quinta-feira, 11 de junho de 2015
Resenha: Livro Alegrem-se os povos (John Piper)
por
André Aloísio
O livro Alegrem-se os povos, de John Piper, trata do assunto das missões de uma perspectiva incomum, mas bíblica. Todo o livro enfatiza a supremacia de Deus nas missões, ao invés de enfatizar a pessoa ou o povo não alcançado. Isso é assim porque tudo o que Deus faz tem em vista, em primeiro lugar, a Sua própria glória (Ez 34.22,32).
O livro contém sete capítulos onde a supremacia de Deus nas missões é demonstrada por meio de vários temas. O capítulo 1 trata de maneira maravilhosa da adoração, especificamente a adoração como o propósito supremo do próprio Deus, e por isso o propósito supremo do homem. Sendo a adoração o propósito supremo, as missões são a segunda atividade mais importante da Igreja neste mundo, não a primeira, porque as missões são um meio para que o fim da adoração seja alcançado: “Quando esta era se encerrar e os incontáveis milhões de redimidos estiverem perante o trono de Deus, não haverá mais missões. Elas são uma necessidade temporária. A adoração, porém, permanece para sempre”.
Dessa forma, a adoração é também o próprio combustível para as missões.
No capítulo 2, o assunto é a oração, que é apresentada de uma perspectiva revolucionária para muitos. Uma vez que a vida cristã é uma guerra, a oração não é um aparelho comunicador doméstico, mas um radiotransmissor no campo de batalha. A oração não funciona direito para muitos cristãos porque eles a utilizam para pedir as coisas mais banais e egocêntricas possíveis e não para pedir em prol das missões. A oração deveria ser utilizada para pedir suprimentos para a guerra espiritual que a Igreja trava nas missões, ou seja, poder espiritual para testemunhar.
O próximo capítulo apresenta o sofrimento em relação às missões. Ao contrário do que ensinam muitas igrejas nos dias de hoje, o sofrimento faz parte da vida cristã, especialmente da vida daqueles que levam o evangelho aos não alcançados. A morte de Cristo não foi apenas substitutiva, mas também um modelo para o sofrimento do próprio cristão (1Pe 4.1). Deus admite o sofrimento de seus servos porque o sofrimento aprofunda a fé e a santidade, aumenta a recompensa do cristão no céu, desperta outros do seu sono de indiferença, preenche o que resta das aflições de Cristo (Cl 1.24), enfatiza o mandamento missionário de ir e porque a supremacia de Cristo se manifesta no sofrimento.
O capítulo 4 mostra a supremacia de Cristo como foco da fé salvadora, defendendo que a salvação só é possível àqueles que creem no Senhor Jesus Cristo. Piper divide esse assunto em três. Primeiro, ele trata do tormento eterno consciente no inferno, onde várias passagens bíblicas são apresentadas para provar esse ponto. Em segundo lugar, Piper mostra que a expiação de Cristo é absolutamente necessária para a salvação eterna. Finalmente, Piper defende que as pessoas precisam ouvir de Cristo para que sejam salvas. A conclusão é que não é possível que um “pagão piedoso” seja salvo, a menos que ele ouça de Cristo e creia Nele. O único problema desse capítulo é que Piper é incoerente ao defender que todas as crianças que morrem na infância, sem exceção, serão salvas, e do mesmo modo todas as pessoas incapazes de serem chamadas exteriormente pela Palavra (pessoas com problemas mentais). Uma ideia mais bíblica é a de que apenas as crianças eleitas e pessoas incapazes eleitas serão salvas sem serem chamadas exteriormente pelo ministério da Palavra.
No capítulo seguinte, Piper responde de maneira muito interessante à questão sobre se a tarefa das missões é alcançar o maior número possível de indivíduos ou o maior número de nações. A conclusão de Piper, com base em diversos textos, inclusive da Grande Comissão (Mt 28.18-20), é que a tarefa das missões é alcançar todas as nações. Piper prossegue examinando os conceitos de nações, tribos, povos e línguas, para determinar a extensão dos grupos que devem ser alcançados, e conclui que esses grupos são tão estreitos quanto povoados. Quanto ao conceito de “povo alcançado”, ele entende que é ambíguo, podendo significar tanto que há convertidos entre esse povo quanto que há uma igreja plantada entre eles. Piper encerra o capítulo mostrando que a diversidade de povos alcançados engrandece a glória de Deus.
No sexto capítulo, Piper mostra a relação entre a supremacia de Deus e a compaixão pela alma humana. Essas duas coisas não são contrárias uma a outra, mas são, na realidade, uma e a mesma: “Os pecadores escapam do inferno e honram a Deus com o mesmo ato: entesourando tudo o que Deus é para eles em Cristo, satisfazendo-se com tudo o que Deus é para eles em Cristo”. Assim, ao termos compaixão por alguém e desejarmos que ele seja salvo, estamos desejando ao mesmo tempo que Deus seja glorificado, porque a salvação e a satisfação que o perdido encontrará em Deus manifestará a grandiosidade do próprio Deus.
O último capítulo trata da simplicidade interna e liberdade externa da adoração. Esse é o único capítulo lamentável desse maravilhoso livro, porque nele Piper diferencia de forma tão grande a adoração do Antigo e do Novo Testamento que parece negar a importância da liturgia no culto. Ele parece entender que a forma do culto não é importante e pode variar de acordo com a cultura, não apenas em questões circunstanciais. Apesar disso, ele mostra corretamente que a essência da verdadeira adoração é a satisfação com Deus em Cristo.
Enfim, Alegrem-se os povos é um chamado para que Deus, e não o homem, seja colocado no centro da missão da Igreja. Deus é supremo sobre tudo e todos e isso deve ser verdade também nas missões, porque o objetivo principal do homem (e de Deus) é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.
PIPER, John. Alegrem-se os povos: a supremacia de Deus nas missões. 2.ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã.
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