparência de piedade, mas não tem poder algum contra a carne. Foi o que Paulo tentou explicar aos colossenses, muito tempo atrás: “Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade” (Colossenses 2.23).


Precisamos de uma compreensão correta de santidade.

Nesse artigo não há sugestões para aversão a leis, regras, costumes ou tradições e nem incentivo para vida dissoluta, em que violenta a Graça de Deus. A Bíblia estabelece princípios irrevogáveis, em que muitos preceitos encontram suas bases. Lembrando que regras, tradições e preceitos mudam, mas os princípios (essência) não devem mudar.
A compreensão correta da santidade, nunca levará os homens para comportamentos pecaminosos. Quem peca baseado na “graça de Deus” está redondamente enganado! Os que usam a Graça para o pecado, entram no conceito de Judas, de "homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de nosso Deus, e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo. (Jd. v.4),

Por isso, que a igreja bem doutrinada, ou seja, bem ensinada nos princípios bíblicos, gerará necessariamente bons costumes, que nunca serão impostos ou encarados de maneira legalista. Preceitos bons nascem de boa pregação, mas pregação doente gera somente crentes doentes e sem a compressão da Graça de Deus!

Conclusão
O desequilibrado hedonista destrói sua vida com seu modus vivendi louco e irresponsável, enquanto o asceta não aproveita a beleza que Deus deixou nessa terra. Ambos estão errados, ambos se autodestroem, pois é comum ver hedonistas viciados em bebidas e drogas, enquanto muitos ascetas estão obesos pela vida sedentária. O cristão gosta do equilíbrio!

Extraído do blog: Crescendo e Aprendendo

http://josivancarvalho.blogspot.com.br/

O Milênio


por Cleómines A. de Figueiredo

Simples nome – Milênio – em torno qual giram as correntes do pensamento escatológico. E exatamente por isso ao tratar deste assunto, o escritor cristão deve ter cuidado de associar sinceridade, verdade e amor. Os extremistas ferem e conduzem ao erro.
Por estar o assunto milenista arraigado no espírito histórico do cristianismo, e isto há mais de um milênio, só de se pensar em expor o assunto, já se é visto, quando não bem informado, no mínimo superficialíssimo.
Entretanto, tratar do assunto escatológico sem uma referência ao pensamento milenista é deixar espinho na plantação do trigo.
A origem do pensamento milenista é judaico, especialista da história doutrinária citam fontes judaicas em que o pensamento milenista é frutuoso.
Os apócrifos ( O livro dos segredos de Enoque; segundo Habacuque ) trazem idéias de um reino milenial aqui na terra.
Não se deve esquecer, entretanto, que o único texto da Bíblia e que fundamentam as teses milenista é Apocalipse 20.1-6.
Alguns, por causa de textos como estes e do pensamento judaico expresso nos apócrifos e escritos rabínicos, afirmam que João se influenciou com o Judaísmo, o que discordamos, pois o pensamento do NT é pensamento cristão na simbologia (letra) judaica. Porque a idéia do milênio tem origem judaizante, é lógico que a Igreja cristã, desde os primórdios, lutou com ela.
Tem se a notícia de que os “Pais” (primeiros representantes do pensamento cristão), apenas Papias e Justino (100 – 150ad) aceitavam a idéia do milênio na terra sendo que Justino se contradizia muito.Ainda se crê que a idéia veio á tona realmente entre o segundo e o terceiro séculos, e interessante é que o Credo Apostólico, que nasceu contemporaneamente, não se refere ao assunto. E ignorar mil anos de uma história gloriosa, de um Reino de Cristo na terra, ou foi descuido exagerado do grande Concílio ou de fato o pensamento não é doutrina cristã.
Os heréticos montanistas aceitavam-na(II séc.)
Caio de Roma, Hipólito, Orígenes (todos do séc.II) militaram contra ela.
Temos em Agostinho (354-439 AD), a primeira estrela da Teologia Paulina,um simpatizante da idéia, mas depois de acurado estudo combateu-a tão ardorosamente que por muitos séculos a Igreja cristã a esqueceu.
Na reforma ela reaparece. E novamente é combatida. Calvino dedica uma página de sua Institutas para combatê-la, e a chama de idéia “pueril” em outro lugar.
A confissão de Augsburgo, preparada pelo Teólogo da Reforma, Melancton, considerou-a “uma idéia judaica”.
A confissão de Eduardo VI, base da confissão Anglicana, a rejeitou também,e considera oponentes às Escrituras os que a aceitam.
A Confissão Helvética e Belga, a primeira a chama de sonhos judaicos, e a segunda a ignora.
Mas vale lembrar a Confissão de Westminster; no Catecismo Maior e nas sessões escatológicas, ignoram o assunto.
Agora vejamos de perto a idéia milenista terrenal.
Os devotos deste pensamento cometem o mesmo erro dos Judeus que na época de Jesus materializaram o ensino espiritual das Escrituras. Em vez de olhar para o Messias como Redentor do Pecador, se apegaram ao Reino no Mundo; e porque o Reino de Jesus “não era deste mundo”, condenaram-no.
Assegura o Prof. Harold Schaly, do Seminário Batista do Norte, grande pesquisador, que o pensamento milenista surgiu da idéia que Jesus veio ao mundo para estabelecer mesmo um reino com o povo Judeu ( O termo Reino de Deus é assim por eles entendido ). E Jesus e João Batista proclamaram a chegada deste Reino. Mas a tentativa do estabelecimento do tal Reino fracassou, pois os Judeus rejeitaram Jesus. Em vista disso, duas atitudes (Novas?) Cristo teve que tomar:

1 – Transferir este Reino para o Futuro (Milênio).
2- Fundar a Igreja, que nada tem a ver, e é um simples parêntese entre a primeira e a segunda vindas.
Alguns dicotomizam a Bíblia, dizendo que as bem-aventuranças, Apocalipse de 4-19, e outros textos, não são para a Igreja.
Para o estabelecimento deste Reino, dividido a segunda vinda em duas etapas:
1 – Para a Igreja: Arrebatamento;
2 – Para estabelecer o Reino com a Igreja, para os Judeus. Entre a primeira e a segundas etapas vem com a grande Tribulação(= 7 anos), e com este arranjo surgem muitas ressurreições e juízos de igual modo.(Alguns chegam a 5 ressurreições e 5 juízos!)

Este reinado de Cristo na terra, o Milênio fracassado na primeira tentativa (!), será realizado na terra, como outro reino qualquer, havendo pessoas revoltadas, guerras, conflitos e o “Rei” Jesus, com sede em Jerusalém atendendo telefone(?) , tendo audiências marcadas como Presidente(?) e guerreando com armas, bombas, fuzis(?), mantendo a “ordem” com os santos(?), mantendo a soberania do estado de Israel(?).
No fim deste milênio, os revoltosos irão crescer em número com a areia do mar. Afinal, o reinado de paz milenal, com o Rei no trono material, que Jesus, não conseguirá agradar aos Súditos milenistas que se revoltarão para a grande batalha, com cavalaria(?), e Cristo vencerá esta luta derramando muito sangue…
Neste Reino a Igreja estará presente como “corpo estranho”. Viverão juntos os crentes ressuscitados, os não-ressuscitados e os ímpios rebeldes,e Cristo e os santos a governar (?) essa massa ímpia. Como pode ser isto quando a Bíblia garante que vão descansar, entrar no gozo eterno e na glória perenal, onde estarão livres de toda lágrima e desencanto? Agora, segundo esta estranha idéia, aqui no milênio, terão algumas dores de cabeça enquanto governam os ímpios…vivendo aqui ao lado da imperfeição e morte natural…
Com o esquema pronto, pegam o texto de Apocalipse 20.1-6, e nele se fundamentam, fazendo-o dizer em seu favor.
Uma exegese do texto bíblico, bem feita considerando o contexto revelacional, escritural e histórico do Apocalipse , revelará o engano.
É um texto, como aliás, todo o Apocalipse e toda literatura apocalíptica, cheio de simbolismo.
Não se pode interpretar um texto sem observar o propósito para qual foi escrito. Por isso é necessário conhecer o escopo do livro. Querer achar significado para cada símbolo, cada ato, apegando-se muito à simbologia, pode desviar a atenção para o desnecessário, senão para o inconveniente. (obs: em referência a números pode até gerar superstição…)
Desde os tempos apostólicos a Igreja crê que estamos sob o reinado de Cristo e sua Igreja. As profecias do Velho Testamento não fracassaram quando da primeira vinda de Cristo, pelo contrário, tiveram espiritualmente,o resultado previsto. O descendente de Davi assentou-se no trono, eternamente,conforme nos assegura Pedro, ou seja, que Cristo assentou-se no trono de Davi e afirma que isto aconteceu quando da sua ressurreição ( At 2.30,31). Em 1 Co 15.25; Mt 28.18; Ef. 1.22 contundentemente apresenta Jesus como Senhor reinando. É verdadeiro malabarismo teológico deslocar o senhor Jesus da destra do trono de Deus e fazê-lo assentar num trono temporal, que, inclusive renunciou na sua primeira vinda (Jo 6.15 e 18.36).
O que Apocalipse quer dizer aos crentes é que aqui, deste lado da vida, parece que estamos fracassando, perdendo, sofrendo, sendo perseguidos e mortos. Apesar de tudo, ele reina, e há de vir para julgar os nossos inimigos: o dragão ( = Satanás, a antiga serpente); as bestas(=os sistemas do Anticristo) e Babilônia (= o mundo e suas seduções e fascinações).
A luz do conhecimento da palavra de Deus e da história da doutrina escatológica da igreja, concluímos:

1. Estamos no período milenial
A Igreja reina no Céu (triunfante – Ap. 20.4: almas) e reina na terra (militante, vencedora – somos reis e sacerdotes – Ap. 1.6 e I Pe 2.9).

2. Satanás está preso
Apocalipse 20.3 diz que Satanás será preso por mil anos. Agostinho, em sua exegese, concluiu que Cristo o prendeu na sua 1 vinda – Ele “manietou o valente” Mt 12.26-29 desfez as obras (HB 2.14) e triunfou dele na Cruz (Cl 2.15). Expulsou e Julgou o príncipe deste mundo (Jo 12.31; 16.11). Em Lucas 10.17-18 ele é lançado à terra quando os discípulos pregavam.
A mesma palavra usada em Ap. 20.3 para a prisão de Satanás, Paulo a usa para dizer que a esposa está presa ao marido. É claro que aqui não significa inativo, mas apenas limitado; e graças a Deus, em toda a Bíblia a ação do inimigo, mormente após a 1 vinda, é mostrada como limitada; o próprio livro de Apocalipse mostra isto na expressão e “foi-lhe dado…” – sua prisão, cremos é relacionada com o impedimento de sua ação contra a Igreja (MT 18.16-18); ele não pode impedir o avanço da Igreja e do evangelho.

3. Satanás será solto.
Esta limitação, entretanto, terá fim, de certo modo, isto é, ele será solto (ou,quem sabe já esteja?); e quando for solto, isto será concomitante com a grande tribulação (MT 24.29-30), com a apostasia (II Ts 2.8), e isto por breve tempo (Ap.20.8), na iminência da volta do Senhor, que descerá dos Céus e destruirá o Anticristo e seus aliados.
E então se seguirão o novo e a nova terra, onde, em justiça, habitaremos com o Senhor não por mil anos,para sempre (I Co 15.52).
Texto retirado do Site Monergismo:

Cinco Evidências para Saber se seu Filho é Mesmo um Cristão


Brian Croft

Como pais, todos nós lutamos com essa pergunta e tenho observado que, no geral, há dois extremos que devem ser evitados. O primeiro é agravado pela falta de discernimento que muitas igrejas demonstram quando estendem os chamados ao altar, para crianças de 4 e 5 anos de idade, pedindo-lhes que levantem as mãos se eles amam a Jesus e, logo, são batizados como seguidores de Cristo, como convertidos.
O segundo é, frequentemente, uma reação contrária à primeira. Esse extremo evita que tanto os pais como os pastores afirmem a conversão de um menino até que seja um adulto, independente da autoridade e cuidado de seus pais. Enquanto a relutância em ambos os casos é algo justificável, creio que deve-se encontrar um equilíbrio, a fim de discernir uma evidência bíblica, de que um menino, adolescente ou jovem adulto tornou-se uma nova criatura em Cristo.

Cinco Evidências
Partindo do óbvio, que não somos Deus e não podemos ver o coração de ninguém, creio que há certas evidências que podem nos ajudar a discernir a legitimidade da profissão de fé de um menino ou adolescente. Tomando como referência os cinco sinais da verdadeira conversão de Jonathan Edwards, aqui estão cinco evidências que utilizo, frequentemente, como um modelo quando se trata dessa questão:
1. Uma afeição crescente e necessidade por Jesus e pelo Evangelho.
2. Uma maior compreensão das verdades da Escritura.
3. Aumento da bondade e generosidade para com seus irmãos.
4. Uma maior consciência e desgosto pelo pecado.
5. Desejo acentuado de obedecer a seus pais.

Em minha experiência como pai e pastor, percebi que a idade não é o indicador mais importante para determinar a verdadeira conversão. Em vez disso, é prudente buscar essas evidências de acordo com cada idade em particular. Por exemplo, um jovem de 16 anos de idade articulará sua compreensão acerca do Evangelho de maneira diferente e mais completa que um menino de 10 anos. O mesmo pode ser dito do desejo de um menino de obedecer a seus pais ou mostrar um espírito altruísta para com seus irmãos. Estas coisas parecem diferentes dependendo da idade, e nossas expectativas devem levar isso em conta.
No entanto, devemos observar os frutos de alguma maneira, e eu descartaria firmemente qualquer afirmação da conversão de um menino, sem algum tipo de evidência tangível, além de uma profissão de fé verbal. Por outro lado, porém, advirto os pais e pastores para que não caiam na armadilha de exigir mais de um menino além daquilo que pode ser razoavelmente esperado e observado na sua idade.

Cinco perguntas
Tenho aqui cinco perguntas que devem ser consideradas na busca por evidências anteriores e na avaliação da condição espiritual de um menino:

1º) Meu filho aparenta amar verdadeiramente Jesus?
Os meninos comumente fazem e dizem o que lhes falamos para fazer e dizer, pois acreditam que devem crer no que falamos a eles. Quando se trata de dizer: “Eu creio em Jesus”, os pais podem manipular uma resposta até mesmo com a melhor das intenções. Em vez de persuadi-los a dizer as palavras corretas, devemos buscar que o menino tenha afeição genuína por Jesus, e tratar de confirmar, da melhor maneira possível, se esse afeto está enraizado naquilo que Jesus fez para salvá-los de seus pecados, através de sua morte e ressurreição.

2º) Meu filho busca conhecer a Palavra de Deus de forma independente?
Leio a Bíblia com meus filhos antes mesmo que eles pudessem ler. O que mais me chamou a atenção, porém, foi quando a minha filha mais velha começou a ler e tratar de entender a verdade, sem a minha insistência. Lia as Escrituras por conta própria e logo me fazia perguntas. Estes comportamentos revelam o que minha esposa e eu identificamos como um desejo genuíno de conhecer a Palavra de Deus, independentemente de qualquer um de nós.

3º) Meu filho mostra uma maior compreensão das verdades espirituais profundas?
Uma evidência útil de que meu filho mais velho havia se convertido ocorreu um ano depois de sua conversão. Ao terminar de ler o livro de João, em nosso estudo da Bíblia, nas quartas-feiras pela noite, meu filho contou que estava triste de ter perdido a última semana que consistia em um resumo do livro. Eu perguntei por que ele estava triste, já que ele havia estado ali durante todo o livro, e ele me respondeu: “Sinto que lembro muito bem dos três últimos capítulos de João, mas não me recordo muito bem dos primeiros”. Foi ali que percebi que havíamos começado o estudo de João um pouco depois de sentirmos que nosso filho havia se convertido. A palavra “despertar” é uma maneira útil de entender a conversão, não apenas nos adultos, mas também nas crianças. Observe se seu filho/filha entende, melhor do que antes, as verdades acerca de Deus, o Evangelho e a Bíblia. Você tem notado nele um despertar espiritual?

4º) Meu filho está demonstrando fruto espiritual contra sua personalidade?
É comum confundir o fruto espiritual com os aspectos positivos da personalidade do filho. Por tal razão, temos que conhecer as diferentes características da personalidade de cada filho antes de podermos discernir o verdadeiro fruto espiritual. Por exemplo, meu filho é uma pessoa extrovertida, ama a gente e sempre amou os irmãos em nossa igreja. Portanto, o amor pela igreja local, apesar de ser um fruto da conversão, não era o melhor dado para discernir a conversão de meu filho, pois ele tende a nos amar de maneira natural. Minha filha mais velha, porém, não nos amava de maneira espontânea, algo que mudou notavelmente depois de sua conversão. Em resumo, é importante avaliar honestamente a personalidade de seu filho e buscar evidências de fruto sobrenatural,que pareça contrário a sua personalidade.

5º) Há remorso pelos pecados diários, de forma independente?
Minha esposa e eu percebemos que é útil observar se nosso filho sente pesar por seu pecado, além de qualquer disciplina, correção ou castigo. Um pai pode fazer com que um filho sinta-se “culpado” pelos pecados, contudo, isso não significa, necessariamente, que Deus, por seu Espírito, o tenha levado à convicção. Busque momentos quando um filho fere um irmão com suas palavras e pede desculpas por conta própria. Observe se seu filho vem até você e confessa uma mentira, antes dela ser descoberta, e não por outra razão (aparente), mas pelo fato de seu próprio coração e consciência serem condenados pelo Espírito Santo.
Compreenda que este é um terreno difícil. Como pai e pastor, tudo o que procede deve ser aplicado, segundo cada caso. Apesar de que muitos de nós podemos estar em lugares diferentes neste espectro, devemos, no entanto, tratar de evitar os extremos em ambos os lados. Encontrar um bom lugar no centro, como ponto de partida, e a partir dali ser sábio, avaliar com honestidade e orar para que o Deus misericordioso que regenera os adultos, adolescentes e meninos, igualmente, nos dê discernimento, paciência e graça.


Fonte: The Gospel Coalition

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O Poder da Palavra



por

Brian Chapell


 Em face das dúvidas relativas à eficiência pessoal numa época que questiona a validade da pregação precisamos de uma lembrança do desígnio de Deus para a transformação espiritual do ser humano. No final das contas, a pregação cumpre seus objetivos espirituais não por causa das habilidades do pregador, mas por causa do poder da Escritura proclamada. Os pregadores exercerão seu ministério com grande zelo, confiança e liberdade quando compreenderem que Deus retirou de suas costas as artimanhas da manipulação espiritual. Deus não está confiando em nossa destreza para a realização dos seus propósitos. Por certo, Deus pode usar a eloqüência e deseja esforços adequados à importância do assunto em questão, porém sua própria Palavra cumpre o programa de salvação e santificação. Os esforços pessoais dos maiores pregadores são ainda demasiado fracos e manchados pelo pecado para serem responsáveis pelo destino eterno das pessoas. Por essa razão Deus infunde sua Palavra com poder espiritual. A eficácia da mensagem, mais que qualquer virtude do mensageiro, transforma corações.



O PODER DE DEUS INERENTE À PALAVRA
Não podemos saber precisamente como a verdade de Deus transforma vidas, mas devemos discernir a dinâmica que nos dá esperança em nossa própria pregação. A Bíblia torna isto claro – que a Palavra não é somente poderosa, ela é inigualável. A palavra de Deus

Cria: “Disse Deus: Haja luz; e houve luz” (Gn 1.3). “Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou e tudo passou a existir” (Sl 33.9).

Controla: “Ele envia as suas ordens à terra, e sua palavra corre velozmente; dá a neve como lã e espalha a geada como cinza. Ele arroja o seu gelo em migalhas...Manda sua palavra e o derrete (Sl 147.15-18).

Persuade: “... mas aquele em quem está a minha palavra fale a minha palavra com verdade... diz o Senhor. Não é a minha palavra fogo, diz o Senhor, e martelo que esmiúça a penha?” (Jr 23.28, 29).

Cumpre seus propósitos: “Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tornam, sem que reguem a terra... assim será a palavra que sair da minha boca; não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a designei” (Is 55.10, 11).

Anula os motivos humanos: Na prisão, o apóstolo Paulo se regozijava, porque quando outros pregavam a Palavra, “quer por pretexto, quer por verdade”, a obra de Deus seguia adiante (Fp 1.18).

A descrição da Escritura acerca da sua potência desafia-nos a lembrar sempre que a Palavra pregada, antes mesmo da pregação, cumpre os propósitos do céu. Pregação que é fiel à Escritura converte, convence e amolda o espírito de homens e mulheres, pois ela apresenta o instrumento da compulsão divina, e não que pregadores tenham em si mesmos qualquer poder transformador.



O PODER DA PALAVRA MANIFESTADO EM CRISTO

Deus manifesta plenamente o poder dinâmico da Palavra do Novo Testamento ao identificar seu Filho como o divino Logos, ou Palavra (Jo 1.1). Por meio da identificação do seu Filho como sua Palavra, Deus revela que a mensagem do Filho e a pessoa do Filho são inseparáveis. A palavra o incorpora. Isso não quer dizer que as letras e o papel da Bíblia são divinos, mas que as verdades que a Escritura sustenta são veículos de Deus, de sua própria atividade espiritual.

A Palavra de Deus é poderosa porque ele está presente nela e opera por meio dela. Por meio de Jesus “todas as coisas foram feitas” (Jo 1.3) e ele continua “sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hb 1.3). A Palavra emprega sua palavra para levar a cabo todos os seus desígnios. O poder redentor de Cristo e o poder da sua Palavra unem-se ao Novo Testamento com Logos (a encarnação de Deus) e logos (a mensagem acerca de Deus), tornando-se termos tão reflexivos como que para formar uma identidade conceptual. Da mesma forma como a obra da criação procede da Palavra que Deus articula, assim também a obra da nova criação (i.é, redenção) nos vem pela Palavra viva de Deus. Tiago afirma: “ele [i.é, o Pai] nos gerou pela palavra da verdade ...” (Tg 1.18). A expressão palavra da verdade se aplica como um trocadilho que reflete a mensagem sobre a salvação e o único que opera o novo nascimento. O mesmo jogo de palavras é empregado por Pedro: “pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus” (1Pe 1.23). Nessas passagens, a mensagem acerca de Jesus e o próprio Cristo se harmonizam. Ambos são a “viva e eterna Palavra de Deus”, pela qual nascemos de novo.

Assim, não é algo meramente prosaico insistir que o pregador deve servir ao texto, pois se a Palavra é a presença mediadora de Cristo, o serviço é devido. Paulo instrui corretamente o jovem pastor Timóteo a ser um obreiro “que maneja bem a palavra da verdade” (2Tm 2.15), pois a Palavra de Deus é “viva e eficaz” (Hb 4.12a). A verdade da Escritura não é objeto passivo para nossa investigação e apresentação. A Palavra nos examina. “[Ela] é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12c). Cristo permanece ativo em sua Palavra, levando a efeito tarefas divinas que o apresentador da Palavra não tem o direito ou a capacidade pessoal de assumir.

Essas perspectivas sobre a Palavra de Deus culminam no ministério do apóstolo Paulo. O estudioso missionário que não se tornou conhecido pela habilidade no púlpito, no entanto, escreveu: “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16). Como os estudantes do grego elementar logo aprendem, a palavra “poder” nesse versículo é dunamis, da qual nos vem o termo dinamite em português. A força do evangelho transcende o poder do pregador. Paulo, em suas habilidosas comunicações, prega sem envergonhar-se, pois a Palavra que ele anuncia quebra a dureza do coração humano de tal forma que nenhum progresso técnico pode competir com ela.

De certo modo, o processo como um todo parece ridículo. Pensar que o destino eterno sofrerá mudança só por que anunciamos conceitos de um texto antigo, desafia o bom senso. Quando Paulo elogia a loucura da pregação – não pregação louca – ele reconhece a aparente insensatez de tentar transformar atitudes, estilos de vida, perspectivas filosóficas e compromissos de fé, com meras palavras (veja 1Co 1.21). No entanto, a pregação persiste e o evangelho se expande porque Deus confere aos débeis esforços humanos a força de sua própria Palavra.

A cada ano repito aos novos estudantes do seminário sobre uma ocasião em que a realidade do poder da Palavra atingiu-me com força excepcional. A obra do Senhor dominou-me quando entrei na classe de novos membros da igreja. Sentadas juntas na primeira fila estavam três jovens mulheres – todas primas. Embora estas tivessem se comprometido a ir, o fato de estarem ali me surpreendeu.

No ano anterior, cada uma delas, com sérios problemas, havia buscado a nossa igreja à procura de socorro. Tomei conhecimento da situação da primeira depois que, frustrada, deixou o marido por causa do alcoolismo dele. Era ele um membro ocasional da igreja e não escondia seu desinteresse por “religião”, mas com o abandono da esposa ele buscou nossa ajuda. Afirmou que faria qualquer coisa para tê-la de volta. Vieram juntos para o aconselhamento. Ele tratou da embriaguês. Reconciliaram-se, e agora ela desejava fazer parte da nossa família da fé.

A segunda prima tinha também abandonado o casamento antes que viesse pedir auxílio por sugestão da primeira. Tinha sido vítima de abusos do marido, e procurou consolo na companhia de outro homem. Embora não tivéssemos alcançado nenhum desses dois homens, nosso ministério voltado para essa mulher aqueceu o seu coração diante de Deus. Mesmo depois de o marido ter-se juntado com outra mulher, ela deixou seu amante, submetendo sua vida à vontade de Deus.

A última das primas era também casada, mas trabalhava como vendedora viajante e vivia com vários homens, como se cada um deles fosse seu marido. Um acidente que feriu seu sobrinho levou nossa igreja para dentro de sua vida. Tendo testemunhado o cuidado dos crentes pela criança e por ela (a despeito de sua hostilidade inicial para conosco), descobriu um amor que seus envolvimentos sexuais
não poderiam fornecer. Agora ela também vinha para ser parte da família de Deus.
A presença dessas três primas na condição de membros de uma classe da Igreja era um milagre. Quão tolo seria pensar que meras palavras que eu tinha dito – algumas consoantes e vogais saídas da boca por uma pequena explosão de ar – poderiam ser responsáveis pela decisão que elas haviam tomado. Nenhuma soma de persuasão humana poderia transformá-las do egoísmo da busca do prazer ou o estilo de vida autodestrutivo, para um comprometimento eterno com Deus. Corações antes hostis à sua Palavra, agora sentiam necessidade de comunhão com ele.

Deus havia arrancado três almas de um redemoinho infernal de confusão familiar, traição conjugal e pecado pessoal. No entanto, por mais improváveis que esses acontecimentos pareçam ser, eles são prontamente explicados. O Senhor empregou sua verdade para mudar o coração delas. Nos termos da Escritura: “deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro, e aguardardes dos céus o Seu Filho”, não devido a alguma habilidade do pregador, mas por causa do poder da Palavra (1Ts 1.9,10).

Quando os pregadores percebem o poder que a Palavra possui, a confiança em seu chamado cresce, da mesma forma como o orgulho em seu desempenho murcha. Não precisamos temer nossa ineficácia quando falamos das verdades que Deus revestiu de poder para a realização dos seus propósitos. Ao mesmo tempo, trabalhar como se nossos talentos fossem os responsáveis pela transformação espiritual, torna-nos semelhantes a um mensageiro que reivindica mérito por ter posto fim à guerra por haver ele entregue a declaração escrita de paz. O mensageiro tem uma nobre tarefa a realizar, mas porá em risco sua missão e depreciará o verdadeiro vitorioso se atribuir a si façanhas pessoais. Mérito, honra e glória com relação aos efeitos da pregação pertencem apenas a Cristo, pois somente a Palavra produz renovação espiritual.


O PODER DA PALAVRA APLICADO À PREGAÇÃO

A Pregação Expositiva Apresenta o Poder da Palavra

O fato de que o poder para a transformação espiritual baseia-se na Palavra de Deus, argumenta em defesa da pregação expositiva. A pregação expositiva tenta apresentar e aplicar as verdades de uma passagem bíblica específica. Outros tipos de pregação que proclamam a verdade bíblica são por certo válidos e valiosos, mas para o pregador principiante e como um sistema de pregação congregacional regular, nenhum outro tipo é mais importante.

A exposição bíblica liga o pregador e as pessoas à única fonte de transformação espiritual verdadeira. Considerando que os corações são transformados quando as pessoas deparam com a Palavra de Deus, os pregadores expositivos ficam comprometidos a dizer o que Deus diz. Não estamos interessados em propagar nossas opiniões, filosofias alheias ou reflexões especulativas. O interesse do pregador expositivo deve ser a verdade de Deus proclamada de tal maneira que as pessoas possam ver que os conceitos emanam da Escritura e aplicam-se à vida pessoal de cada um. Tal pregação põe as pessoas em contato imediato com o poder da Palavra.


A Pregação Expositiva Apresenta a Autoridade da Palavra

A pregação, em sua essência, fala do eterno problema humano com relação à autoridade e ao sentido. Embora vivamos em época hostil à autoridade, a luta diária por sentido, segurança e aceitação, leva cada pessoa a perguntar: “Quem tem o direito de me dizer o que fazer?” Essa pergunta tipicamente colocada como um desafio é, de fato, um apelo por socorro. Sem uma autoridade suprema em defesa da verdade, toda luta humana não tem valor fundamental, e a própria vida torna-se fútil. Tendências modernas de pregação que negam a autoridade da Palavra em nome da sofisticação intelectual, conduzem a um subjetivismo desesperador em que as pessoas fazem o que é direito a seus próprios olhos – situação cuja futilidade a Escritura já anunciou claramente (Jz 21.21).

A resposta ao relativismo radical de nossa cultura com as incertezas que o acompanham é a reivindicação bíblica de autoridade. Paulo elogia os crentes tessalonicenses porque eles aceitaram sua mensagem “...não como palavra de homens, e sim como, em verdade é, a Palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes” (1Ts 2.13). A afirmação da Escritura e a premissa da pregação expositiva é que Deus falou. Nossa tarefa é transmitir o que ele já confiou à Escritura. Tais esforços não se constituem em cega adesão a dogmas fundamentalistas, mas um compromisso ao que tanto a fé como a razão confirmam ser a única base de esperança humana.

Sem a autoridade da Palavra, a pregação torna-se uma infindável busca de assuntos, terapias e técnicas que granjearão aplausos, provocam aceitação, desenvolvam uma causa ou aliviem preocupações. A razão humana, as agendas sociais, o consenso popular e as convicções morais pessoais, transformam-se em recursos da pregação que carecem da “convicção histórica de que o que a Escritura diz, Deus diz”.7 As opiniões e emoções que formulam o conteúdo da pregação destituída da autoridade bíblica são as mesmas forças que podem negar a validade desses em cultura diferente, em geração subseqüente ou num coração rebelde.

Quando pregadores tratam a Bíblia como a própria Palavra de Deus, as questões acerca das coisas que temos o direito de dizer desaparecem. Deus pode dizer ao seu povo o que eles devem fazer e no que devem crer, e ele o faz. A Escritura constrange os pregadores a se certificarem de que as outras pessoas entendam o que Deus diz. Não temos autoridade bíblica para dizer nada além disso. É certo que as nossas expressões são culturalmente condicionadas, mas a transcendência da sua verdade e os privilégios que a nossa natureza desfruta por trazer a imagem divina tornam-nos possível receber e transmitir sua Palavra.

Apenas pregadores comprometidos em proclamar o que Deus diz têm o imprimatur da Bíblia sobre sua pregação. Desse modo, a pregação expositiva se empenha em descobrir e propagar o significado preciso da Palavra. A Escritura exerce domínio sobre o que os expositores pregam, pois eles esclarecem o que ela diz. O significado da passagem é a mensagem do sermão. O texto governa o pregador. Pregadores expositivos não esperam que outros reverenciem suas opiniões. Tais ministros aderem às verdades da Escritura e esperam que seus ouvintes tenham o mesmo cuidado.


A Pregação Expositiva Apresenta a Operação do Espírito

As expectativas dos pregadores expositivos estão, elas mesmas, baseadas nas verdades da Bíblia. Se nenhuma soma de eloqüência e oratória pode ser levada em conta com respeito à transformação espiritual, quem, unicamente, pode mudar corações? Os Reformadores responderam: “O Espírito Santo que, pela Palavra e com a Palavra, testifica em nossos corações.” A Palavra de Deus é a espada do Espírito (Ef 6.17; cf. At 10.44; Ef 1.13). O meio extraordinário, porém normal, por cujo intermédio Deus transforma vidas, é a participação conjunta de sua Palavra com o poder regenerativo e persuasivo do seu Espírito.

Quando anunciamos a Palavra, trazemos com ela a obra do Espírito Santo para produzir frutos na vida de outras pessoas. Nenhuma verdade confere maior incentivo à nossa pregação e nos dá mais motivos para esperar resultados dos nossos esforços. A obra do Espírito está inseparavelmente unida à pregação, como o calor está para a luz que a lâmpada emite. Ao apresentarmos a luz da Palavra de Deus, seu Espírito cumpre os propósitos divinos de aquecer, moldar e conformar corações à sua vontade.

O Espírito Santo usa nossas palavras, mas é o trabalho dele e não o nosso que produz efeito no íntimo oculto da vontade humana. Paulo escreveu: “Deus... resplandeceu em nosso coração para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo. Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” (2Co 4.6, 7). A glória da pregação é que Deus realiza sua vontade por intermédio dela, mas somos sempre humilhados e ocasionalmente confortados com o conhecimento de que ele age além das nossas limitações humanas.

Essas verdades desafiam todos os pregadores a conduzirem sua tarefa com um profundo senso de dependência do Espírito de Deus. Ministério eficaz requer devotada oração pessoal. Não devemos esperar que nossas palavras façam com que outras pessoas conheçam o poder do Espírito, se não desfrutamos ainda do encontro com ele. Pregadores fiéis rogam a Deus que opere e ao mesmo tempo proclamam sua Palavra. O sucesso no púlpito pode ser a força que leva um pregador para longe de uma vida piedosa de dependência do Espírito. Elogios congregacionais em razão da excelência no púlpito podem levar à tentação de depositar demasiada confiança em talentos pessoais, habilidades adquiridas ou num método pessoal de pregação. Sucumbir a tais tentações torna-se evidente, não tanto por uma mudança de opinião religiosa, como por uma mudança na prática. A negligência em orar é indicativa de sérias deficiências no ministério, mesmo que outros sinais de sucesso não tenham diminuído. Devemos sempre lembrar que aplauso popular não é necessariamente o mesmo que eficiência espiritual.

As dimensões espirituais da pregação expositiva desautorizam muito do que você pode ser tentado a crer a respeito deste livro, isto é, se você aprende a falar muito bem, pode ser um grande pregador. Não é verdade! Por favor, não deixe que ênfases necessárias deste livro, comentários de outros, ou desejos do seu próprio coração o desencaminhem. Grandes dons não o tornam grande pregador. A excelência técnica da mensagem pode repousar nas suas habilidades, mas a eficácia espiritual da sua mensagem reside em Deus.


Fonte: Extraído do excelente livro Pregação Cristocêntrica, de Brian Chapell, publicado pela Editora Cultura Cristã. [Clique aqui para comprar.]


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O Uso da Palavra “Amém”



por

Dr. R. Dean Anderson, Jr.





Aqui nas igrejas Reformadas (Libertadas) da Holanda, estamos em processo de repensar muitos aspectos da nossa liturgia. Uma das áreas sob estudo é o uso litúrgico da palavra “amém”. Muitas igrejas hoje em dia estão seguindo o conselho do nosso último Sínodo e introduzindo um “amém” comunal aos serviços de adoração. Por esta razão, as Sessões locais das igrejas onde eu sirvo (nas vilas de Katwijk e Valkenburg) também estudarão a conveniência do “amém” comunal na adoração. A razão do meu breve estudo com respeito ao uso da pequena palavra “amém” na Bíblia, é a discussão existente sobre mudanças na liturgia em nossas igrejas. Como resultado de decisões tomadas no recente sínodo em Berkel, estes assuntos também precisarão ser discutidos nas congregações locais de Katwijk e Valkenburg. Eu devo confessar que antes deste estudo, eu não suspeitava que chegaria às conclusões que são aqui apresentadas. Devo também adicionar que este breve artigo não é necessariamente a última palavra sobre este assunto. Contudo, creio que suscitei um assunto para se pensar.


O Significado da palavra “Amém”



A palavra “amém” vem de uma raiz hebraica que, em suas diversas formas verbais, pode significar: apoiar, ser leal, estar seguro, e pôr fé em algo. A partícula cognata “amém” é comumente traduzida como “verdadeiramente”. [1]

É interessante observar que essa palavra geralmente não é traduzida no (grego) Novo Testamento. As igrejas de língua grega, no primeiro século após Cristo, parecem ter se confrontado com uma palavra hebraica que não podia ser facilmente traduzida. A palavra “amém” certamente não é a única palavra que as novas igrejas usaram em sua forma original. Considere-se somente a palavra “Aba” (=pai); embora o uso desta palavra seja sempre imediatamente seguido por uma tradução (Marcos 14:36; Romanos 8:15; Gálatas 4:6). Com a palavra “amém”, isto não foi considerado necessário.

Todavia, Lucas algumas vezes traduz esta pequena palavra, quando ela é usada pelo Senhor de uma maneira muito especial, a saber, no início de uma sentença para enfatizar Suas palavras (veja nota). Lucas usa, então, algumas vezes a tradução, “em verdade” ou “verdadeiramente” (Lucas 4:25; 9:27; 12:44; 21:3). Mais adiante, em Apocalipse 1:7 e II Coríntios 1:20, e possivelmente Lucas 12:5, “amém” é traduzido como “sim” (=“certamente”). Na Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento vigente no tempo do Senhor Jesus), fora os livros apócrifos, a palavra “amém” é deixada sem tradução somente três vezes (1 Crônicas 16:36; Neemias 5:13;8:6).[2] Uma vez ela foi traduzida como “verdadeiramente” e as outras vezes como “assim seja”.[3] A tradução grega muito literal de Aquila (2º século depois de Cristo) sempre traduz “amém” como “verdadeiramente”.[4]

A tradução “assim seja” é apoiada no próprio Antigo Testamento, onde a palavra “amém” é seguida pelas palavras “Assim faça o Senhor” (1 Reis 1:36; Jeremias 28:6).

Além dessas indicações sobre o significado do “amém”, devemos olhar também para o uso desta palavra. O contexto no qual a palavra é usada é muito importante na determinação do seu significado.



O Uso no Antigo Testamento



A primeira coisa que nos impressiona no Antigo Testamento é o uso limitado da palavra “amém”. Nós a encontramos apenas trinta vezes, cinco das quais como uma palavra composta; então, há somente vinte e cinco passagens onde a encontramos. O uso da palavra pode ser categorizado sob quatro títulos, dos quais os dois primeiros são, com toda certeza, os mais importantes.

1. Aceitação de uma expressão de maldição (16 vezes). Quando os sacerdotes (ou outros oficiais) expressavam uma fórmula de maldição em nome do Senhor, então, a pessoa [ou pessoas] a quem tal fórmula era dirigida, aceitava as conseqüências dela com a palavra “amém” (Números 5:22; Deuteronômio 27:15- 26; Neemias 5:13; Jeremias 11:5).

2. Ocorrência simultânea com uma expressão de louvor ao Senhor (10 vezes). “Amém” é também usado depois de uma fórmula de baruch (louvor) pela pessoa que expressava a fórmula (Salmo 41:14; 72:19; 89:53), bem como por todos os que a ouviam (Salmos 106:48; 1 Crônicas 16:36; Neemias 8:6). Este tipo de fórmula de louvor tinha uma estrutura padrão e sempre começava com a palavra Baruch: traduzida como “Bendito/Louvado seja...”.

3. Ocorrência simultânea com uma profecia ou um anúncio feito por uma outra pessoa (2 vezes). Em Jeremias 28:6, Jeremias expressa concordância (sarcasticamente) com a (falsa) profecia de Hananias, nas palavras: “Amém! Assim faça o Senhor”. Em 1 Reis 1:36, Benaia concorda com o anúncio de Davi de que Salomão seria ungido como rei. Ele literalmente diz: “Amém! Assim o diga o Senhor, o Deus do rei, meu senhor”. O fato de que ambas estas passagens parecem traduzir a palavra amém pode dar a impressão de que estamos tratando com situações excepcionais.

4. Como uma característica de Deus. Em Isaías 65:16 o texto hebraico fala duas vezes de “o Deus do Amém”. Porque alguns acham difícil traduzir isso, freqüentemente muitos escolhem corrigir o texto para “o Deus da verdade”.[5]


Igualmente importante quando os textos onde encontramos a palavra “amém”, são os lugares onde ela não é usada. Dois pontos são dignos de nota. Primeiro, observamos que, embora “amém” seja freqüentemente usado com o significado de aceitação de uma fórmula de maldição, ela nunca é suada para aceitar uma bênção! Segundo, o “amém” nunca é usado para encerrar uma oração.



O Uso no Antigo Testamento



No Novo Testamento, a palavra “amém” é usada 129 vezes (estatísticas de acordo com a 4ª edição de Nestle/Aland). Este número pode, contudo, ser enganoso. Noventa vezes ela é usada pelo próprio nosso Senhor Jesus de uma maneira muito incomum. Ele freqüentemente começa uma sentença com esta palavra ou a usa para dar ênfase ao que Ele está dizendo (por exemplo, Mateus 7:28-29). Como nosso presente estudo diz respeito ao uso litúrgico da palavra “amém”, não aprofundaremos mais sobre a maneira de falar de Jesus.[6]

Além do precedente, esta palavra é usada trinta vezes. Quando aplicamos as mesmas categorias como usadas para o Antigo Testamento, então, vemos o seguinte:

1. Aceitação de uma expressão de maldição. Não há exemplos de fórmulas de maldição no Novo Testamento. Esta categoria não é, dessa forma, aplicável.

2. Ocorrência simultânea com uma expressão de louvor ao Senhor (23 vezes). Uma afirmação de louvor (algumas vezes, mas nem sempre, da mesma forma como usada no Antigo Testamento) é freqüentemente concluída com um “amém” pela pessoa que a expressa (Romanos 1:25; 9:5; 11:36; 16:27; Gálatas 1:5; Efésios 3:21; Filipenses 4:20; 1 Timóteo 1:17; 6:16; 2 Timóteo 4:18; Hebreus 13:21;1 Pedro 4:11; 5:11; 2 Pedro 3:18; Judas 1:25; Apocalipse 1:6; 7:12), bem como por aqueles presentes que a ouviam (1 Coríntios 14:16; 2 Coríntios 1:20; Apocalipse 5:14; 7:12; 19:4).

Em adição aos textos já citados, podemos adicionar Mateus 6:13, onde, de acordo com muitos manuscritos, uma expressão de louvor (seguida por “amém”) conclui a Oração do Senhor.

3. Ocorrência simultânea com uma profecia ou um anúncio feito por uma outra pessoa (2 vezes). Em Apocalipse 1:7 e 22:20, encontramos uma profecia/anúncio concluída com um amém. Na primeira passagem o amém é expresso pela pessoa que está fazendo o anúncio, o próprio João. Na segunda passagem João expressa um amém para a palavra do Senhor Jesus. Em Apocalipse 1:7 a palavra “amém” é usada em adição à sua tradução “sim” [Nota do Tradutor: como na Almeida Revista e Corrigida, edição 1995; algumas versões usam a tradução “certamente”]. Em Apocalipse 22:20, João repete as palavras com as quais ele concorda. Como no Antigo Testamento, também aqui a impressão dada é que esse é um uso extraordinário da palavra “amém”.

4. Como uma característica de Deus. Os textos de Isaías discutidos acima parecem receber um eco em Apocalipse 3:14, onde “o Amém” é usada como um título para Jesus.

Em adição a estas categorias podemos adicionais mais duas...

5. Confirmação de uma fórmula de bênção. Uma fórmula de bênção (saudação) é freqüentemente confirmada com um “amém” conclusivo pela pessoa que está dando a bênção (cf. Romanos 15:33; Gálatas 6:18). Muitos manuscritos adicionam também um “amém” aos seguintes textos: Romanos 16:24; 1 Coríntios 16:24; 2 Coríntios 13:14; Filipenses 4:23; Colossenses 4:18; 1 Tessalonicenses 5:28; 2 Tessalonicenses 3:18; 2 Timóteo 4:22; Tito 3:15; Filemon 1:25; Hebreus 13:25; 1 Pedro 5:14; Apocalipse 22:21.

6. Como uma conclusão. Assim como na categoria anterior a palavra “amém” foi usada como uma conclusão, ela é também usada como tal em muitos manuscritos das duas primeiras cartas de João (sem uma palavra precedente de louvor ou bênção). O mesmo acontece com Marcos 16:9 no assim chamado breve final do evangelho. Este uso da palavra amém era freqüentemente empregado na igreja cristã primitiva. Desta forma, o “amém” marca o final da história ou da carta [Nota do Tradutor: em algumas versões não, como por exemplo, na Almeida Revista e Atualizada].





Conclusões



O uso mais freqüente da palavra “amém”: é afirmar louvor ao Senhor. Isto pode ser expresso pelo orador bem como pelos ouvintes.

É um fato considerável que a palavra “amém” nunca é usada na Bíblia para afirmar uma bênção direta a si mesmo.[7] Eu sugeriria que isto pode ser considerado arrogante, e, portanto, inapropriado. Se alguém é tão amável a ponto de dizer algo bom sobre mim, seria muito rude responder com “Amém, isto é certo e verdadeiro”! Isto certamente se aplicaria a uma bênção recebida do Senhor. A prática, que está se tornando mais e mais popular, de permitir a congregação inteira dizer “amém” após a benção no final do serviço de adoração deveria ser rejeitada. Se um amém deve ser expresso após a bênção, então, deveria ser falado pelo ministro/presbítero como um tipo de conclusão, de acordo [8] com os exemplos na categoria 5 acima.

Igualmente considerável é o fato que “amém” nunca é usado para concluir qualquer oração na Bíblia. Na Oração do Senhor o “amém” afirma a expressão de louvor que conclui a oração. Eu não sei quando, no curso dos séculos, tornou-se comum o uso do “amém” como uma conclusão para uma oração.[9] Para nós, isto tem uma vantagem prática, visto que oramos com os olhos fechados. Nos tempos da Bíblia, os homens oravam levantando os seus olhos para os céus, com os braços estendidos. Isto significa que todo mundo poderia olhar quando a oração terminava. Isto não é tão fácil quando tudo está com os seus olhos fechados.

Na igreja cristã primitiva, a vasta maioria das orações terminava com uma expressão de louvor concluída com um “amém” acompanhado (seguindo o exemplo da Oração do Senhor), e isto é possivelmente uma boa idéia para nós. Embora não seja requerido, é apropriado concluir nossa oração com uma expressão de louvor. O “amém” conclusivo também receberia, então, um significado mais rico.

Eu também tenho umas poucas observações com respeito à nossa liturgia. Se é inapropriado dizer “após” uma bênção dirigida a nós mesmos, então, o “amém” após o voto, é também inapropriado. O voto (“Nosso socorro está no nome do Senhor...”) é expresso pelo ministro/presbítero em nome da congregação. A congregação expressa sua dependência de Deus, de Sua bondade e de Sua graça, pela quais Ele deseja ser o nosso socorro. Seria possível, contudo, que toda a congregação expressasse o voto!

Nem a expressão do “amém” após a saudação, no início do serviço, segue exemplos bíblicos. Quando isto ocorre é como um resultado dos usos observados na categoria 5. Certamente ele não pode ser expresso pela congregação, visto que a saudação traz uma bênção pretendida para a própria congregação.

Nas liturgias em uso por nós, no presente, não tem um lugar separado para uma expressão falada de louvor ao Senhor. Isto não significa que não possamos encontrar expressões de louvor ao Senhor nos nossos serviços de adoração (considere os salmos, orações, etc.), mas estas não formam uma parte separada da liturgia. Não era assim nos serviços na sinagoga, por volta do tempo do Senhor Jesus. Eles começavam com tal expressão de louvor. Este uso de uma fórmula de louvor na forma cristã foi copiada pelos apóstolos, os quais freqüentemente começavam suas cartas desta forma (cf. 2 Coríntios 1:3-5; Efésios 1:3-14; 1 Pedro 1:3-5). A mais bem conhecida fórmula de baruch (louvor) no Novo Testamento, é provavelmente a primeira metade do assim chamado Cântico de Zacarias (Lucas 1:68- 75).[10] Eu gostaria de sugerir aos representantes de liturgia que uma fórmula de louvor (possivelmente a partir dos textos mencionados acima) poderia seguir a saudação.

Desta forma, poderíamos dar forma à uma parte da liturgia, à partir da sinagoga judaica, que era usada pelos apóstolos e freqüentemente ecoada nos salmos (por exemplo, Salmo 72:18-18; 144:1-2; etc.). Se este elemento permanecer ausente na liturgia, é ainda possível terminar o sermão com uma expressão de louvor. Seria muito proveitoso para toda a congregação concluir tal expressão de louvor com o seu “amém”. Os textos listados acima mostram que tanto no Antigo como no Novo Testamento, era comum para a congregação toda expressar, de forma comunal, o seu “amém”.

MELHOR COISA DO MUNDO PARA SE DESEJAR




“Respondeu Jacó: Não te deixarei ir se não me abençoares (...) Então disse:Já não te chamarás Jacó e sim Israel, pois como príncipe lutaste com Deus ...”Gênesis 32.26, 28O


Jacó que partiu da casa de seus pais era bem diferente daquele que estava voltando com a sua família vinte anos mais tarde. O que partiu fez a seguinte proposta para Deus: se me abençoares, te servirei (Gn 28.20-22). Pensava numa relação de toma-lá-dá-cá com o Senhor.

O que voltou, lutou com Deus no vale do rio Jaboque para não mais viver sem a sua bênção, sabendo que nada poderia oferecer em troca dela.Por isso, teve o nome modificado de Jacó (o usurpador ou o enganador) para Israel, aquele que luta com Deus, porque desejava, acima de tudo, a sua bênção.Israel estava certo: não há nada mais importante do que caminhar debaixo da bênção divina.

Esta convicção decorre de que:

1) A ausência da bênção de Deus resulta em desperdícioNo livro de Eclesiastes, é dito que o rei Salomão resolveu fazer, sem consultar o Senhor, tudo o que desejava o seu coração: entregou-se à bebida para experimentar da sua alegria; fez as construções que intentou para o seu reino; teve os bens, os servos, as mulheres e os prazeres que desejou.

As conclusões que chegou, após considerar todas as coisas que havia feito, foram:

a) tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol (Ec 2.11);

b) tudo o que se tem ouvido a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos (Ec 12.13)Em outras palavras, afirmamos que viver sem a bênção divina é praticar a teologia do desperdício, ou seja, é desperdício de tempo, de forças, de sonhos e de vida.

2) A bênção divina traz privilégiosA bênção de Deus faz com que atinjamos os objetivos dele para a nossa vida. E os objetivos de Deus são sempre o melhor para nós.José foi para o Egito como escravo e ali esteve preso. Porém, a bênção do Senhor, que com ele estava, o conduziu ao governo daquele país, porque Deus tinha um propósito em sua vida: o de ser o sustentador de sua família.Desta maneira, não há privilégio maior do que saber que Deus nos conduz, mesmo em meio a tribulações, ao cumprimento da sua vontade quando caminhamos debaixo de sua bênção.

3) É necessário, porém, desejá-la para obtê-laComo Jacó, não podemos sair da presença de Deus até possuirmos a convicção de que dela somos beneficiados.Certa feita quis ajudar uma pessoa com dependência química levantando recursos para o pagamento do seu tratamento. Em meio à agitação para obter o que empreendia, minha esposa fez uma pergunta simples: “Ele deseja ser tratado e se curar?”Ponderei e reconheci que a vontade era mais minha do que dele. Desta forma, não haveria tratamento que desse resultado positivo. Com a bênção de Deus acontece o mesmo, é preciso desejá-la de todo o coração para obtê-la. Espero que seja essa a nossa realidade, porque não há coisa melhor no mundo para se desejar do que viver debaixo da bênção divina.Rev.

Ismael Rachid Júnior

A Regeneração Precede a Fé


R.C. Sproul


Um dos momentos mais dramáticos em minha vida no tocante à formação da minha teologia ocorreu em uma sala de aula do seminário. Um de meus professores foi para o quadro-negro e escreveu estas palavras em letras bem destacadas: "A regeneração precede a fé."
Estas palavras foram um choque para o meu sistema. Eu tinha entrado no seminário crendo que a ação chave do homem para efetuar o seu renascimento era a fé. Eu pensava que precisávamos crer em Cristo primeiro para depois nascer de novo. Eu uso as palavras em ordem aqui por uma razão. Eu pensava em termos de passos que devem ser dados em certa seqüência. Eu tinha posto a fé no início. A minha ordem era algo como:


"Fé - renascimento - justificação"


Eu não tinha pensado no assunto com muita profundidade. Também não tinha escutado cuidadosamente as palavras de Jesus a Nicodemos. Presumi que embora eu fosse um pecador, uma pessoa nascida da carne e vivendo na carne, eu ainda tinha uma pequena ilha de retidão, um minúsculo depósito de poder espiritual restando dentro da minha alma que me permitisse responder ao Evangelho por mim mesmo. Talvez eu tenha sido confundido pelo ensino da igreja católica romana. Roma, e muitos outros ramos do cristianismo, sempre ensinou que a regeneração é pela graça; não pode acontecer sem a ajuda de Deus.


"O debate entre Roma e Lutero girou em torno deste único ponto. O debate era: A regeneração é um trabalho monergístico de Deus ou um trabalho de sinergístico que requer a cooperação entre o homem e Deus?"


Nenhum homem tem o poder de levantar-se da morte espiritual. A ajuda divina é necessária. Esta graça, de acordo com Roma, aparece na forma do que é chamado graça preveniente. "Preveniente" significa aquilo que vem de alguma outra coisa. Roma acrescenta a esta graça preveniente a exigência de que nós temos que “cooperar e consentir com isso” antes que ela possa tomar conta dos nossos corações.
Este conceito de cooperação é, na melhor hipótese, uma meia-verdade. Sim, a fé que nós exercitamos é nossa fé. Deus não executa o crer para nós. Quando eu respondo a Cristo, é minha resposta, minha fé, minha confiança que está sendo exercida. Porém, o problema é um pouco mais profundo. A pergunta ainda permanece: "Eu coopero com a graça de Deus antes de nascer de novo, ou a cooperação acontece depois?" Outro modo de fazer esta pergunta é perguntar se a regeneração é monergística ou sinergística. É operativa ou cooperativa? É eficaz ou dependente? Algumas destas palavras são termos teológicos que requerem alguma explicação adicional.
Uma obra monergística é uma obra produzida isoladamente, por uma pessoa. O prefixo mono significa um. A palavra erg refere-se a uma unidade de trabalho. Palavras como energia são construídas sobre esta raiz. Uma obra sinergística é aquela que envolve cooperação entre duas ou mais pessoas ou coisas. O prefixo sin - significa "junto com”. Estou elaborando esta distinção por uma razão. O debate entre Roma e Lutero girou em torno deste único ponto. O debate era: A regeneração é um trabalho monergístico de Deus ou um trabalho de sinergístico que requer a cooperação entre o homem e Deus? Quando meu professor escreveu que "A regeneração precede a fé" no quadro-negro, ele estava apoiando claramente a resposta monergística. Depois que uma pessoa é regenerada, é que ela coopera exercendo fé e confiança. Mas o primeiro passo é obra de Deus e de Deus somente.
A razão porque nós não cooperamos com a graça da regeneração antes que ela aja em nós e sobre nós é porque nós não temos como fazê-lo. Nós não temos como fazê-lo porque estamos espiritualmente mortos. Não temos como ajudar o Espírito santo na vivificação de nossas almas para a vida espiritual mais do que Lázaro podia ajudar a Jesus a elevá-lo dos mortos.


Enquanto eu relutava contra o argumento do Professor, fui pego de surpresa ao aprender que o ensino dele, que soava tão estranho, não era nenhuma novidade. Agostinho, Martinho Lutero, João Calvino, Jonathan Edwards, George Whitefield e até mesmo o grande teólogo medieval Tomás de Aquino ensinaram esta doutrina. Tomás de Aquino é o Doctor Angelicus da igreja católica romana 1. Durante séculos seu ensino teológico foi aceito como dogma oficial pela maioria dos católicos. Por isso ele era a última pessoa que eu esperava que sustentasse tal visão da regeneração. Entretanto Aquino insistia que a graça regeneradora é graça operativa, e não graça cooperativa. Aquino falou de graça preveniente, mas ele falou de uma graça que vem antes da fé, que é a regeneração.
Estes gigantes da história do cristianismo derivaram sua visão das Santas Escrituras. A frase chave na carta de Paulo aos Efésios é esta: "... e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, —pela graça sois salvos." (Ef. 2:5).

Aqui Paulo fixa o momento em que a regeneração acontece. Ela ocorre quando “nós estávamos mortos”. Com um único relâmpago de revelação apostólica todas as tentativas de conceder a iniciativa na regeneração ao homem são esmagadas. Portanto, homens mortos não cooperam com a graça. A menos que a regeneração aconteça primeiro, não há nenhuma possibilidade de fé.
Isso não é nada diferente do que Jesus disse a Nicodemos. A menos que um homem nasça de novo primeiro, ele não tem chance de ver ou de entrar no reino de Deus. Se acreditarmos que a fé precede a regeneração, então posicionamos o nosso pensamento e, portanto, a nós mesmos, em oposição direta não só aos gigantes da história cristã, mas também ao ensino de Paulo e até mesmo do nosso próprio Senhor.


"Com um único relâmpago de revelação apostólica todas as tentativas de conceder a iniciativa na regeneração ao homem são esmagadas."

O que é a Igreja? Uma visão reformada.

Por
Augustus Nicodemus Lopes

A igreja de Deus existe e está presente no mundo. O Senhor Jesus falou dela, quando disse aos discípulos que “edificaria sua igreja” (Mt 16.13-20) e quando determinou que os discípulos faltosos fossem corrigidos pela “igreja” (Mt 18.17). Podemos definir a igreja de Cristo como sendo a comunhão de todos os que foram chamados por Deus, mediante a sua Palavra, e que pela ação do Espírito Santo recebem a Cristo como único Salvador e Senhor, que conhecem e adoram a Deus Pai, Filho e Espírito Santo, em verdade, e que participam pela fé dos benefícios gratuitos oferecidos por Cristo.

A igreja é una, ou seja, só existe uma. Cristo sempre teve somente uma noiva: “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (Ef 5.25). Ao mesmo tempo, ela é universal, está espalhada pelo mundo todo, e tem pessoas de todas as tribos, povos, e raças (Ap 7.9-10). Isto não quer dizer que a igreja de Cristo é do tamanho do mundo. Existe uma diferença radical entre a igreja e o mundo. A igreja está no mundo, mas não é dele. Jesus orou pela igreja mas não pelo mundo (Jo 17.9).

A igreja de Deus sempre existiu e sempre existirá. Deus sempre teve e terá um povo para Si, para o adorar em espírito e em verdade. A igreja de Deus, porém, atravessou duas fases históricas distintas. No período antes de Cristo ela estava grandemente resumida à nação de Israel, e funcionava com rituais, símbolos e ordenanças determinadas por Deus, como figuras e tipos de Cristo. Com a vinda de Cristo e do Espírito no dia de Pentecostes, estas cerimônias foram abolidas, e agora adoramos a Deus de forma mais simples. Porém, é a mesma igreja, o mesmo povo, no Antigo e no Novo Testamentos. Antes de Cristo, os crentes em Israel se salvaram pela fé no Messias que haveria de vir. Depois de Cristo, somos salvos pela fé no Messias que já veio. O autor de Hebreus inclui na mesma relação dos heróis da fé os crentes do Antigo e do Novo Testamento (veja especialmente Hb 11.39-40).

A igreja de Deus, mesmo sendo una e indivisível, existe agora em duas dimensões: (1) a igreja militante, composta dos crentes vivos neste mundo, que ainda estão lutando contra a carne, o pecado, o mundo e Satanás; e (2) a igreja triunfante, composta daqueles fiéis que, tendo vencido a luta, já partiram deste mundo, e hoje desfrutam do triunfo na presença de Deus (Hb12.22-23). Estas duas partes da igreja de Deus se unirão na Vinda do Senhor Jesus, quando houver a ressurreição dos mortos, e nosso encontro com o Senhor, para com Ele ficarmos para sempre, e com nossos irmãos de todas as épocas e de todas as partes do mundo (1Tess 4.16-18).

A igreja militante se expressa aqui neste mundo por meio de igrejas locais. Paulo escreveu cartas a várias destas igrejas, como a de Corinto, Tessalônica, etc. (1Co 1.2; 1Ts 1.1). Igrejas locais são a organização dos crentes, ainda que informal, que se reúnem regularmente para cultuar a Deus, serem instruídos em Sua Palavra, se edificarem mutuamente e celebrar os sacramentos. As igrejas têm direção e liderança espiritual, promovem cultos de adoração, celebram os sacramentos, anunciam o Evangelho e praticam boas obras. Estas igrejas locais podem ter um aspecto estrutural e organizacional, mas jamais devem ser consideradas como um clube ou uma empresa, e nem os interesses organizacionais devem sobrepujar os interesses do Reino de Deus.

Estas igrejas locais podem ser mais ou menos puras, dependendo de quão pura é a pregação do Evangelho que ocorre ali, a celebração correta dos sacramentos e o exercício da disciplina entre seus membros.

É tarefa de cada igreja particular reformar-se continuamente à luz da Palavra de Deus, procurando cada vez mais aproximar-se do ideal bíblico. São os princípios bíblicos que são imutáveis, não as formas organizacionais e externas. As igrejas locais devem zelar pela pureza da pregação, da celebração dos sacramentos e pela vida espiritual e moral daqueles que ali se congregam.

A Cruz de Cristo

por

Augustus Nicodemus Lopes

A morte de Cristo na cruz é um fato central para o cristianismo. É interessante que é da palavra latina “cruz” que vem a palavra “crucial”, isto é, central, importante. Para os budistas, não importa muito como Buda faleceu, mas faria toda a diferença do mundo para os cristãos se Jesus tivesse morrido de um ataque cardíaco nas praias do Mar da Galiléia e não crucificado no alto do Gólgota.

A cruz é o símbolo universal do cristianismo, mesmo num mundo onde mais e mais ela tem perdido o seu significado. Numa pesquisa recente feita na Austrália, Alemanha, Índia, Japão, Reino Unido e Estados Unidos, ficou claro que o símbolo da MacDonalds (o arco dourado) e o da Shell (uma concha amarela) eram muito mais conhecidos do que a cruz.

Muitos dos que a identificam ofendem-se com ela. A cruz de Cristo é motivo de ofensa para muitos hoje, como foi na época em que os primeiros cristãos começaram a falar dela como o caminho de Deus para a salvação. O apóstolo Paulo escreveu:

“Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus . . . nós pregamos a Cristo crucifica¬do, escândalo para os judeus, loucura para os gentios” (1 Coríntios 1:18,23).

A feminista Deloris Williams é um exemplo moderno de pessoas que se ofendem com a cruz. Ela declarou: “Acho que não precisamos de uma teoria em que os pecado têm que ser pagos pela morte de alguém. Acho que não precisamos de um cara pendurado numa cruz, sangrando, e outras coisas desse tipo” (1999, conferência Re-Imagining God).

Podemos compreender a repulsa natural que as pessoas sentem pela cruz. A execução por morte de cruz era algo terrivelmente cruel. Na verdade, era sadismo legalizado. Foi provavelmente uma das formas mais depravadas de execução jamais inventada pelo homem. Nada mais era que morte lenta por tortura. E realmente funcionava. Ninguém jamais sobreviveu a uma crucificação.

Mas para os que crêem, a cruz faz perfeito sentido. A salvação do homem só pode ocorrer através de uma satisfação dada à lei de Deus, que o homem quebrou e tem quebrado sempre. Somente Deus pode perdoar. Mas somente o homem pode pagar. Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, colocou-se no lugar do homem, como representante dos que crêem, e sofreu a penalidade merecida, satisfazendo a justiça divina.

Até mesmo pensadores não cristãos afirmam a necessidade da punição merecida. O pesquisador C. A. Dinsmore examinou as obras de Homero, Sófocles, Dante, Shakespeare, Milton, George Elliot, Hawthorne e Tennyson, e chegou à seguinte conclusão: “É um axioma universal na vida e no pensamento religioso que não pode haver reconciliação sem que haja satisfação dada pelo pecado” ("Atonement in Literature and Life" republicado 2013), .

Portanto, para os que crêem, a cruz é mais que um símbolo a ser levado no pescoço ou pendurado nas paredes da igreja. É o caminho de Deus para salvar todo aquele que crê.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Convite: A Grande Festa

por
J. C. Ryle

“De novo entrou Jesus a falar por parábolas, dizendo-lhes: O reino dos céus é semelhante a um rei que celebrou as bodas de seu filho. Então enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas: mas estes não quiseram vir.

Enviou ainda outros servos com este recado: Dizei aos convidado: Eis que já preparei o meu banquete: os meus bois e cevados já foram abatidos, e tudo está pronto; vinde para as bodas. Eles, porém não se importaram, e se foram, um para o seu campo, outro para o seu negócio; e outros, agarrando os servos, os maltrataram e mataram.

O rei ficou irado e, enviando as suas tropas, exterminou aqueles assassinos e lhes incendiou a cidade. Então disse aos seus servos: Está pronta a festa, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, para as encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas a quantos encontrardes. E, saindo aqueles servos pelas estradas, reuniram todos os que encontraram, maus e bons; e a sala do banquete ficou repleta de convidados. Entrando, porém, o rei para ver os que estavam à mesa, notou ali um homem que não trazia veste nupcial, e perguntou-lhe: amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? E ele emudeceu. Então ordenou o rei aos serventes: Amarrai-o de pés e mãos, e lançai-o para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes. Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mt 22: 1 a 14).

A parábola retratada nestes versículos tem uma significação muito ampla. Primeiramente ela aponta para os judeus, mas ela se estende a todos aqueles para quem o evangelho é pregado, perscrutando corações.

Observemos, em primeiro lugar, que a salvação anunciada no evangelho é comparada a uma festa de casamento. O Senhor Jesus nos fala de “um rei que celebrou as bodas de seu filho”.

Existe no evangelho uma farta provisão para todas as necessidades da alma humana. Há um suprimento de tudo quanto se requer para aliviar a fome e sede espiritual. Perdão, paz com Deus, uma viva esperança neste mundo, glória no mundo vindouro, são bênçãos retratadas diante dos nossos olhos em rica abundância. Toda esta provisão é devida ao amor manifestado pelo Filho de Deus, Jesus Cristo, nosso Senhor. Ele deseja nos unir a si mesmo, restaurar-nos à família de Deus como filhos queridos, vestir-nos com a sua própria justiça, dar-nos uma posição em seu reinado e nos apresentar inculpáveis perante o trono de seu Pai, no último dia. O evangelho, em suma, é uma oferta de pão para o faminto, de alegria para o triste, de um lar para o desprezado, de um amigo para o perdido. O evangelho é boas novas. Deus oferece identificar-se com o homem pecador, mediante seu Filho querido. Jamais nos esqueçamos: “Nisto consiste o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou, e enviou o Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 4:10).

Em segundo lugar, tomemos nota do fato que os convites do evangelho são amplos, plenos, generosos e ilimitados. Nesta parábola, o Senhor Jesus nos conta que os servos disseram aos convidados: "Tudo está pronto; vinde para as bodas". Da parte de Deus não há nada faltando para a salvação da alma dos pecadores. Ninguém jamais poderá dizer, no fim, que foi por culpa de Deus que não se salvou. O Pai está pronto para amar e acolher. O Filho está pronto para perdoar e limpar de toda culpa. A graça está pronta para assisti-lo. A bíblia está pronta para instrui-lo. O céu está pronto para ser o seu lar eterno. Só uma coisa é necessária: que o próprio pecador esteja desejoso de ser salvo. Que não fiquemos debatendo e perdendo-nos em minúcias acerca deste assunto tão simples. Deus sempre será achado inocente do sangue de todas as almas perdidas. O evangelho sempre fala dos pecadores como seres responsáveis e que terão de prestar contas a Deus. O evangelho coloca uma porta aberta diante de toda humanidade. Ninguém está excluído desse convite universal. Embora eficaz somente para os que crêem, ele é suficiente para a humanidade inteira. Embora poucos são os que entram pela porta estreita, todos são igualmente convidados a entrar por ela.

Em terceiro lugar, notemos que a salvação oferecida pelo evangelho é rejeitada por muitos daqueles a quem ela é oferecida. O Senhor Jesus nos conta que os convidados, chamados pelos servos do rei, “não se importaram e se foram”.

Há milhares de ouvintes (leitores) do evangelho que em nada se beneficiam dele. Eles ouvem (lêem), ano após ano, mas não crêem para a salvação de sua alma. Eles não sentem qualquer necessidade especial do evangelho. Não vêem qualquer beleza especial nele. Talvez não cheguem a odiar, nem façam oposição ao evangelho. Porém, não o recebem no coração. Há outras coisas de que eles gostam muito mais. Seu dinheiro, suas terras, seus negócios e seus prazeres são todos assuntos muito mais interessantes para ele do que a salvação da alma. Esse é um estado mental deplorável, porém horrivelmente comum. Que nós examinemos o nosso próprio coração, e tomemos o cuidado de que esse não seja também o nosso. O pecado notório pode matar os seus milhares, mas a indiferença e a negligência ao evangelho matam os seus dez milhares. Multidões se verão no inferno, não tanto porque desobedeceram abertamente aos dez mandamentos, mas porque fizeram pouco caso da verdade. Cristo morreu por eles na cruz, mas eles O negligenciaram.

Em último lugar, observemos que todos quantos professaram falsamente a religião cristã serão detectados, desmascarados e condenados eternamente, no último dia. O Senhor Jesus nos conta que, quando finalmente chegaram os convidados para as bodas, o rei entrou para ver os que estavam às mesas, e “notou ali um homem que não trazia veste nupcial”. O rei perguntou ao homem como este havia entrado, vestido impropriamente, mas não obteve qualquer resposta. Ordenou então o rei a seus servos: "Amarrai-o de pés e mão, e lançai-o para fora, nas trevas".

Sempre haverá alguns falsos membros na igreja de Cristo, enquanto o mundo existir. Nesta parábola, aquele único expulso representa todos os demais que serão expulsos. É impossível lermos os corações dos homens. Enganadores e hipócritas nunca serão totalmente excluídos do meio de verdadeiros cristãos. Desde que uma pessoa professe obediência ao evangelho e viva uma vida externamente correta, não ousamos afirmar categoricamente que tal pessoa não esteja justificada por Cristo. Entretanto, não haverá qualquer dúvida, no dia do juízo. O olho infalível de Deus irá discernir quem é do seu povo e quem não é. Coisa alguma, senão a fé verdadeira, será capaz de subsistir ao fogo do julgamento. Todo e qualquer cristianismo espúrio será pesado na balança e achado em falta. Ninguém, senão os verdadeiros fiéis, participará da ceia das bodas do Cordeiro. Ao hipócrita de nada valerá ter falado muito sobre religião e ter tido reputação de ser um cristão eminente entre os homens. O seu triunfo não perdurará. Ele será despido de toda a sua plumagem emprestada, e ficará nu e trêmulo perante o tribunal de Deus - mudo, condenado por si mesmo, sem esperança e sem salvação. Ele será lançado nas trevas exteriores, em opróbrio, colhendo assim aquilo que semeou em vida. O Senhor Jesus disse que "ali haverá choro e ranger de dentes".

Que nós aprendamos sabedoria através dos quadros desta parábola, e sejamos diligentes em procurar confirmar a nossa vocação e eleição (1 Pe 1:10). A nós, também, é dito; “Tudo está pronto; vinde para as bodas”. Tenhamos cuidado de não recusar ao que fala (Hb 12:25). Não durmamos como os demais; pelo contrário, vigiemos e sejamos sóbrios (1 Ts 5:6). O tempo urge. O Rei em breve entrará para ver os convidados. Já recebemos ou não a veste nupcial? Já nos revestimos de Cristo? Essa é a grande indagação levantada por esta parábola. Que jamais descansemos enquanto não pudermos dar uma resposta satisfatória a essa pergunta. Que estas palavras soem diariamente em nossos ouvidos, e nos sondem o coração: “Muitos são chamados, mas poucos escolhidos”.

Fonte: Meditações no Evangelho de Mateus — Editora FIEL.