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sexta-feira, 26 de junho de 2015

Creio: no Pai, no Filho e no Espírito Santo.


Neste livro o Pr. Hermisten Maia comenta o Credo Apostólico em detalhes e apresenta toda sua riqueza teológica e devocional.

Baixe este livro e seja ricamente abençoado pela leitura.






Ministério feminino

Tema: Se Febe era diaconisa, por que algumas igrejas não aceitam ministério feminino?
Convidados da noite: Pr. MARCO AURÉLIO DE BRITO e o Rev. AGEU CIRILO DE MAGALHÃES Jr.


sábado, 20 de junho de 2015

Você precisa estudar teologia

“Respondeu-lhes Jesus: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus.” Mateus 22:29


Palavras como teologia e doutrina têm conotações negativas para muitos cristãos. Isto é uma grande tragédia, pois acredito firmemente que todo cristão precisa estudar teologia em algum momento de sua caminhada cristã.
Em nenhuma ordem em particular, aqui vão cinco razões de porque você precisa estudar teologia, e possivelmente algumas delas você não tenha considerado antes.


1. Você já é um teólogo.

Por que você precisa estudar teologia? Porque teologia não é uma coisa que apenas o professor de teologia tem – todos nós cremos em alguma coisa sobre Deus e, portanto, somos teólogos à nossa própria maneira. No entanto, o que precisa ser questionado é se o que você crê é correto, e o estudo da teologia pode ajudar a responder essa pergunta.

2. Seu amor por Jesus é intrinsecamente ligado com seu conhecimento de sua Palavra.

Por que você precisa estudar teologia? Porque Jesus disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (João 14.15). Ouvi alguém dizendo que o certo cristão pode não ser grande teologicamente, mas estava tudo bem porque ele realmente amava Jesus. Entretanto, Jesus diz que se nós o amamos, obedeceremos o que ele ordena. Como nós podemos obedecê-lo se nós não vamos à sua Palavra para conhecer corretamente seus mandamentos?

3. Sua doutrina determinará como você vive.

Por que você precisa estudar teologia? Porque o que você acredita (sua doutrina) determinará como você vive (sua prática). Isto pode ser visto em sua vida cotidiana. Se você acredita que alguma coisa é venenosa, você simplesmente não a bebe. Similarmente, suas crenças sobre Deus e sua Palavra determinam como você vive dia a dia. Por exemplo, se você acredita que Deus fala somente através de sua Palavra então você a estudará diligentemente. Entretanto, se você acredita que Deus fala através de impressões e coisas parecidas, então você procurará por aquela pequena voz silenciosa. O exemplo acima drasticamente muda como uma pessoa procurará encontrar a vontade de Deus para sua vida, e ilustra porque você precisa estudar teologia.

4. Suas afeições determinarão o que você estuda.

Por que você precisa estudar teologia? Porque onde suas afeições estão colocadas determinará o que você gastará tempo estudando. Se seu hobby é fotografia você desejará estudar o assunto para saber como melhorar suas fotografias e aumentar seu amor e apreciação por esse passatempo. Da mesma forma, se você é cristão e sua afeição principal está sobre Deus, por que você não desejaria estudar a Palavra para aumentar seu amor e apreciação por ele e sua Palavra?

5. Sua humildade depende disso.

Por que você precisa estudar teologia? Porque sem estudar teologia, é possível que você pense muito bem sobre você, mas não bem o bastante de Deus. As Escrituras, pelo contrário, quando corretamente entendidas e aplicadas, darão a você, por exemplo, o conhecimento da depravação e miserabilidade humana diante de Deus, e também darão conhecimento da magnificência, santidade, soberania e graça de Deus, o que somente pode servir para levar um verdadeiro convertido a ajoelhar-se em humildade.

Possa Deus ser glorificado quando você estudar teologia, com o desejo de saber mais sobre sua revelação especial ao homem.

Os Libertinos


Os libertinos existem há muito tempo dentro da Igreja Cristã.

Não vamos confundi-los com aqueles que procuram a liberdade da escravidão do pecado, da carne, do mundo e da lei, que é a liberdade cristã propriamente dita, encontrada em Cristo. Nesse sentido, todo crente verdadeiro é livre, ao mesmo tempo em que é escravo de Deus e servo dos seus semelhantes. Paulo fala disso em Romanos 6.

Os libertinos são diferentes. Eles também falam da liberdade cristã, da liberdade de consciência e da liberdade da lei, só que querem também ser livres de Deus e do próximo. Não percebem a liberdade dada por Cristo como estímulo para viver em obediência a Deus e serviço ao próximo, mas como uma licença para fazerem o que tiverem vontade.

Nós os encontramos em todos os períodos da Igreja.
Quem não lembra de Balaão, o falso profeta que ensinou os filhos de Israel a se prostituir com as cananitas e a praticar a religião delas, como se fosse algo aceitável a Deus? (Num 31.16).

Encontramos os libertinos infiltrados nas comunidades cristãs primitivas, ensinando que a graça de Deus permitia ao cristão a participação nos sacrifícios pagãos oferecidos nos templos. Paulo encontrou um grupo de libertinos em Corinto, que achava que tudo era lícito ao crente, inclusive participar dos festivais pagãos oferecidos nos templos dos idólatras (1Cor 8-10).
O livro de Apocalipse menciona os nicolaítas e os seguidores de Jezabel, grupos libertinos que ensinavam os cristãos a participar das “profundezas de Satanás” (Ap 2.24). Menciona também a “doutrina de Balaão”, que parece ter sido uma designação relativamente comum no séc. I para os libertinos (cf. Ap 2.14).

Judas escreveu sua carta para denunciar e enfrentar “certos indivíduos que se introduziram com dissimulação... homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo” (Judas 4).

Os libertinos modernos não são diferentes e mantém basicamente as mesmas características dos libertinos denunciados no Novo Testamento, particularmente na carta de Judas, a saber:


1. Os libertinos estão introduzidos nas igrejas e comunidades cristãs, mesmo não sendo verdadeiros crentes em Cristo Jesus, dissimulando suas crenças e práticas até se sentirem seguros para manifestar abertamente o que são. Eles estão presentes nos cultos e festividades como “rochas submersas” (Jd 12), que representam um perigo para a navegação.

2. São pessoas ímpias – isto é, sem piedade pessoal, sem temor a Deus e sem verdadeiro relacionamento com o Senhor Jesus Cristo – que se apresentam travestidas de cristãos, usando a linguagem cristã e engajadas em práticas cristãs. São arrogantes e aduladores dos outros por interesses (Jd 16). São “sensuais” e “promovem divisões” no corpo de Cristo com suas ideias heréticas (Jd 19).

3. A doutrina libertina é que a graça de Cristo faz com que tudo seja lícito ao cristão, inclusive a prática da imoralidade – que naturalmente não é chamada por esse nome, mas por eufemismos e outros nomes, como sexo livre, amor, etc. Essa doutrina transforma essa graça em libertinagem – é daí que vem o nome “libertinos”.

4. Em última análise, a doutrina dos libertinos nega a Jesus Cristo, que sofreu na cruz para livrar seu povo não somente da culpa do pecado, mas do poder do pecado em suas vidas, conduzindo-os à santidade e pureza. Os libertinos vivem sem nenhum recato (Jd 12).

5. A fonte de autoridade para essa doutrina não é a Escritura, que em todo lugar condena a imoralidade, a concupiscência, a prostituição e o adultério, mas suas experiências pessoais. Judas chama os libertinos de “sonhadores alucinados que contaminam a carne” (Jd 8). O "cristianismo" dos libertinos não é oriundo da revelação de Deus nas Escrituras, mas é fruto da sua mente carnal, “instinto natural, como brutos sem razão” (Jd 10).

Falando claramente e sem rodeios, os libertinos presentes nas igrejas e comunidades evangélicas não veem nada de errado com o sexo antes do casamento, a multiplicidade de parceiros, as relações homossexuais, a pornografia, aventuras amorosas fora do casamento, o consumo exagerado de bebidas alcoólicas, a participação dos cristãos nas diversões mundanas e absorção dos valores desse mundo no vestir, trajar, viver e andar. A agenda libertina é mais ampla do que essa e alguns libertinos são mais radicais que outros. Mas no geral, libertinos são contra qualquer sistema que tenha uma ética definida e clara e que defenda valores morais absolutos e fixos.

Libertinos costumam construir uma imagem de Jesus como uma pessoa inclusivista, que amou a todos sem distinção, jamais condenou ninguém nem se pronunciou contra o pecado de ninguém. Todavia, o Jesus libertino é diferente do Jesus da Bíblia, que o Cristianismo histórico vem anunciando faz dois mil anos.

Se Jesus foi o que os libertinos dizem, ele foi um fracasso, pois seus discípulos mais chegados se tornaram o oposto do que ele queria: Pedro passou a ensinar que a vida nas paixões carnais era pecaminosa (1Pedro 1:13-19), João passou a dizer que a paixão pelas coisas do mundo e da carne não procedem de Deus (1João 2.15-17), Tiago condenou o mundanismo (Tiago 4), o autor de Hebreus disse que temos que lutar até o sangue contra o pecado que nos rodeia (Hebreus 12.1-4) e Paulo declarou que os sodomitas e efeminados não entrarão no Reino de Deus (1Coríntios 6:9-11). Eles certamente não aprenderam essas coisas com o Jesus libertino.

Os libertinos convenientemente calam-se sobre determinadas passagens nos Evangelhos onde Jesus, ao receber prostitutas, cobradores de impostos e pecadores em geral, os ensinava a segui-lo, não cometendo mais pecados, tomando a sua cruz, negando a si próprios e se tornando sal e luz desse mundo em trevas.

Nenhuma prostituta, imoral, ladrão, que conheceu Jesus e se tornou seu discípulo continuou na sua vida imoral.
Zaqueu, Mateus e Madalena que o digam.

07 Características de um falso convertido

por

Renato Vargens

O número de pessoas que frequentam as igrejas evangélicas em nossos dias é absurdamente elevado, no entanto, acredito que boa parte daqueles que se dizem cristãos, não nasceram de novo. Aliás, assusta-me o fato de saber que em nossas igrejas existem um número considerável de indivíduos que desconhecem as verdades inequívocas do evangelho, vivendo portanto um cristianismo desprovido de vida e santidade.

Isto posto, gostaria de elencar as principais características de um falso convertido:

1- O falso convertido apesar de conjugar o "evangeliquês" com propriedade, de entoar as canções gospel de cor e salteado, ama demasiadamente o pecado e em virtude disso não está disposto a abandoná-lo.

2- O falso convertido não ama a Palavra de Deus nem tampouco está disposto a obedece-la. Para o falso convertido as Escrituras não devem ser consideradas como a Palavra infalível de Deus.

3- O falso convertido não sente prazer na oração. Para ele o hábito de se relacionar com o Senhor em oração é um fardo pesado e desnecessário.

4- O falso convertido não sente falta da comunhão dos santos. Para o falso convertido o relacionamento entre os irmãos na igreja é dispensável, nessa perspectiva, ele prefere o futebol, as festas, as baladas e todo tipo de entretenimento à reunião dos santos de Deus.

5- O falso convertido não manifesta em sua vida frutos de arrependimento nem tampouco mudança de comportamento. Para o falso convertido tudo é válido desde que no final redunde em satisfação pessoal.

6- O falso convertido não persevera em sua fé, antes pelo contrário, ao enfrentar as batalhas da vida, desiste do Senhor, voltando assim a uma vida de pecados e transgressões.

7- O falso convertido não teme ao Senhor, antes pelo contrário, desenvolve uma espiritualidade focada em si mesmo, onde Deus na verdade não passa de um provedor de seus caprichos.

Pense nisso!



domingo, 14 de junho de 2015

Por que não há mais apóstolos hoje?

Por

Augustus Nicodemus

Em sua polêmica contra os escribas e fariseus, Jesus de certa feita se referiu a seus apóstolos como aqueles que, à semelhança dos profetas, sábios e escribas enviados por Deus ao antigo Israel, seriam igualmente enviados, rejeitados, perseguidos e mortos (Lc 11.49 com Mt 23.34). Desta forma, ele estabelece o paralelo entre os apóstolos e os profetas como enviados de Deus ao seu povo.
Tem sido observado que os sucessores dos profetas do Antigo Testamento, como Isaias, Jeremias, Ezequiel, Daniel e Amós, por exemplo, não foram os profetas do Novo Testamento, que tinham ministério nas igrejas locais, mas os apóstolos de Jesus Cristo, mais especificamente os doze e Paulo.1

Conforme já vimos acima, os profetas foram diretamente vocacionados e chamados por Deus (cf. Is 6.1-9; Jr 1.4-10; Ez 2.1-7; Am 7.14-15). A palavra mais usada para “profeta” no Antigo Testamento   (nabi), que transmite o conceito de alguém que fala por outro, como “sua boca” (Ex 4.16; 7.1; cf. ainda Dt 18.14-22). O profeta era, então, primariamente, alguém que falava da parte de Deus, inspirado e orientado por ele. Os profetas falaram ousadamente da parte dele sua mensagem ao povo de Israel (Lc 1.70; Hb 1.1-2). Parte destas profecias veio a ser escrita e registrada no Antigo Testamento, que é chamado por Paulo de “escrituras proféticas” (Rm 16.26, cf. ainda 2Pe 1.21; 2Tm 3.16).2 Notemos que a mensagem dos profetas não consistia apenas da predição de eventos futuros relacionados com a ação de Deus na história, os quais se cumpriram infalivelmente (Dt 18.20-22; cf. 1Rs 13.3,5; 2Rs 23.15-16). A mensagem deles consistia, em grande parte, na exposição desses eventos e sua aplicação aos seus dias. Os profetas introduziam suas palavras com as fórmulas “assim diz o Senhor” e “veio a mim a Palavra do Senhor dizendo,” o que identificava sua mensagem como inspirada e infalível. Como tal, deveria ser recebida pelo povo de Deus como a própria palavra do Senhor.

A literatura intertestamentária produzida pelos judeus nos séculos depois de Malaquias considerava que o ministério desses profetas encerrou-se com Malaquias.3 Da mesma forma, os escritores do Novo Testamento se referem aos profetas antigos como um grupo fechado e definido (cf. Mt 23.29-31; Mc 8.28; etc.). A pergunta é: através de quem Deus continuou a se revelar? Quem foram os sucessores dos profetas do Antigo Testamento como receptores e transmissores da Palavra de Deus? Resta pouca dúvida de que foram os doze apóstolos e o apóstolo Paulo, e não os profetas cristãos das igrejas locais, como aqueles que haviam em Jerusalém, Antioquia e Corinto, por exemplo (At 11.27; 13.1; 1Co 14.29). Ao contrário do que ocorria no Antigo Testamento, profetizar, na igreja cristã nascente, era um dom que todos os cristãos poderiam exercer no culto, desde que seguindo uma determinada ordem (1Co 12.10; 14.29-32). E, diferentemente dos grandes profetas de Israel, as palavras dos profetas cristãos tinham de ser julgadas pelos demais (1Co 14.29) e eles estavam debaixo da autoridade apostólica (1Co 14.37).

Em contraste com os profetas cristãos, os apóstolos  do Novo Testamento, isto é, os doze e Paulo, receberam uma chamada específica de Jesus Cristo, receberam revelações diretas da parte de Deus, como os antigos profetas (At 5.19-20; 10.9-16; 23.11; 27.23; 2Co 12.1), e assim predisseram futuros eventos relacionados com a história da salvação, entre os quais a segunda vinda do Senhor, a ressurreição dos mortos e o juízo final – isso não quer dizer que sua chamada se deu porque tinham o “dom” de apóstolo. (1Co 15.51-52; 2Ts 2.1-12; 2Pe 3.10-13).4 Lembremos que o livro de Apocalipse é uma profecia (ver Ap 1.3; 22.18-19) escrita por um apóstolo.5 Ao contrário dos profetas cristãos das igrejas locais, que não deixaram nada escrito, os apóstolos foram inspirados para escrever o Novo Testamento (1Ts 2.13; 2Pe 3.16) e a palavra deles deveria ser recebida, à semelhança dos profetas antigos, como Palavra de Deus, sem questionamentos, ao contrários dos profetas das igrejas locais (Gl 1.8-9; 1Co 14.37).

Os autores neotestamentários que não foram apóstolos, como Marcos, Lucas, Tiago e Judas eram, todavia, parte do círculo apostólico e associados aos apóstolos, escrevendo a partir do testemunho deles.6
Como sucessores dos profetas de Israel e canais da revelação, os apóstolos aparecem juntos com eles na base da igreja. Nas palavras de Jesus, “Enviar-lhes-ei profetas e apóstolos, e a alguns deles matarão e a outros perseguirão” (Lc 11.49). Paulo junta os dois grupos duas vezes na carta aos Efésios como aqueles designados por Deus para lançar as bases da igreja; “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas” (Ef 2.20); “o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito” (Ef 3.5). Muitos estudiosos entendem que os “profetas” mencionados nestas duas passagens de Efésios são profetas das igrejas neotestamentárias, que vieram depois dos apóstolos. Todavia, mesmo estando numa sequência temporal invertida, “profetas” se entende melhor como os grandes profetas de Israel, que vieram antes dos apóstolos. A sequência “apóstolos e profetas” não precisa ser entendida como uma sequência temporal. Os apóstolos são mencionados primeiro por estarem no foco do contexto.7

Em sua segunda carta, Pedro admoesta seus leitores a se recordarem tanto das palavras que foram ditas pelos “santos profetas” como do mandamento ensinado por “vossos apóstolos” (2Pe 3.2). Alguns entendem que “vossos apóstolos” aqui é uma referência aos missionários pioneiros que haviam fundado as igrejas às quais Pedro escreve. Contudo, a carta de Pedro não foi destinada a igrejas locais específicas e sim aos cristãos em geral (cf. 2Pe 1.1). O único grupo de “apóstolos” que se encaixaria como “vossos apóstolos” seriam os doze, que eram apóstolos para todas as igrejas.8 A carta de Judas, cuja similaridade com a segunda carta de Pedro tem levado estudiosos a acreditarem numa dependência literária entre elas,9 ao se referir aos apóstolos neste mesmo contexto, designa-os como “os apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo,” numa clara referência ao grupo dos doze (Jd 17).10 Estas passagens refletem a consciência de que os apóstolos de Jesus Cristo foram os continuadores dos profetas do Antigo Testamento como canais pelos quais Deus revelou sua vontade.11

Uma vez que a revelação de Deus quanto ao plano da salvação foi totalmente escrita e registrada de maneira final, completa e infalível pelos apóstolos, no Novo Testamento, completando assim a revelação dada através dos profetas de Israel no Antigo Testamento, encerrou-se o ministério de ambos os grupos.
Já que os apóstolos foram os sucessores dos profetas do Antigo Testamento, não há, pois, hoje, possibilidade de haver apóstolos como os doze e Paulo, pois eles foram recipientes e transmissores da revelação final de Deus para seu povo, que se encontra registrada no Novo Testamento.

Fonte: Trecho do livro “Apóstolos”, futuro lançamento da Editora Fiel.

O Feminismo Cristão - Como Tudo Começou

O Feminismo Cristão - Como Tudo Começou

Estudar a história do surgimento do movimento feminista é de grande ajuda para nós. Geralmente uma perspectiva global e ampla do assunto em pauta nos ajuda a entender melhor determinados aspectos do mesmo. No caso do movimento feminista, a sua história nos revelará que a ordenação de mulheres ao ministério, em alguns setores do movimento, é apenas um item de uma agenda muito mais ampla defendido por um setor bastante ativista do feminismo nas igrejas cristãs.

Origens do Movimento Feminista Fora da Igreja

Examinemos primeiramente o movimento feminista fora da igreja, focalizando suas principais protagonistas.

Século 18: A Vindicação dos Direitos da Mulher

A “Primeira Onda” do feminismo teve início na primeira metade dos anos de 1700 quando uma inglesa, Mary Wollstonecraft (foto), escreveu A Vindication of the Rights of Woman (A Vindicação dos Direitos da Mulher). Um ano depois desta publicação, Olimpe de Gouges publicou um panfleto em Paris intitulado Le Droits de La Femme (Os Direitos da Mulher) e uma americana, Judith Sargent Murray, publicou On the Equality of the Sexes (Sobre a Igualdade dos Sexos). Outras pensadoras feministas surgiram em pouco tempo tais como Frances Wright, Sarah Grimke, Sojourner Truth, Elizabeth Cady Stanton, Susan B. Anthony, Harriet Taylor e também John Stuart Mill. Seus pensamentos e obras foram defendidos com fervor e pouco a pouco foram deitando profunda influência na sociedade moderna contemporânea do mundo ocidental.

Século 19: A Declaração dos Sentimentos

Em 1848 cerca de 100 mulheres se reuniram em uma convenção em Seneca Falls, Nova York, para ratificar a Declaração dos Sentimentos escrita para defender os direitos naturais básicos da mulher. As autoras da Declaração dos Sentimentos reclamavam que as mulheres estavam impedidas de galgar posições na sociedade quanto a empregos melhores, além de não receber pagamento eqüitativo pelo trabalho que realizavam. Notaram que as mulheres estavam excluídas de profissões tais como teologia, medicina e advocacia e que todas as universidades estavam fechadas para elas. Denunciavam também um duplo padrão de moralidade que condenava as mulheres a penas públicas, enquanto excluía os homens dos mesmos castigos em relação a crimes de natureza sexual.

A Declaração dos Sentimentos foi um marco profundamente significativo no movimento feminista. Suas reivindicações eram, em sua grande maioria, justas e consistentes. Por isto, o movimento foi ganhando muitas e muitos adeptos, apesar, e por causa das grandes barreiras que foram impostas às mulheres que se expunham na defesa de suas idéias e ideais. As leis do divórcio foram liberalizadas e drásticas mudanças ocorreram com o status legal da mulher dentro do contexto do casamento. Por volta dos anos 30, como resultado de sua educação qualificada e profissional, as mulheres começaram a entrar no mercado de trabalho como força competitiva. Muitas das barreiras legais, políticas, econômicas e educacionais que restringiam a mulher foram removidas e esta começa a pisar o mundo do homem com paixão e zelo.

Século 20: Simone deBeauvoir e Betty Friedan

A primeira fase da construção do feminismo moderno começou com a obra da filósofa francesa Simone deBeauvoir (foto), Le Deuxième Sexe (O Segundo Sexo), em 1949. As mulheres, segundo deBeauvoir, foram definidas e diferenciadas tomando como referencial o homem e não com referência a elas mesmas. Ela acreditava que o sexo masculino compreendia a medida primeira pela qual o mundo inteiro era medido, incluindo as mulheres, sendo elas definidas e julgadas por este padrão. O mundo pertencia aos homens. As mulheres eram o “outro” não essencial. Simone deBeauvoir observa esta iniqüidade do status sexual em todas as áreas da sociedade incluindo a econômica, industrial, política, educacional e até mesmo em relação à linguagem. As mulheres foram forçadas pelos homens a se conformar e se moldar àquilo que os homens criaram para seu próprio benefício e prazer. Às mulheres de seus dias não foi permitido ou não foram encorajadas a fazer ou se tornar qualquer outra coisa além do que o feminino eterno ditava; elas foram cerceadas num papel de “Küche, Kirche, und Kinder” (cozinha, igreja e filhos, em alemão). De acordo com deBeauvoir a mulher estava destinada a existir somente para a conveniência e prazer dos homens.

No início dos anos 60 uma jornalista americana, Betty Friedan, transformou os conceitos filosóficos de Simone deBeauvoir em alguma coisa mais assimilável para a mulher moderna, ao publicar A Mística Feminina, um livro onde examinava o papel da mulher norte americana. De acordo com Friedan, as mulheres dos seus dias foram ensinadas a buscar satisfação apenas como esposas e mães. Ela afirmou que esta mística do ideal feminino tornou as mulheres infantis e frívolas, quase como crianças, levianas e femininas; passivas; garbosas no mundo da cama e da cozinha, do sexo, dos bebês e da casa. Assim como deBeauvoir, ela afirma que a única maneira para a mulher encontrar-se a si mesma e conhecer-se a si mesma como uma pessoa seria através da obra criativa executada por si mesma. Friedan batizou o dilema das mulheres de “um problema sem nome”. Friedan concordou com deBeauvoir que a libertação das mulheres haveria de requerer mudanças estruturais profundas na sociedade. Para isto, as mulheres precisariam ter controle de suas próprias vidas, definirem-se a si mesmas e ditar o seu próprio destino.

O Problema sem Nome: Patriarcado

No final dos anos 60 a autora feminista Kate Millett (foto) usou o termo “patriarcado” para descrever o “problema sem nome” que afligia as mulheres. O termo tem sua origem em duas palavras gregas: pater, significando “pai” e arche, significando “governo”. A palavra patriarcado era entendida como o “governo do pai”, e era usada para descrever o domínio social do macho e a inferioridade e a subserviência da fêmea. As feministas viram o patriarcado como a causa última do descontentamento das mulheres. A palavra patriarcado define o problema que deBeauvoir e Friedan não puderam nomear mas conseguiram identificar. De acordo com as feministas, o patriarcado foi o poder dos homens que oprimiu as mulheres e que era responsável pela infelicidade delas. As feministas concluíram que a destruição do patriarcado traria de volta a plenitude das mulheres. A libertação das mulheres do patriarcado haveria de permitir que elas se tornassem íntegras.

Surgimento do Movimento Feminista Dentro da Igreja


Podemos considerar o livro de Katherine Bliss, 
The Service and Status of Women in the Church (O Trabalho e o Status da Mulher na Igreja, 1952) como o marco inicial do moderno movimento feminista dentro da cristandade. O livro era baseado numa pesquisa sobre as atividades e ministérios nos quais as mulheres cristãs estavam comumente envolvidas. Bliss observou que, embora as mulheres estivessem extremamente envolvidas na vida da Igreja, a participação delas estava limitada a papéis auxiliares tais como Escola Dominical e Missões. As mulheres não participavam em lideranças tradicionalmente aceitas, tais como as atividades de ensino, pregação, administração e evangelismo, ainda que muitas delas pareciam estar preparadas e terem dons para este exercício. Bliss chamou a atenção da Igreja para a reavaliação dos papéis homem/mulher na Igreja, particularmente da ordenação de mulheres.

Ativistas Cristãos compram a Briga

A obra de Bliss serviu de munição para ativistas cristãos na luta pelos direitos civis e políticos em 1961. Eles, juntamente com as feministas na sociedade secular, começaram a vocalizar o seu descontentamento com o tratamento diferenciado que as mulheres recebiam por causa do seu sexo, inclusive dentro das igrejas cristãs. Neste mesmo ano, vários periódicos evangélicos publicaram artigos sobre a “síndrome das mulheres limitadas aos papéis da casa e esposa”, onde se argumentava que as mulheres estavam restritas a papéis inferiores na Igreja. Os homens podiam se tornar ministros ordenados, mas às mulheres se lhes impunham barreiras nas atividades ministeriais como ensino, aconselhamento e pastoreamento. As mulheres, afirmavam os ativistas, desejam participar da vida religiosa num nível mais significativo do que costura ou a direção de bazares ou arrumar a mesa da Santa Ceia ou serviços gerais tais como o levantamento de recursos para os necessitados, os quais freqüentemente são designados a elas. Tanto quanto com trabalho físico, elas desejam contribuir com idéias para a Igreja.

O Concílio Mundial de Igrejas

A atenção sobre os papéis do homem e da mulher dentro da Igreja se tornou mais intenso na medida em que o movimento secular das mulheres foi ganhando força. Ainda em 1961 o Concílio Mundial de Igrejas distribuiu um panfleto intitulado Quanto à Ordenação de Mulheres, chamando as igrejas afiliadas para um “re-exame de suas tradições e leis canônicas”. Várias denominações começaram a aceitar que o cristianismo havia incorporado em seus valores uma atitude patriarcal dominante da cultura de suas origens. Muitos católicos, metodistas, batistas, episcopais, presbiterianos, congregacionais e luteranos concordaram: a mulher na Igreja precisa libertação. Com esta conclusão em mente, de que a mulher precisava de libertação dentro da Igreja, estabeleceu-se um curso de ação que tinha como alvo abrir as avenidas para o ministério ordenado das mulheres tanto quanto para os homens.

Nos anos 60 as feministas cristãs se colocaram num curso paralelo àquele estabelecido pelas feministas na sociedade secular. Elas, junto com suas contra partes, buscaram anular a diferenciação de papéis de homem/mulher. O tema dominante foi a necessidade da mulher definir-se a si mesma. As feministas criam que às mulheres se deveria permitir fazer tudo o que o homem pode fazer, da mesma maneira e com o mesmo status reconhecido que é oferecido ao homem. Isto, segundo elas criam, constituía a verdadeira igualdade.

Os Primeiros Argumentos em Prol da Ordenação de Mulheres

As feministas cristãs buscaram a inclusão das mulheres na liderança da Igreja sem uma clara análise da estrutura e funcionamento da mesma segundo os padrões bíblicos. Meramente julgaram-na como sexista e começaram a incrementar o curso de ação em resposta a este julgamento. As feministas cristãs, de mãos dadas com suas contra partes seculares, começaram a demandar “direitos iguais”. Na reivindicação destes direitos, àquela altura do movimento feminista cristão, ainda partiam do pressuposto que a Bíblia era a Palavra de Deus. Vejamos seus argumentos.

Os Pais da Igreja Foram Influenciados pelo Patriarcado

Segundo as feministas cristãs, Clemente de Alexandria, Origines, Ambrósio, e Crisóstomo, Tomás de Aquino, Lutero, Tertuliano, Calvino e outros importantes teólogos e líderes da Igreja Cristã, influenciados pelo patriarcado, reafirmaram a inferioridade da mulher através da história da Igreja e, assim, proibiram a ordenação de mulheres e cometeram erros quanto aos papéis conjugais. As mulheres foram excluídas das posições de autoridade porque os pais da Igreja as viam, em sua própria natureza, como inferiores e menos capazes intelectualmente do que os homens.

A Bíblia ensina a Igualdade dos Sexos

Em segundo lugar, as feministas cristãs passaram a afirmar que a Bíblia dava suporte à plena igualdade das mulheres e que os homens haviam negligenciado estes conceitos bíblicos. As primeiras feministas cristãs afirmam que o registro da criação da mulher no Gênesis tem sido quase que universalmente interpretado de uma maneira equivocada para se ensinar que “Deus impôs a inferioridade e a sujeição” da mulher. Os teólogos (homens) foram acusados pelas primeiras feministas de ignorarem as passagens bíblicas que dão suporte à igualdade feminina, torcendo-as para o seu próprio interesse. A doutrina da liderança da Igreja que excluía as mulheres do ministério foi, portanto, apresentada como um subproduto de um estudo amputado das Escrituras.

Não há Diferença entre Homem e Mulher

A tese maior proposta pelas feministas cristãs no início dos anos 60 era idêntica às teses do feminismo secular: não há diferença entre homem e mulher. As feministas argumentaram que concernente às emoções, psique e intelecto, não há demonstração válida de diferenças entre mulheres e homens. Qualquer aparente diferença resulta única e exclusivamente de condicionamentos culturais e jamais de fatores biológicos. Portanto, tendo em vista a igualdade dos sexos, as feministas cristãs reclamam que a mulher deve ser posta em posições de plena liderança dentro de casa e na Igreja em igualdade com os homens.

O primeiro passo do movimento feminista dentro da Igreja foi a ordenação das mulheres para os ofícios eclesiásticos e este foi somente o primeiro passo. A ordenação das mulheres requer o desenvolvimento de uma nova teologia, de uma nova visão sobre Deus, sobre a Bíblia, o culto e o mundo. A teologia deve se redefinir, alinhando-se com o ponto de vista feminino. Foi o próximo passo dado.

Desenvolvimentos Posteriores da Teologia Feminista

Uma teologia inteiramente nova deveria ser buscada, portanto, baseada na experiência e na interpretação da mulher. Um novo desenvolvimento teológico era necessário para dar suporte à ordenação feminina. Esta nova teologia se moveu em várias direções. Veremos que ordenação feminina é apenas um item de uma agenda muito maior e mais radical.

Reinterpretação da Sexualidade Feminina

Rejeitando a definição de feminilidade e dos papéis femininos que lhes foram impostos pelos homens e pela mentalidade patriarcal dominante, uma parte significativa das ativistas radicais demandaram uma nova definição destes itens que partisse de outro referencial. A conclusão a que chegaram foi que a própria mulher é o melhor referencial para sua autodefinição. E na caminhada desta nova descoberta, ela deve se descobrir em relação com outras mulheres e não com o homem. É preciso registrar que não foram todas as feministas que concordaram com este novo passo.

Na década de 70, movimentos radicais em prol do lesbianismo passaram a identificar sua missão e propósito com o movimento feminista em geral. Foi aqui que o lesbianismo entrou no movimento feminista cristão mais radical como elemento chave na reinterpretação da mulher, sua feminilidade, espiritualidade e papéis. A maior contribuição para a entrada do lesbianismo no movimento feminista foi dada pela líder feminista Kate Millet, que publicamente admitiu ser lésbica, após escrever o livro Sexual Politics, best-seller publicado em 1970. O fato ganhou divulgação mundial mediante reportagem da revista Time naquele mesmo ano. Surgiram dentro das igrejas grupos de lésbicas “cristãs” pressionando para a ordenação de mulheres, de lésbicas, a celebração do casamento gay e aceitação de homossexuais e lésbicas ativos como membros comungantes.

Reinterpretação Feminista da Bíblia

A teologia feminista veio a ser profundamente afetada pela hermenêutica pós-moderna, a qual ensina que a escrita e a leitura de qualquer texto são irremediavelmente determinadas pelas perspectivas sociais e experiências de vida dos seus autores e leitores. A esta altura, já se havia abandonado o conceito da inspiração e infalibilidade da Bíblia.

Empregando-se este princípio na leitura da Bíblia, as feministas cristãs concluíram que a mesma é um livro machista e reflete o patriarcado dominante na cultura israelita e grega daquela época. A Bíblia é o livro de experiências religiosas das mulheres e dos homens, judeus e cristãos, mas seu texto foi formado pelos homens, adultos e instruídos. Poucos textos foram escritos por mulheres. Como resultado, os autores freqüentemente enfatizaram somente o papel dos homens. Eles contaram a história de todo o povo a partir de sua expectativa masculina. Desenvolveram a visão patriarcal da religião a ponto de transformar Deus — um puro espírito sem gênero — em um ser masculino! E que este Deus sempre escolheu homens como profetas, sacerdotes e reis porque os homens são melhores ou mais fortes moralmente do que as mulheres!

As feministas radicais propuseram, assim, uma reinterpretação radical da Bíblia partindo da ótica delas. Propuseram também que as mulheres aprendessem a examinar as leituras feitas na ótica patriarcal e a impugnar qualquer interpretação distorcida pelo machismo. De acordo com elas, a interpretação tradicional da Bíblia sempre foi masculina pois o masculino era tido como universal. Hoje, essa leitura ideológica incomodava muitas mulheres e homens nas igrejas.

Elas passaram ainda a defender a publicação de versões bíblicas onde o elemento masculino fosse tirado da linguagem. Estas versões, chamadas de “linguagem inclusiva” não deveriam mais se referir  a Deus como Pai e deveriam chamar Jesus de “a criança de Deus” em vez de Filho de Deus. Já existem dezenas de versões bíblicas assim no mercado mundial. Algumas feministas ainda mais radicais declararam que a Bíblia não é confiável e que as histórias das mulheres de hoje precisam ser adicionadas ao cânon da Bíblia.

Reinterpretação do Cristianismo

Como resultado desta nova leitura da Bíblia, orientada contra todo elemento masculino e contra o patriarcalismo, as feministas propuseram uma reforma radical no Cristianismo tradicional. A ordenação de mulheres é apenas um pequeno aspecto deste projeto. Na concepção delas, a verdadeira religião deve conter elementos que reflitam o poder e a cooperação das mulheres, cuja principal característica é gerar a vida. Assim, mui naturalmente, as feministas adotaram e “cristianizaram” os antigos cultos pagãos da fertilidade, que celebram os ciclos da natureza, as estações do ano, a fertilidade da terra, as colheitas e a geração da vida. Os cultos seguem temas litúrgicos relacionados com as estações do ano. Este novo Cristianismo feminino entende que a mulher é mais apta que o homem para estabelecer e conduzir a religião, pois enquanto o homem, guerreiro, mata e tira a vida, a mulher gera a vida. Aquela que conduz a vida dentro de si é mais adequada para definir a religião e conduzir seus cultos.

Reinterpretação de Deus

O passo mais ousado dado pelo movimento feminista cristão radical foi a "reinvenção de Deus". Mais de 800 feministas, gays e lésbicas do mundo inteiro reuniram-se nos Estados Unidos em 1998 num Congresso chamado Reimaginando Deus. Os participantes chegaram a conclusões tremendas: o verdadeiro deus de Israel era uma deusa chamada Sofia, que os autores masculinos transformaram no deus masculino Javé, homem de guerra. Jesus Cristo não era Deus, mas era a encarnação desta deusa Sofia, que é a personificação da sabedoria feminina. Esta deusa pode ser encontrada dentro de qualquer mulher e é identificada com o ego feminino (na foto, capa de livro publicado sobre o assunto). No Congresso celebraram uma “Ceia” onde o pão e o vinho foram substituídos por leite e mel, e conclamaram as igrejas tradicionais a pedir perdão por terem se referido a Deus sempre no masculino. Amaldiçoaram os que são contra o aborto e abençoaram os que defendem os gays e as lésbicas.

Conclusão

A leitura das origens e desenvolvimentos do movimento feminista, tanto o secular quanto o cristão, deixa claro que a ordenação de mulheres ao ministério é apenas um item da agenda muito mais ampla dos feministas radicais dentro da igreja cristã.

É claro que nem todos os que defendem a ordenação de mulheres concordam com tudo que se contém na agenda do movimento feminista cristão. É preciso deixar isto muito claro. Conheço pessoalmente diversos irmãos preciosos que são a favor da ordenação de mulheres ao pastorado mas que repudiam as demais teses do movimento feminista radical. O que estou descrevendo aqui principalmente é a postura dos radicais dentro do feminismo evangélico.

Entretanto, não se pode deixar de notar a semelhança notável entre muitos dos argumentos usados para defender a ordenação feminina e aqueles empregados na defesa do homossexualismo nas igrejas, das versões feministas da Bíblia e mesmo da reinvenção de Deus e do Cristianismo.

[Este artigo é reprodução da primeira parte de um Caderno sobre Ordenação Feminina que publiquei algum tempo atrás, que por sua vez utilizou a pesquisa histórica da tese de mestrado do Rev. Ludgero Morais sobre o tema.]

Orando Através do Filho

por

Vincent Cheung



“Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus” (1 Timóteo 2:5).

Uma das primeiras coisas que você deve saber sobre oração é que você não tem acesso a Deus a menos que você seja um cristão. Oração não diz respeito apenas sobre o que você diz, mas um aspecto importante dela é onde você está em relação a Deus. O inimigo de Deus claramente não tem os mesmos privilégios na oração que o amigo de Deus. Visto que a Bíblia ensina que o único modo através do qual uma pessoa pode ter um relacionamento correto com Deus é através de Jesus Cristo, somente orações oferecidas por um cristão são aceitáveis a Deus.
Relacionando a oração ao Deus Trinitariano descrito na Escritura, isto significa que somente orações apresentadas através de Deus o Filho, Jesus Cristo, são aceitáveis a Deus o Pai.
Alguns têm proposto uma interpretação absurda e anti-bíblica da exclusividade do Cristianismo para dizer que Cristo fez o acesso a Deus possível para a humanidade em geral, de forma que até mesmo um não-cristão pode orar a Deus através dEle num certo sentido.
“Certamente Jesus Cristo é o único caminho a Deus”, eles podem reconhecer, “mas isto significa que se você é um muçulmano ou budista sincero, você é salvo através de Cristo”. Nem todos eles diriam isto nestas palavras, mas isto é o que equivale a sua teoria. Contudo, isto é claramente uma rejeição do ensino escriturístico sobre o assunto; as pessoas apenas não querem ser explícitas sobre tal rejeição.

Assim, por “Jesus Cristo”, eu não quero dizer um princípio ou espírito abstrato de “Cristo” que é separado do Jesus histórico da Bíblia e de Sua identidade como a segunda pessoa da Trindade. O que eu quero dizer é que aparte de uma afirmação consciente e explícita do que a Escritura diz sobre a pessoa histórica de Jesus Cristo de Nazaré, ninguém pode ter acesso a Deus. Em outras palavras, se você não afirma explicitamente a Trindade, a Encarnação, a Ressurreição, e que estas doutrinas contradizem todas as outras religiões, então você não é um cristão, e você não tem acesso a Deus. Você não é aceitável a Deus, e você sofrerá o tormento sem fim no inferno após a morte. Isto é o que a Escritura ensina, e isto é o que eu quero dizer. Assim como você não pode dizer que é um cristão se você crê que há mais de um Deus, não diga que você é um cristão se você pensa que muçulmanos irão para o céu, e que budistas em algum sentido têm acesso a Deus através de Cristo.

A Bíblia diz que Deus escolheu algumas pessoas para serem salvas, e aqueles a quem Ele escolheu se aproximarão dEle, mas somente através de Jesus Cristo. Todos os outros serão excluídos e condenados. [8]Isto é, somente os verdadeiros cristãos serão salvos e têm acesso a Deus, e todos os não-cristãos serão condenados ao inferno e não têm acesso a Deus. Isto é o que a Bíblia ensina, e isto é Cristianismo. Se você discorda dela, então você rejeitou o Cristianismo, e eu desafio você a refutá-lo. Se você reivindicar que esta é apenas a minha interpretação de Cristianismo, então você deve pelo menos me refutar.[9]
É desonesto e irracional rejeitar esta visão somente porque você não gosta dela — suprimir a verdade é um dos principais pecados pelos quais incontáveis indivíduos serão condenados para sempre (Romanos 1:18-19). Você pode concordar com o que eu disse, mas você não pensa que isto possa ser declarado tão asperamente. Se isto é o que você pensa, então você deve também oferecer argumentos para estabelecer sua reivindicação.
Há aqueles que insistem que todas as religiões são essencialmente a mesma. Eles não dizem que todas as crenças de todas as religiões são idênticas, mas eles estão dizendo que elas são similares o suficiente nos assuntos mais importantes de modo que é ao menos possível para religiões diferentes se unirem; que uma religião não deve contestar outra como falsa, e que nenhuma religião deve reivindicar ser exclusivamente verdadeira de uma forma que todas as outras sejam falsas. Eu apenas mencionarei alguns problemas com esta visão.
É impossível definir religião de uma forma que inclua todos os sistemas de pensamentos que estas pessoas querem incluir, ou exclua aquelas que elas querem excluir. Por exemplo, se eu defino religião como “o serviço ou adoração de Deus ou do sobrenatural” [10], então isto pode excluir algumas formas de Budismo. Mas aqueles que dizem que todas as religiões são essencialmente a mesma, geralmente querem incluir o Budismo.
Eu posso mudar minha definição para “uma causa, princípio, ou sistema de crenças sustentadas com ardor e fé” [11], que deveria ser larga o suficiente para incluir o Budismo, mas então eu não posso excluir o Comunismo. Outro dicionário dá uma definição possível similar: “qualquer sistema de crenças, práticas, valores éticos, etc.,” [12] e com isto dá o Humanismo como um exemplo. Mas se incluirmos Comunismo e Humanismo como religiões, então devemos também incluir o Totalitarismo e a Democracia. Mas o Comunismo, Totalitarismo e a Democracia são essencialmente o mesmo? E são todos estes essencialmente o mesmo com o Budismo e o Cristianismo?

Por causa da simplicidade, eu dei exemplos somente de dicionários. Embora textos sobre a filosofia da religião sejam mais detalhados em suas tentativas de definir religião, seus esforços fracassam em sobrepujar as dificuldades ilustradas. O ponto é que não importa como os nossos oponentes definam religião, a definição será muito estreita ou ampla para o propósito deles — eles irão incluir certos sistemas que eles querem excluir, ou irão excluir certos sistemas que eles querem incluir. A dificuldade existe porque as várias religiões não são essencialmente a mesma; elas contradizem umas às outras em muitos pontos essenciais. A implicação é que todas elas não podem estar corretas, e, portanto, é impossível uni-las. [13] Um projeto mais produtivo seria identificar e clarificar as crenças de cada religião, e examinar cada uma delas para ver quais delas são verdadeiras e quais são falsas.

Visto que o Cristianismo reivindica ser a única cosmovisão verdadeira, [14] se ele for deveras uma cosmovisão verdadeira, então sua reivindicação de ser a única verdade é verdadeira também, e todas as outras cosmovisões são, portanto, falsas. Por outro lado, se qualquer cosmovisão não-cristã for verdadeira, então o Cristianismo é falso. Portanto, qualquer aderente de uma cosmovisão não-cristã deve enfrentar sinceramente o Cristianismo e vencê-lo, e qualquer cristão deve estar preparado para demolir qualquer cosmovisão não-cristã. Fazer com que cosmovisões pareçam estar em concordância essencial quando elas estão em discordância essencial é desonesto, ignorante e irracional. [15]
Quando as pessoas dizem que todas as religiões são essencialmente a mesma, elas estão geralmente pensando somente num aspecto não-fundamental das religiões, ou num aspecto que é fundamental para alguns, mas não-fundamental para outros. Mas então, elas não mais estarão comparando os pontos essenciais das várias religiões.
Por exemplo, se a reivindicação é que todas as religiões são essencialmente a mesma porque todas elas ensinam as pessoas a serem boas, então minha objeção seria que a ética não é o fundamento da cosmovisão bíblica, mesmo que ela seja um aspecto importante. A ética cristã é fundamentada na metafísica cristã; isto é, o que a Bíblia ensina sobre moralidade depende do que a Bíblia ensina sobre realidade. Sem a visão bíblica da realidade, não há fundamento para a visão bíblica da moralidade.

Portanto, a visão bíblica da realidade é o aspecto mais essencial da cosmovisão cristã. Contudo, na lista de cosmovisões geralmente incluídas por aqueles que dizem que todas as religiões são essencialmente a mesma, encontramos várias visões da realidade diferentes e contraditórias. Alguns afirmam o monoteísmo, outros afirmam o politeísmo e o panteísmo. Alguns afirmam até mesmo o ateísmo naturalístico.
Assim, dizer que tanto o Budismo como o Cristianismo ensinam as pessoas a serem boas não estabelece qualquer similaridade essencial entre os dois sistemas, mas meramente oculta as diferenças essenciais. O Cristianismo afirma como suas reivindicações essenciais que Deus é Trindade, que Cristo é tanto Deus como homem, e que a Escritura é infalível. Há outras, mas estas três crenças são suficientes para excluir todos os sistemas não-cristãos, e para estabelecer que o Cristianismo é essencialmente contraditório à todas as outras cosmovisões não-cristãs, incluindo o Judaísmo. [16]
Muitos daqueles que dizem que todas as religiões são essencialmente a mesma tendem a enfatizar o que eles entendem como similaridades na área de ética. Eu discordo desta atitude, pois como tenho mostrado acima, religiões diferentes podem construir suas éticas sobre visões de metafísica (ou realidade) diferentes, as quais para eles é mais fundamental. Ninguém tem o direito de ditar para todas as religiões o que é essencial para elas e o que não o é. Antes, devemos permitir que cada religião especifique suas reivindicações centrais. Se eu digo que o monoteísmo [17] é fundamental para a minha religião [18], então você não tem o direito de dizer que ele não é fundamental para a minha religião. E você estaria equivocado em dizer que minha religião monoteísta é essencialmente a mesma com a religião politeísta de outra pessoa, mesmo que nossos sistemas de ética sejam idênticos [19].

Contudo, a ética cristã não é idêntica à ética não-cristã. Elas não são nem mesmo similares. Você pode dizer que todas as religiões dirigem as pessoas para andar em amor e bondade. Primeiro, isto não é verdade. Os objetivos e diretrizes éticas das várias religiões são frequentemente muito diferentes. Segundo, como você define amor e bondade? A Bíblia diz que amor é o cumprimento das leis morais bíblicas, de forma que se você anda em andar, você obedecerá aos mandamentos da Bíblia. Mas se sua religião define amor diferentemente, como todas as religiões não-cristãs devem fazer, então o que quer que seja que você chama de amor não é o que a Bíblia chama de amor. Portanto, é impossível dizer que todas as religiões dirigem as pessoas a andar em amor, visto que embora você tente usar a mesma palavra para descrever suas diretrizes morais, elas não são similares de forma alguma, e não há conceito comum de amor.
O primeiríssimo dos Dez Mandamentos demanda adoração exclusiva do Deus cristão. Portanto, de um ponto de vista bíblico, é imoral e pecaminoso ser um não-cristão. Agora, quem é você para dizer que isto não é uma crença essencial no Cristianismo? Ela é tão essencial como o mandamento contra o assassinato, e muito mais importante e fundamental, visto que até mesmo o mandamento contra o assassinato está fundamentado sobre a autoridade exclusiva de Deus.

Agora, todas as religiões têm como sua crença essencial que eles devem adorar somente o Deus cristão? Se não, então, como elas são a mesma com o Cristianismo? Pode ser possível debaixo tanto de uma Democracia como de um Comunismo afirmar que há tal coisa como rosas vermelhas, mas isto não significa que a Democracia e o Comunismo são a mesma coisa, ou nem mesmo similares, pois eles diferem nos pontos essenciais. Aqueles que tentam unir todas as religiões arbitrariamente escolhem certos pontos que eles percebem ser comuns para todas as religiões, e então fazem estes pontos serem pontos essenciais de todas as religiões.
Mas eles não têm o direito de ditar e especificar os pontos essenciais de todas as religiões, e mesmo naqueles pontos em que elas pensam que todas as religiões concordam, as várias religiões na realidade não estão de acordo. A verdade é que as várias religiões são diferentes, e elas se contradizem em muitos pontos essenciais e não-essenciais. Portanto, nem todas as religiões podem ser verdadeiras. Visto que o Cristianismo diz que todas as outras religiões são falsas, se pudermos mostrar que o Cristianismo é verdadeiro, então até mesmo este pronunciamento sobre todas as religiões não-cristãs é verdadeiro, e assim temos também mostrado que todas as religiões não-cristãs são falsas.
Minha visão exclusiva é impopular hoje, mesmo entre aqueles que se chamam de cristãos. Contudo, a impopularidade não indica se uma crença particular é verdadeira ou falsa. Uma objeção comum contra uma religião exclusiva é que é arrogante dizer que minha própria posição é a única correta, e que todos que discordam de mim estão errados [20]. Mas qual é a sua definição de arrogância? Se o próprio Cristianismo afirma que eu devo aceitá-lo como sendo a única religião verdadeira e que devo considerar todas as religiões não-cristãs como sendo falas, então debaixo do Cristianismo eu não sou arrogante em tomar tal posição exclusiva. Você pode me chamar de arrogante somente baseado num padrão não-cristão. E se assim for, então você deve estabelecer a cosmovisão não-cristã pela qual você me chama de arrogante como verdadeira, e que o Cristianismo é falso. Se você falha em fazer isto, então você não tem autoridade para me chamar de arrogante. Em adição, a reivindicação de que não há uma religião exclusivamente verdadeira é ela mesma um julgamento universal sobre todas as religiões, assim, você está impondo sua própria visão sobre todas as religiões, dizendo que nenhuma delas pode reivindicar ser exclusivamente verdadeira. Você está dizendo que somente sua visão sobre as várias religiões é correta (que nenhuma religião é exclusivamente verdadeira), e que todos que crêem de outra forma estão equivocados. Isto é arrogante de acordo com o seu próprio padrão.

Eu posso dar uma resposta similar à acusação de que é ter mente-fechada dizer que somente minha visão é correta, e que todos que discordam de mim estão errados. Mas, porque é algo ruim ter mente-fechada? Por qual padrão você determina que ter mente fechada é ruim, e então impõe este rótulo sobre mim? Se o Cristianismo é deveras exclusivamente verdadeiro, então seria uma boa coisa ter “mente-fechada”. Isto é, se somente o Cristianismo é verdadeiro, então seria uma boa coisa crer que somente o Cristianismo é verdadeiro, quer você chame isto de mente-fechada ou não. Mas se o Cristianismo é exclusivamente verdadeiro, e você permanecer com uma mente-aberta sobre o assunto, então você não está afirmando a verdade, e é você quem tem um problema.
A pessoa que usa as acusações de arrogância, mente-fechada, cismado, e coisas semelhantes, está de fato empregando uma tática de atribuir nomes que, se bem sucedida, capacita-o a evitar de encarar as questões reais. O Cristianismo é exclusivamente verdadeiro ou não? Se não, você não precisa me atribuir nomes — apenas me refute, e será o fim desta discussão. Visto que eu percebo que os atribuidores-de-nomes estão tentando evitar a confrontação, eu também posso jogar o jogo de atribuir-nomes e dizer que eles são idiotas e covardes, e podemos ir para frente e para trás para sempre, sem enfrentar as questões reais. Se você discordar da reivindicação de que o Cristianismo é a única religião verdadeira, e que todos os não-cristãos serão condenados ao tormento sem fim no inferno, tudo o que você tem que fazer é confrontar os meus argumentos e refutar a reivindicação.

Até mesmo muitos cristãos professos me considerariam muito duro, mas isto é porque eles têm sido afetados pelos padrões não-cristãos de conduta correta. Se o apóstolo Paulo pôde dizer aos judeus oponentes para se castrarem (Gálatas 5:12) [21], então eu estou sendo muito brando [22]. Muitos dos escritores cristãos que afirmam que somente o Cristianismo é verdadeiro, todavia, parecem relutantes em declarar asperamente esta crença, e eles estão da mesma forma relutantes em declarar claramente sua implicação de que se somente o Cristianismo é verdadeiro, então todas as religiões não-cristãs são falsas. Eles afirmam rancorosamente a exclusividade do Cristianismo, como se eles ressentissem por a Bíblia conter tal ensino. Esta atitude é pecaminosa. Deveras, eles devem abraçar e defender as palavras da Escritura com força e com alegria. Qualquer coisa menor indica uma empatia anti-escriturística para com as falsas religiões e uma humanidade pecaminosa à custa da fidelidade a Cristo.

Você terá que ler alguns dos meus outros livros para ver os meus argumentos a favor do Cristianismo [23], mas o que eu estabeleci aqui é que as várias religiões são essencialmente diferentes e opostas umas às outras. Portanto, se você reivindica ser um cristão, então, por necessária implicação, você está dizendo também que todas as religiões não-cristãs são falsas, e que todos os não-cristãos serão condenados ao tormento sem fim no inferno. Se você tem problema com isto, então você deveria examinar para ver se você tem verdadeiramente afirmado o Cristianismo, porque se você discordar de Cristo e dos apóstolos, então sobre que fundamento você reivindica ser um cristão? Jesus diz, “Aquele que não está comigo, está contra mim” (Mateus 12:30). Se você não é um cristão, então você não é apenas um não-cristão em suas crenças, mas você é um anti-cristão. Esta é a verdade, quer você goste, quer não.

No contexto do governo da igreja, alguém que afirme o pluralismo religioso e a legitimidade das religiões ou cosmovisões não-cristãs deveria ter as implicações de tal crença mostradas a ele. A igreja deveria deixar claro para tal pessoa o que a Bíblia ensina sobre o assunto. Depois disso, se a pessoa recusar a mudar sua mente, então ela deve ser excomungada, ou expulsa da igreja. Nós devemos começar a perceber que crer numa falsa doutrina é muito mais pecaminoso e destrutivo do que algo como assassinato ou prostituição. A falsa doutrina é muito mais maléfica do que todas estas outras coisas, e nós devemos proteger o rebanho removendo aqueles que insistem em afirmar idéias anti-bíblicas: “Um pouco de fermento leveda toda a massa” (Gálatas 5:9). Uma razão porque muitos da igreja são tão fracos hoje é uma falta de disciplina imediata.
Visto que eu tenho estabelecido a verdade do Cristianismo em outros livros e artigos, e visto que eu expus o absurdo de asseverar a unidade essencial de todas as religiões, podemos continuar com a suposição que o Cristianismo é exclusivamente verdadeiro, e que todas as religiões não-cristãs são falsas. Assim, nós podemos com grande apreciação retornar ao ensino declarado no início, ou seja, que somente os cristãos podem oferecer orações que são aceitáveis a Deus. Colocando isto de outra forma, para que a oração de alguém seja aceitável, ele deve ter um relacionamento correto com Deus, mas para ter um relacionamento correto com Deus, ele deve primeiro ter um relacionamento correto com o mediador designado entre Deus e a humanidade.

O único mediador entre Deus e a humanidade é Jesus Cristo, que é tanto Deus como homem. Nós não estamos falando sobre algum princípio geral de Cristo ou o “espírito” de Cristo, mas o Jesus histórico de Nazaré, Deus o Filho que tomou sobre Si os atributos humanos, que morreu por Seu povo e ressuscitou dentre os mortos. Você não pode ser um muçulmano ou budista e dizer que você está de certo modo orando através de Cristo. Você não pode dizer que você pode ser um mórmon ou hindu, mas enquanto você orar com uma certa atitude ou espírito, você estará orando através de Cristo. Você não pode dizer que Cristo é de alguma forma o mediador de todas estas religiões. Não, a Bíblia requer que você reconheça por nome o Jesus histórico de Nazaré, que é tanto Deus e homem, e que é o único mediador entre Deus e a humanidade. Ele é o único caminho para Deus; todos os outros caminhos levam ao tormento sem fim no inferno. Alguns grupos que reivindicam afirmar a fé cristã sugerem que santos e anjos podem agir como mediadores entre Deus e a humanidade, de forma que eles possam apelar a, digamos, “Maria, a mãe de Jesus, por ajuda e por intercessão”. Esta é uma rejeição direta do ensino escriturístico. 1 Timóteo 2:5 diz que há somente um mediador, não dois ou três, ou trezentos. Há somente um. Fora de Jesus Cristo, não há acesso a Deus de forma alguma. Jesus Cristo é o mediador entre Deus e a humanidade, mas Ele não dá a todos humanos o acesso apropriado a Deus. Antes, através dEle somente os cristãos têm acesso a Deus o Pai em oração e adoração.

NOTAS:
[8] - Veja Vincent Cheung, Systematic Theology, para uma exposição das doutrinas de eleição e reprovação. [voltar]
[9] - Vincent Cheung, Systematic Theology e Ultimate Questions. [voltar]

[10] - Merriam-Webster's Collegiate Dictionary, Tenth Edition; “religião”. [voltar]

[11] - Ibid. [voltar]

[12] - Webster's New World College Dictionary, Fourth Edition; “religião”. [voltar]
[13] - Alguém me disse que ela pensava que religião dizia respeito à unidade, e ela queria dizer a unidade da raça humana. Mas isto é precisamente o que a Torre de Babel era. Não, religião não diz respeito à unidade, pelo menos isto não é sobre o que o Cristianismo diz respeito. Cristianismo diz respeito à verdade revelada, e se suficientes pessoas afirmarem a verdade para se unirem ao redor dela, melhor ainda. [voltar]
[14] - Ele reivindica ser o único sistema de pensamento verdadeiro, seja religioso ou secular. [voltar]
[15] - Vincent Cheung, The Light of Our Minds. [voltar]

[16] - Eu não digo que o Cristianismo contradiz o Velho Testamento, mas ele contradiz o Judaísmo. Embora possamos encontrar as doutrinas da Trindade e da deidade de Jesus Cristo no Antigo Testamento, o Judaísmo nega ambas as doutrinas. Aqueles que foram salvos sob a Antiga Aliança não foram salvos aparte de Cristo (veja João 8:56; Hebreus 11:26). Assim, nossa contenção é que o Judaísmo não segue o Antigo Testamento. Antes, a Bíblia inteira — Antigo e Novo Testamento — é um livro cristão, e somente um livro cristão. Ela não endossa nenhuma outra cosmovisão ou religião. [voltar]
[17] - Não apenas qualquer concepção de um Deus monoteísta, mas aquela com todos os atributos especificados na Bíblia, incluindo a natureza triuna. [voltar]
[18] - Em outro lugar eu declarei que a infabilidade da Escritura é meu primeiro princípio de argumento, mas dentro do sistema revelado pela Escritura, a metafísica realmente precede a ética. [voltar]
[19] - Cristãos e budistas podem ambos crer que “1 + 1 = 2”, mas isto não significa que Cristianismo e Budismo são essencialmente o mesmo. Duas cosmovisões são essencialmente a mesma somente quando elas são as mesmas sobre os pontos essenciais. [voltar]
[20] - A acusação de arrogância é freqüentemente uma tentativa de evitar confrontar os argumentos racionais que têm sido oferecidos. [voltar]
[21] - “Quanto a esses que os perturbam, quem dera que se castrassem!” (Gálatas 5:12). [voltar]

[22] - Eu tenho visto mui poucos argumentos apoiando a suposição de que deveríamos ser de certa forma caridosos quando tratando com as visões não-cristãs. Eu demando um argumento dedutivo de uma premissa infalível da minha oposição sobre este assunto, e o único modo de satisfazer isto é um argumento exegético e teológico da Escritura. Mas isto pode somente apoiar meu modo de tratar com idéias não-cristãs; isto é, com honestidade cruel. As pessoas freqüentemente dizem que deveríamos “falar a verdade em amor” (Efésios 4:15), mas isto não pode significar, “falar a verdade suavemente e num estilo efeminado, de forma a não ofender ninguém”, porque se o verso de fato ensinasse isto, então não estaria Cristo, os profetas e os apóstolos em violação? Eles eram duros e muito ferozes quando falavam contra o erro. [voltar]
[23] - Vincent Cheung, Systematic Theology e Ultimate Questions. Se você discorda da minha defesa da fé cristã como a única cosmovisão verdadeira, então você deve me refutar. Muitas pessoas rejeitam argumentos sadios que elas não desejam crer. Isto é desonesto e irracional. [voltar]

Os Atributos Morais de Deus

Por

Dr. Louis Berkhof

Os atributos morais de Deus são geralmente considerados como as perfeições divinas mais gloriosas. Não que um atributo de Deus seja em si mesmo mais perfeito e mais glorioso que outro, mas, relativamente ao homem, as perfeições morais de Deus refulgem com um esplendor todo seu. Geralmente são discutidos sob três títulos: (1) a bondade de Deus; (2) a santidade de Deus; e (3) a justiça de Deus.

1. A BONDADE DE DEUS.

Esta geralmente é tratada como uma concepção genérica, incluindo diversas variedades que se distinguem de acordo com os seus objetos. Não se deve confundir a bondade de Deus com Sua benevolência, que é um conceito mais restrito. Falamos que uma coisa é boa quando ela corresponde em todas as suas partes ao ideal. Daí, em nossa atribuição de bondade de Deus, a idéia fundamental é que Ele é, em todos os aspectos e por todos os modos, tudo aquilo que deve ser como Deus, e, portanto, corresponde perfeitamente ao ideal expresso pela palavra “Deus”. Ele é bom na acepção metafísica da palavra, é perfeição absoluta e felicidade perfeita em Si mesmo. É neste sentido que Jesus disse ao homem de posição: “Ninguém é bom senão um só, que é Deus”, Mc 10.18; Lc 18.18, 19. Mas, desde que Deus é bom em Si mesmo, é também bom para as Suas criaturas e, portanto, pode ser chamado a fons omnium bonorum. Ele é a fonte de todo bem, e assim é apresentado de várias maneiras na Bíblia toda. O poeta canta: “Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz vemos a luz”, Sl 36.9. Todas as boas coisas que as criaturas fruem no presente e esperam no futuro, fluem para elas deste manancial inexaurível. E não somente isso, mas Deus é também o summum bonum, o sumo bem, para todas as Suas criaturas, embora em diferentes graus e na medida em que correspondem ao propósito da sua existência. Na presente conexão, naturalmente damos ênfase à bondade ética de Deus e a seus diferentes aspectos, como determinados pela natureza dos seus objetos.


a. A bondade de Deus para com Suas criaturas em geral.

Esta pode ser definida como a perfeição de Deus que O leva a tratar benévola e generosamente todas as Suas criaturas. É a afeição que o Criador sente para com as Suas criaturas dotadas de sensibilidade consciente como tais. O salmista a exalta com as bem conhecidas palavras: “O Senhor é bom para todos, e as suas ternas misericórdias permeiam todas as suas obras... Em ti esperam os olhos de todos, e tu, a seu tempo, lhes dás o alimento. Abres a tua mão e satisfazes de benevolência a todo vivente”, Sl 145.9, 15, 16. Este benévolo interesse de Deus é revelado em Seu cuidado pelo bem-estar da criatura e corresponde à natureza e às circunstâncias da criatura. Varia naturalmente em grau, de acordo com a capacidade que os seus objetos têm de recebe-lo. E embora não se restrinja aos crentes, somente estes manifestam apropriada apreciação das bênçãos que dela provêm, desejo de usa-las no serviço do seu Deus e, assim, desfrutam-na em medida mais rica e mais completa. A Bíblia refere-se a esta bondade de Deus em muitas passagens, como Sl 36.6; 104.21; Mt 5.45; 6.26; Lc 6.35; At 14.17.

b. O amor de Deus.

Quando a bondade de Deus é exercida para com as Suas criaturas racionais, assume o caráter mais elevado de amor, e ainda se pode distinguir este amor de acordo com os objetos aos quais se limita. Em distinção da bondade de Deus em geral, o Seu amor pode ser definido como a perfeição de Deus pela qual Ele é movido eternamente à Sua própria comunicação. Desde que Deus é absolutamente bom em Si mesmo, Seu amor não pode achar completa satisfação em nenhum objeto falto de perfeição absoluta. Ele ama as Suas criaturas racionais por amor a Si mesmo, ou, para expressá-lo doutra forma, neles Ele se ama a Si mesmo, Suas virtudes, Sua obra e Seus dons. Ele nem mesmo retira completamente o Seu amor do pecador em seu estado pecaminoso atual, apesar de que o pecado deste é uma abominação para Ele, visto que, mesmo no pecador, Ele reconhece um portador da Sua imagem. Jo 3.16; Mt 5.44, 45. Ao mesmo tempo, Ele ama os crentes com amor especial, dado que os vê como Seus filhos espirituais em Cristo. É a estes que Ele se comunica no sentido mais rico e mais completo, com toda a plenitude da Sua graça e misericórdia. Jo 16.27; Rm 5.8; 1 Jo 3.1.


c. A graça de Deus.

A significativa palavra “graça” é uma tradução do termo hebraico chanan e do grego charis. Segundo a Escritura, é manifestada não só por Deus, mas também pelos homens, caso em que denota o favor de um homem a outro, Gn 33.8, 10, 18; 39.4; 47.25; Rt 2.2; 1 Sm 1.18; 16.22. Nestes casos não implica necessariamente que o favor é imerecido. Em geral se pode dizer, porém, que a graça é a concessão de bondade a alguém que não tem nenhum direito a ela. É este particularmente o caso em que a graça a que se faz referência é a graça de Deus. Seu amor ao ser humano é sempre imerecido e, quando mostrado a pecadores, estes são até privados dele. A Bíblia geralmente emprega apalavra para indicar a imerecida bondade ou amor de Deus aos que perderam o direito a ela e, por natureza, estão sob a sentença de condenação. A graça de Deus é a fonte de todas as bênçãos espirituais concedidas aos pecadores. Como tal, lemos a seu respeito em Ef 1. 6.7; 2.7-9; Tt 2.11; 3.4-7. Embora a Bíblia fale muitas vezes da graça de Deus como graça salvadora, também faz menção dela num sentido mais amplo, como em Is 26.10; Jr 16.13. A graça de Deus é da maior significação prática para os pecadores. É pela graça que o caminho da redenção foi aberto para eles, Rm 3.24; 2 Co 8.9, e que a mensagem da redenção foi levada ao mundo, At 14.3. pela graça os pecadores recebem o dom de Deus em Jesus Cristo, At 18.27; Ef 2.8. Pela graça eles são justificados, Rm 3.24; 4.16; Tt 3.7, são enriquecidos de bênçãos espirituais, Jo 1,16; 2 Co 8.9; 2 Ts 2.16, e finalmente herdam a salvação, Ef 2.8; Tt 2.11. Vendo-se absolutamente sem méritos próprios ficam na total dependência da graça de Deus em Cristo. No modernismo teológico, com sua crença na bondade inerente do homem e em sua capacidade de bastar-se a si próprio, a doutrina da salvação pela graça tornou-se praticamente um “acorde perdido”, e mesmo a palavra “graça” foi esvaziada de toda significação espiritual e desapareceu dos discursos religiosos. Só foi conservada no sentido de “graciosidade”, coisa inteiramente externa. Felizmente há algumas evidências de uma renovada ênfase ao pecado, e de uma recém-despertada consciência da necessidade da graça divina.


d. A misericórdia de Deus.

Outro importante aspecto da bondade e amor de Deus é a Sua misericórdia ou terna compaixão. A palavra hebraica mais geralmente empregada para esta perfeição é chesed. Há outra palavra, porém, que expressa uma terna e profunda compaixão, a saber, a palavra racham, às vezes lindamente traduzida por “terna misericórdia”. A Septuaginta e o Novo Testamento empregam a palavra grega eleos para designar a misericórdia de Deus. Se a graça de Deus vê o homem como culpado diante de Deus e, portanto, necessitado de perdão, a misericórdia de Deus o vê como um ser que está suportando as conseqüências do pecado, que se acha em lastimável condição, e que, portanto, necessita do socorro divino. Pode-se definir a misericórdia divina como a bondade ou amor de Deus demonstrado para com os que se acham na miséria ou na desgraça, independentemente dos seus méritos. Em Sua misericórdia Deus se revela um Deus compassivo, que tem pena dos que se acham na miséria e está sempre pronto a aliviar a sua desgraça. Esta misericórdia é generosa, Dt 5.10; Sl 57.10; 86.5, e os poetas de Israel se dedicam em entoar canções descrevendo-a como duradoura e eterna, 1 Cr 16.34; 2 Cr 7.6; Sl 136; Ed 3.11. No Novo Testamento é muitas vezes mencionada ao lado da graça de Deus, especialmente nas saudações, 1 Tm 1.2; 2 Tm 1.1; Tt 1.4. Repetidamente se nos diz que essa perfeição divina é demonstrada para com os que temem a Deus, ex 20.2; Dt 7.9; Sl 86.5; Lc 1.50. Não significa, porém, que se limita a eles, conquanto a desfrutem em medida especial. As ternas misericórdias de Deus estão sobre todas as Suas obras, Sl 145.9, e até os que não O temem compartilham delas, Ez 18.23, 32; 33.11; Lc 6.35, 36. Não se pode apresentar a misericórdia de Deus como oposta à Sua justiça. Ela é exercida somente em harmonia com a mais estrita justiça de Deus, em vista dos méritos de Jesus Cristo. Outros termos empregados para expressar a misericórdia de Deus são “piedade”, “compaixão”, “benignidade”.


e. A longanimidade de Deus.

A longanimidade de Deus é ainda outro aspecto da Sua grande bondade ou amor. O hebraico emprega a expressão ‘erek ‘aph, que significa literalmente “grande de rosto” e daí também “lento para a ira”, enquanto que o grego expressa a mesma idéia com a palavra makrothymia. É o aspecto da bondade ou amor de Deus em virtude do qual Ele tolera os rebeldes e maus, a despeito da sua prolongada desobediência. No exercício deste atributo o pecador é visto como permanecendo em pecado, não obstante as admoestações e advertências que lhe vêm. Revela-se no adiantamento do merecido julgamento. A Escritura fala da longanimidade de Deus em Êx 34.6; Sl 86.15; Rm 2.4; 1 Pe 3.20; 2 Pe 3.15. Um termo sinônimo, com uma conotação ligeiramente diversa, é a palavra “paciência”.


2. A SANTIDADE DE DEUS.

A palavra hebraica para “ser santo”, qadash, deriva da raiz qad, que significa cortar ou separar. É uma das palavras religiosas mais proeminentes do Velho Testamento, e é aplicada primariamente a Deus. A mesma idéia é comunicada pelas palavras hagiazo e hagios, no Novo Testamento. Disto já se vê que não é correto pensar na santidade primariamente como uma qualidade moral ou religiosa, como geralmente se faz. Sua idéia fundamental é a de uma posição ou relação existente entre Deus e uma pessoa ou coisa.

a. Sua natureza.

A idéia escriturística da santidade de Deus é dupla. Em sentido original denota que Ele é absolutamente distinto de todas as Suas criaturas, e é exaltado acima delas em majestade infinita. Assim entendida, a santidade de Deus é um dos Seus atributos transcendentais e às vezes é mencionada como a Sua perfeição central e suprema. Não parece próprio falar de um atributo de Deus como sendo mais central e mais fundamental que outro; mas, se fosse permissível isto, a ênfase da Escritura à santidade de Deus pareceria justificar a sua escolha. Contudo, é evidente que, neste sentido da palavra, a santidade não é realmente um atributo moral, que possa ser coordenado com outros, como o amor, a graça e a misericórdia, mas é antes uma coisa de amplitude igual à de todos os predicados de Deus e a eles aplicável. Ele é santo em tudo aquilo que O revela, em Sua graça e bondade como também em Sua ira e justiça. Pode-se-lhe chamar “majestade-santidade” de Deus e passagens como ex 15.11; 1 Sm 2.2; Is 57.15 e Os 11.9 se referem a ela. É a santidade de Deus que Otto, em sua importante obra sobre o Santo (Das Heilige), considera como aquilo que é mais essencial em Deus, e que ele designa como “o numinoso”. Ele a considera como parte do não-racional em Deus, em que não se pode pensar conceptualmente, e que inclui idéias como “inacessibilidade absoluta” e “domínio absoluto” ou “majestade temível”. Desperta no homem um sentimento de nulidade absoluta, uma “consciência” ou “sentimento de condição de criatura” que leva a um auto-rebaixamento absoluto.

Mas a santidade de Deus tem também um aspecto especificamente ético na Escritura, e é neste seu aspecto que estamos mais interessados nesta conexão. A idéia ética da santidade divina não pode ser dissociada da idéia da majestade-santidade de Deus. Aquela desenvolve-se a partir desta. A idéia fundamental da santidade ética de Deus também é a de separação, mas, neste caso, a separação é do mal moral, isto é, do pecado. Em virtude da sua santidade, Deus não pode ter comunhão com o pecado, Jô 34.10; Hc 1.13. Empregada neste sentido, a palavra “santidade” indica a pureza majestosa de Deus, ou a Sua majestade ética. Mas a idéia de santidade não é meramente negativa (separação do pecado); tem igualmente um conteúdo positivo, a saber, o de excelência moral, ou perfeição ética. Se o homem reage à santidade majestosa de Deus com um sentimento de completa insignificância e temor, sua reação à santidade ética revela-se num senso de impureza, numa consciência de pecado, Is 6.5. Otto reconhece também este elemento na santidade de Deus, embora acentue o outro, e a respeito da resposta ele diz: “O simples temor, a simples necessidade de refúgio face ao ‘tremendum’, elevou-se aqui ao sentimento de que o homem, em sua condição de ‘profano’, não é digno de ficar na presença do Santo, e de que a sua inteira indignidade pessoal poderia contaminar até mesmo a própria santidade”. Esta santidade ética de Deus pode ser definida como a perfeição de Deus, em virtude da qual Ele eternamente quer manter e mantém a Sua excelência moral, aborrece o pecado, e exige pureza moral em Suas criaturas.

b. Sua manifestação.

A santidade de Deus é revelada na lei moral implantada no coração do homem e que fala por meio da consciência e, mais particularmente, na revelação especial de Deus. Expressa-se proeminentemente na lei dada a Israel. Essa lei, em todos os seus aspectos, foi planejada para imprimir em Israel a idéia da santidade de Deus, e para leva-lo a sentir fortemente a necessidade de levar vida santa. A este propósito atendem símbolos e tipos como a nação, a terra santa, a cidade santa, o lugar santo e o sacerdócio santo. Além disso, foi revelada na maneira como Deus recompensava a observância da lei e visitava os transgressores com terríveis punições. A suprema revelação da santidade de Deus foi dada em Jesus Cristo, que é chamado “o Santo e o Justo”, At 3.14. Ele refletiu em Sua vida a perfeita santidade de Deus. Finalmente, a santidade de Deus é também revelada na Igreja como o corpo de Cristo. É um fato notável, para o qual muitas vezes se chama a atenção, que se atribui santidade a Deus com muito maior freqüência no Velho Testamento que no Novo, conquanto isto seja feito ocasionalmente no Novo Testamento, Jo 17.11; 1 Pe 1.16; Ap 4.8; 6.10. Isto se deve provavelmente ao fato de que o Novo Testamento destina mais particularmente o termo para qualificar a terceira Pessoa da Trindade Santa como Aquele cuja tarefa especial, na economia da redenção, consiste em comunicar santidade ao Seu povo.


3. A JUSTIÇA DE DEUS.

Este atributo relaciona-se estreitamente com o da santidade de Deus. Shedd fala da justiça de Deus como “um modo de Sua santidade”, e Strong lhe chama simplesmente “santidade transitiva”. Contudo, estes termos só se aplicam à geralmente denominada justiça relativa de Deus, em distinção de Sua justiça absoluta.

a. A idéia fundamental de justiça.

A idéia fundamental de justiça é a de estrito apego à lei. Entre os homens ela pressupõe que há uma lei à qual eles devem ajustar-se. Às vezes se diz que não podemos falar de justiça em Deus, porque não há lei à qual Ele esteja sujeito. Mas, embora não haja lei acima de Deus, certamente há uma lei na própria natureza de Deus, e esta constitui o mais elevado padrão possível, pelo qual todas as outras leis são julgadas. Geralmente se faz distinção entre a justiça absoluta de Deus e a relativa. Aquela é a retidão da natureza divina, em virtude da qual Deus é infinitamente reto em Si mesmo, enquanto que esta é a perfeição de Deus pela qual Ele se mantém contra toda violação da Sua santidade e mostra, em tudo e por tudo, que Ele é Santo. É a esta retidão que o termo “justiça” se aplica mais particularmente. A justiça se manifesta especialmente em dar a cada homem o que lhe é devido, em trata-lo de acordo com os seus merecimentos. A inerente retidão de Deus é naturalmente básica para a retidão que Ele revela no trato de Suas criaturas, mas é especialmente esta última, também denominada justiça de Deus, que requer especial consideração aqui. Os termos hebraicos para “justo” e “justiça” são tsaddik, tsedhek e tsedhakah, e os termos gregos correspondentes são dikaios e dikaiosyne, todos os quais contêm a idéia de conformidade a um padrão. Esta perfeição é repetidamente atribuída a Deus na Escritura, Ed 9.15; Ne 9.8; Sl 119.137; 145.17; Jr 12.1; Lm 1.18, Dn 9.14; Jo 17.25; 2 Tm 4.8; 1 Jo 2.29; 3.7; Ap 16.5.

b. Distinções aplicadas à justiça de Deus.

Há em primeiro lugar uma justiça rectoral de Deus. Esta justiça, como está implícito no nome, é a retidão que Deus manifesta como o Governador que exerce domínio tanto sobre o bem como sobre o mal. Em virtude de Sua justiça rectoral, Deus instituiu um governo moral no mundo, e impôs ao homem uma lei justa, com promessas de recompensa ao obediente e ameaças de punição ao transgressor. No Velho Testamento Deus sobressai proeminentemente como o Legislador de Israel, Is 33.11, e do povo em geral, Tg 4.12, e Suas leis são justas, Dt 4.8. A Bíblia refere-se a esta obra rectoral de Deus também em Sl 99.4 e Rm 1.32.

Estreitamente relacionada com a justiça rectoral de Deus está a Sua justiça distributiva. Este termo habitualmente serve para designar a retidão de Deus na execução da lei, e se relaciona com a distribuição de recompensas e punições, Is 3.10, 11; Rm 2.6; 1 Pe 1.17. É de duas classes: (1) Justiça remunerativa, que se manifesta na distribuição de recompensas a homens e anjos, Dt 7.9, 12, 13; 2 Cr 6.16; Sl 58.11; Mq 7.20; Mt 25.21, 34; Rm 2.7; Hb 11.26. É realmente uma expressão do amor divino distribuindo a Sua generosidade, não com base em méritos propriamente ditos, pois a criatura não pode dar prova de nenhum mérito absoluto diante do Criador, mas segundo promessa e acordo, Lc 17.10; 1 Co 4.7. As recompensas de Deus são fruto da sua graça e decorrem de uma relação pactual estabelecida por ele. (2) Justiça retributiva, que se relaciona com a imposição de castigos. É uma expressão da ira divina. Enquanto que num mundo isento de pecado não haveria lugar para a sua aplicação, necessariamente tem proeminente lugar num mundo cheio de pecado. A Bíblia em geral dá mais ênfase à recompensa dos justos que à punição dos ímpios; mas mesmo esta é bastante proeminente, Rm 1.32; 12.19; 2 Ts 1.8, e muitas outras passagens. Deve-se notar que, ao passo que o homem não merece a recompensa que recebe, merece a punição que lhe é dada. A justiça divina está originária e necessariamente obrigada a punir o mal, não porém a recompensar o bem, Lc 17.10; 1 Co 4.7; Jo 41.11. Muitos negam a estrita justiça punitiva de Deus e alegam que Deus pune o pecador para reforma-lo, ou para dissuadir outros de pecar; mas estas posições não são sustentáveis. O propósito primordial da punição do pecado é a manutenção do direito e da justiça. É certo que ela pode, incidentalmente, servir para reformar o pecador e impedir que outros pequem, e, secundariamente, isso pode estar incluído em seus propósitos.

Fonte: Louis Berkhof, Teologia Sistemática, Editora Cultura Cristã.

A Soberania de Deus: Uma Doutrina Prática e Preciosa

por

John Piper

Usufruindo da soberania de Deus na vida de George Müller

Um dos grandes deleites de ministrar em uma igreja durante vinte anos é que você pode ver as pessoas atravessarem as épocas obscuras da vida, dependendo da bondade soberana de Deus e chegando ao outro lado com fé e gozo inabaláveis. A soberania de Deus é uma doutrina muito preciosa. É o caule vigoroso da árvore que impede que a nossa vida seja abalada pelos ventos da adversidade. É a rocha que se ergue para nós em meio ao dilúvio de incerteza e confusão. É o olho do furacão no qual permanecemos firmes com Deus, olhando para o céu azul de sua maestria, quando tudo está sendo destruído. Conheço um hino que diz: “Quando tudo ao redor de minha alma desaparece”, isto é a minha esperança e firmeza.

A palavra “soberania”, tal como a palavra “trindade”, não ocorre na Bíblia. Estou usando-a para referir a esta verdade: Deus está no controle do mundo, desde o conflito internacional mais amplo até à queda de um pequeno pássaro na floresta. Eis como a Bíblia apresenta a soberania de Deus: “Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade” (Isaías 46.9-10). “E, segundo a sua vontade, ele [Deus] opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Daniel 4.35) “Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai” (Mateus 10.29) “O que ele deseja, isso fará. Pois ele cumprirá o que está ordenado a meu respeito e muitas coisas como estas ainda tem consigo” (Jó 23.13-14). “No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada” (Salmos 115.3). “Aquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Efésios 1.11). “Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão” (Romanos 9.15). “Devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo” (Tiago 4.15).

Uma das razões por que esta doutrina é tão preciosa para os crentes é o fato de sabermos que o grande desejo de Deus é mostrar misericórdia e bondade para aqueles que confiam nEle. “Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim. Alegrar-me-ei por causa deles e lhes farei bem... de todo o meu coração e de toda a minha alma” (Jeremias 32.40-41). A soberania de Deus significa que o desígnio dEle a nosso respeito não pode ser frustrado. Nada, absolutamente nada, acontecerá àqueles que Deus ama e que são chamados segundo o seu propósito, exceto o que lhes for profundo e altamente bom. (Romanos 8.28; Salmos 84.11).

Por isso, a misericórdia e a bondade de Deus são os dois pilares de minha vida. São a esperança de meu futuro, a energia de meu serviço, o centro de minha teologia, o vínculo de meu casamento, o melhor remédio para todas as minhas enfermidades, o fortificante de todos os meus desencorajamentos. E, quando eu morrer (em breve ou não), essas duas verdades estarão à minha cabeceira e, com mãos infinitamente fortes e carinhosas, me erguerão à presença de Deus.

George Müller tem sido admirado por cento e cinquenta anos como um grande homem de fé, por causa das obras que realizou, especialmente os orfanatos em Londres. Nem todos sabem que ele viveu de um modo maravilhoso, em completa dependência da preciosa verdade da soberania de Deus. Quando faleceu a sua esposa, com a qual estava casado havia trinta e nove anos, Müller pregou o sermão do funeral com base no texto de Salmos 119.68: “Tu és bom e fazes o bem”. Ele conta como orou quando descobriu que ela estava com febre reumática:
Sim, meu Pai celestial, os dias de minha querida esposa estão em tuas mãos. Tu farás o que é melhor para ela e para mim, quer seja a vida, quer seja a morte. Se quiseres, restaura a saúde de minha preciosa esposa. Tu és capaz de fazer isso, embora ela esteja tão doente. Mas o que fizeres comigo somente me ajudará a continuar a ser perfeitamente satisfeito com tua santa vontade (Autobiography of George Müller, London: J. Nisbet and Co., 1906, p. 442).
A vontade de Deus foi levá-la. Portanto, com grande confiança na soberana misericórdia de Deus, Müller disse:
Eu aceito. Estou satisfeito com a vontade de meu Pai celestial. Busco perfeita submissão à sua vontade santa, para glorificá-Lo. Honro constantemente Aquele que me afligiu... Sem qualquer esforço, minha alma se regozija na felicidade da amada que partiu. A felicidade dela me dá regozijo... Deus mesmo o fez; estou satisfeito com Ele (Autobiography, p. 444, 440).
Isto expressa a preciosidade da doutrina da soberania de Deus.