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sábado, 13 de junho de 2015

Culto da Páscoa?

por

Manoel Canuto

Quando Paulo escreve à Igreja de Colossos ele pensa advertir aos irmãos contra a uma possível recaída à sua condição espiritual anterior: “E vós outros também que outrora éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras malignas...não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes...” (1:21, 23); Paulo deseja chamar a atenção deles para Cristo como aquele que têm a preeminência sobre tudo e em quem os crentes somente podem atingir sua maturidade e santidade (1:13-18; 2:8-9); ele também procura realçar a importância de Epafras como fiel ministro (1:7; 1:12-13) e enfatizar a virtude do perdão e da bondade (3:12-14).

Paulo trata a igreja de Colossos de forma elogiável (1:3-8), mas deixa transparecer claramente sua preocupação com os perigos que acediam esta Igreja. Havia muitas influências do paganismo com suas imoralidades (3:5-8) e assédio do sincretismo religioso. Esse sincretismo era muito esquisito, pois envolvia:

(A) Uma falsa filosofia (2:8);

(B) o cerimonialismo judaico com todas aquelas regulamentações cerimoniais do VT e Paulo diz que tudo aquilo eram “sombras” do que viria; e por ter Cristo vindo como cumprimento das Escrituras, estas sombras perderam seu significado porque o objeto que projeta a sombra – Cristo – já chegou (2:17); por isso não há mais necessidade de se voltar aos rudimentos comemorando as “sombras”;

(C) Adoração de anjos (2:18);

(D) Ascetismo.

No mês de abril muitas igrejas evangélicas fazem o culto da Páscoa ou da Ressurreição, uns na sexta-feira outros no domingo, explorando o emocionalismo quando realizam este culto em horários que se aproximam do horário que Cristo possivelmente ressuscitou; são igrejas protestantes usando pragmaticamente as datas litúrgicas da Igreja Católica. Mas nós reformados não concordamos com isso, baseados no princípio Escriturístico apresentado por Paulo nesta epístola (aos Colossenses). Poderíamos resumir nosso ponto de vista contrário da seguinte forma:

I) Não podemos concordar com culto de Ressurreição! (Culto de Páscoa) por ser antibíblico:

1. Paulo havia falado no começo do cap. 2 de Colossenses contra a argumentação persuasiva, a filosofia humanista, a tradição humana não bíblica, e os rudimentos mundanos próprio dos falsos mestres;

2. Ele cita a comida, a bebida, as festas, a Lua Nova e os sábados (termos do VT);

3. Esses três termos são usados com freqüência no VT para descrever os vários dias cerimoniais que o povo tinha de obedecer (Ver 2 Cr 31:2,3; Ne 10:32,33. Lv 23 faz um comentário com detalhes desses termos – os sábados são festas fixas que são típicas (tipificavam Cristo e Sua obra);

4. Paulo diz que tudo isso era apenas sombra daquelas coisas que haveriam de vir, "mas o objeto que projeta a sombra é encontrada em Cristo";

5. Cristo já veio. Que utilidade teriam estas sombras? A sombra precedia o objeto que a projetava: As leis cerimoniais com suas regulamentações. Por que se apegar à sombra quando o próprio objeto que projeta a sombra já chegou?

6. Tudo isso falava da obra de Cristo incluindo sua ressurreição. O próprio domingo já fala da ressurreição;

7. Paulo coloca outras coisas estranhas às Escrituras (sincretismo) no cap. 2 de Colossenses, mas se refere também do caráter ascético;

8. Assim os colossenses estavam negando a preeminência da suficiência da obra de Cristo;

9. Por isso os antigos Presbiterianos nunca comemoraram estas coisas – dia de ascensão, de ressurreição, pentecostes, primícias e sim o que a Bíblia determina: “Fazei isso em memória de mim”: a Santa Ceia que é a páscoa do VT, somente;

10. Para se ser coerente, quem faz culto de Ressurreição tem de fazer culto das Primícias também, pois esta festa apontava para as primícias dos que dormem – a ressurreição de Cristo – e as outras festas como Pentecostes, Pães Asmos, dos Tabernáculos, etc.

11. Quando Paulo diz "mas o corpo é de Cristo" (2:17) ele estava (no original) dizendo: "...porém o corpo (ou o objeto)... de Cristo" significando, provavelmente: "...porém o objeto se encontra em Cristo";

12. Mas Paulo nunca abriu mão do dever moral de se observar um dia em sete como um dia santo – na criação Deus já estabelece esta obrigação moral e repete nos Dez mandamentos. A Igreja Primitiva com os apóstolos muda este dia que já se vê no primeiro dia da semana em Lev 23:12. Sabemos que existem outras interpretações para Cl 2:16-18, mas não na Confissão de Fé de Westminster e na maioria dos comentaristas reformados e puritanos.

II) A Confissão de Fé de Westminster é muito clara no Capítulo "Da Lei De Deus". Lemos que estas leis cerimoniais que prefiguram Cristo "suas graças, seus atos, seus sofrimentos e seus benefícios ... estão todas abolidas sob o Novo Testamento”. Por isso os Puritanos e a Igreja Presbiteriana do passado nunca comemoraram Páscoa, Pentecostes, culto de ressurreição, etc. Nunca fizeram cultos especiais nestas datas litúrgicas da Igreja Católica Romana e Anglicana, mesmo que seja uma tradição cristã antiga.

III) Não concordarmos com este tipo de culto "tradicional" humanista quanto mais que se realize na madrugada da manhã do domingo. Por que esta hora? Se fosse um horário adiafórico não passaria pelo crivo da prudência cristã. Esse não é horário de culto. É algo comum nos meios dispensacionalistas com suas emoções próprias. Os casos adiafóricos têm de passar pela prudência cristã e por uma ética cristã que tem de ser bíblica. É isso que nos ensina a Confissão de Fé de Westminster. Não é questão de "consciência". Este horário, parece mais pura emoção e fruto de um pensamento místico e pietista. Outros agravam a situação fazendo cantatas e dramatizações, mas tudo isso quebra frontalmente o segundo mandamento. Somos defensores de uma tradição bíblica e não humana.

Tudo isso tem aparência de sabedoria e falsa humildade. Deus nos livre disso.
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Editorial publicado na Revista Os Puritanos de 2006.

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