sábado, 18 de julho de 2015
O DEVER BÍBLICO DE JULGAR
Por
Alexandre Amin
Introdução
O fraco e falho argumento de que cristãos não devem julgar já ultrapassou o clichê. Dito por aqueles que, na maioria das vezes, não dedicaram tempo algum para fundamentar esta opinião. Na verdade, pensar em pessoas que não dedicam tempo para fundamentar suas opiniões é um pleonasmo neste século e neste país. O que mais vemos são argumentos sem embasamento, crendices tolas fundamentadas no vácuo. Parece que a tecnologia progride na mesma velocidade da regressão mental da população. Mas não vamos julgar!rs rs rs.
A falácia do partido dos tolerantes não é apenas vã na perspectiva bíblica, pois para onde caminharia uma sociedade que aceita tudo? Onde estaria o povo que não exerce sua capacidade crítica? O que seria da justiça se a relativização moral fosse levada ao pé da letra? Deveriam, então, ser extintos os tribunais e soltos os criminosos?
Não julgueis?
Mas vamos ao que interessa, a perspectiva bíblica. O texto de Mateus 7:1ss é, sem dúvida, o mais citado contra a atitude de julgar. “Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados” (v.1-2). Mas o que poucos percebem é que neste texto Jesus está exortando contra um qualidade específica de julgamento, o hipócrita. Veja que no versículo 3 ele se refere a “argueiro” (cisco) e “trave” (viga de madeira); a intenção aqui é mostrar que o julgador pratica o mesmo pecado que aquele a quem ele está julgando, mas em uma intensidade superior. Ambos estão em pecado, e pecados da mesma natureza. Exemplificando, como poderia um homem que está traindo sexualmente sua esposa julgar arrogantemente um adolescente que tem lutado com seu olhar para com as meninas? (E por favor, não diga que para Deus não existe “pecadinho”nem “pecadão”, pois este argumento não cabe aqui. O sangue de Cristo justifica todos os pecados de quem se arrepende, não importa o grau; mas perante a Lei de Deus os pecados são diferenciados, tanto que as consequências destes são diferentes). Continuando no versículo 5, Jesus diz: “Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão”. Percebe? Depois de tratado o pecado, podemos, e devemos, olhar para o cisco do olho de nosso irmão, mas com a intenção sincera de retirá-lo; e isso significa ajudá-lo a vencer o pecado que, graças a atuação do Espírito Santo, nós temos vencido.
Atirar a primeira pedra!
Outro texto comumente citado é o da mulher adúltera: “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire a pedra. [...] Ninguém te condenou? [...] Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais” (Jo 8:7,10,11). O que seriam as pedras? Julgamento ou condenação? A diferença aqui é clara; Jesus mesmo julgou a mulher quando disse “não peques mais”. Para Cristo, o pecado da mulher estava claro, e este pôde ser percebido por muitos outros, que estavam certos em julgá-la. A questão é que os acusadores tinham passado do julgamento para a condenação, e é contra isto a que Jesus se opõe. Condenar um pecador não cabe a nós, exceto em raras ocasiões de disciplina eclesiástica, como o apóstolo Paulo orienta aos coríntios (1 Co 5:3-5).
O dever de julgar
Mesmo interpretando estes textos complicados à luz do contexto histórico, muitos ainda continuam defendendo a postura tolerante. O problema é que não apenas estes textos não falam contra julgar, como há outros textos que nos orientam a fazê-lo.
No livro de Levítico, Moisés orientou o povo a que expusesse o pecado alheio, para que o mesmo fosse julgado corretamente; quem não o fizesse seria tido como cúmplice de tal pecado. “Quando alguém pecar nisto: tendo ouvido a voz da imprecação, sendo testemunha de um fato, por ter visto ou sabido e, contudo, não o revelar, levará a sua iniquidade” (Lv 5:1).
Julgar também envolve sabedoria, tanto que o rei Salomão ao pedir sabedoria a Deus, também pede: “Dá, pois, ao teu servo coração compreensivo para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; pois quem poderia julgar a este grande povo?” (1 Rs 3:9).
Como já citado anteriormente, Paulo exortou a igreja de Corinto a julgar os que estavam vivendo em impureza, e expulsá-los do meio dos crentes; “Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor” (1 Co 5:13). Ainda na mesma carta, diz: “Falo como a criteriosos; julgai vós mesmos o que digo” (1 Co 10:15). Aos tessalonicenses: “Julgai todas as coisas, retende o que é bom” (1 Ts 5:21). Aos de Éfeso: “E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as” (Ef 5:11). E uma das frases mais duras do apóstolo: “Se alguém vos pregar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema [maldito]” (Gl 1:9).
Jesus também abordou este assunto, quando disse: “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores” (Mt 7:15). E no Evangelho de João: “Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça” (Jo 7:24).
Também é interessante notar que o povo da cidade de Bereia foi elogiado por Lucas como sendo nobres, por julgarem o que tinham ouvido de Paulo e Silas; e tendo examinado, creram, recebendo o Evangelho. “Ora, estes de Bereia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim” (At 17:11).
Creio que depois de citar estes textos, cabe agora um esclarecimento mais sistemático sobre o que julgar. Segundo o Rev. Doug Kuiper, devemos (1) julgar práticas e ensinos, se estão de acordo com a Palavra de Deus; (2) julgar o pecado como sendo pecado; (3) julgar nossos próprios pecados, para não cair em hipocrisia, e estar sempre de acordo com a reta justiça. E ainda acrescento um último ponto: (4) julgar em amor.
O perigo de não julgar
O discurso de não julgar esconde muitos perigos. Creio que o principal se manifesta na seguinte frase: “Como podemos julgar, se não somos os donos da verdade?”. Não sei se você percebe a contradição de um cristão fazer uso de tal discurso. A grande burrice desta frase é que se não podemos saber a verdade, como sabemos que Cristo é a verdade? Se fomos deixados à mercê de qualquer certeza, como podemos crer na remissão dos pecados, no retorno glorioso de Cristo, na vida eterna?
A Palavra de Deus é a verdade, e por meio dela podemos sim conhecer a verdade. “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2 Tm 3:13). E quanto às palavras de Cristo: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17:17); “Eu sou o caminho, a verdade, e a vida: ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14:6); “e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8:32). Ainda há outro texto impressionante a respeito da verdade: “Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1 Jo 5:20).
Utilizo-me mais uma vez da proposta de Kuiper, quando ele diz que a visão da tolerância é perigosa, ímpia e anti-bíblica. (1) Perigosa, pois leva à acomodação adicional da igreja com o mundo, em violação ao seu chamado (Rm 12:2). (2) Ímpia pelo fato de rejeitar Jeová como o Deus cuja Palavra é o padrão para a vida e doutrina. (3) Anti-bíblica, pois a Bíblia ensina sim que podemos, e devemos julgar.
Conclusão
Precisamos, como cristãos maduros, e não como crianças espirituais, ter nossa fé muito bem fundamentada, e entender que podemos sim ter certeza a respeito das verdades espirituais; não podemos entender tudo de forma exaustiva, por conta da limitação da nossa mente, mas Deus nos dá o entendimento de tudo o que é necessário para a nossa salvação, para a vida diária da igreja, para a correção, instrução na justiça e para a preservação do Evangelho de Cristo.
Não posso terminar sem deixar de enfatizar que julgar precisa ser em amor! O livro de 1 João deixa isto muito bem claro, quem odeia o seu irmão prova que o amor de Deus não está em si, pois Deus é amor. Amar e julgar não são atitudes antagônicas, mas arrogância e vanglória são opostos ao amor cristão.
“E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo, cheios do fruto da justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus” (Fp 1:9-11).
Fonte:http://diarioreformado.com/
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