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terça-feira, 9 de junho de 2015

"Não farei parte de um arrebatamento secreto!"



Isso mesmo!

Você não leu errado, querido leitor. Acabo de escrever que “não faço parte da geração do arrebatamento secreto!”.
Mas, preciso alertá-lo que isso não significa negar a existência de um “arrebatamento”.
O arrebatamento bíblico é uma coisa, o arrebatamento secreto, outra.
O primeiro, como já adiantei, é uma doutrina escriturística, o segundo, por sua vez, um conceito ficcional a respeito do futuro.

“Pastor Marcelo, onde você escondeu o arrebatamento de I Tes. 4.17 ?”.

Acredite: não o escondi. Na verdade, tenho-o diante dos meus olhos neste exato momento. E, olhando para ele, por mais que me esforce, não consigo encontrar nada sobre um [suposto] Arrebatamento Secreto. Há no texto um arrebatamento, mas não um arrebatamento secreto. Este fato faz toda a diferença.
“Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, SEREMOS ARREBATADOS juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras” (I Tes. 4.13).
Existe, sim, uma promessa a respeito de um arrebatamento da Igreja do Senhor Jesus. Deste arrebatamento, os crentes em Jesus que estiverem vivos por sua ocasião, serão ‘arrebatados’ aos céus, a fim de serem reunidos com Cristo e com os demais santos que aguardava a ressurreição na sepultura. Na linguagem de Paulo, este evento se denomina um “harpazõ”. Literalmente, a expressão carrega a idéia de “apoderar-se” de outrem, “arrebatar” (Strong), “carregar por força”, “confiscar”, “levar para fora” (Thayer).

“Pastor Marcelo, isso não prova que o Arrebatamento Secreto é Bíblico?”.

De forma alguma.
Tudo isso prova apenas que a Bíblia nos fala de um arrebatamento, mas não que o mesmo seja secreto. Nada nesta passagem, ou em qualquer outra, ensina que haverá um arrebatamento secreto.
Por ‘arrebatamento secreto’, vale a pena recordar, atende a tese de que Jesus irá retornar ao mundo de forma invisível. Segundo esta teoria, apenas os cristãos preparados para o arrebatamento, poderão ver Jesus Cristo retornando nas nuvens dos céus e ouvir o som da Última Trombeta. Os demais membros da raça humana serão incapazes de contemplar qualquer destes eventos. Eles serão, como advoga famoso filme, ‘deixados para trás’ – sem entenderem ao certo o que se passou.


Depois de tal “arrebatamento secreto”, a humanidade infiel mergulhará num período chamado de Grande Tribulação, com duração média de 7 anos, na qual terá uma ultima chance de redenção.
Aqui no Brasil, esta forma de enxergar o futuro da humanidade é a mais comum entre os cristãos evangélicos. O grande sucesso de títulos como “Ladrão na Noite” e “Deixados para Trás”, nos dão um prova adicional deste fato. Além disso, todos podemos nos lembrar de alguma música “hit” que defende a mesma teoria:
“Brevemente nesta terra algo vai acontecer;
Pois um povo muito humilde vai desaparecer!
As manchetes dos jornais anunciarão:
Aonde foi aquele povo que fazia uma oração?
Eles subiram no ar!
Foram morar com Jeová!
Eles subiram no ar!
Foram morar com Jeová!”.
Em nosso solo tupiniquim, um dos maiores responsáveis pela divulgação desta interpretação escatológica é, sem dúvida alguma, o movimento pentecostal clássico. Como é sabido, a formação teológica do pentecostalismo brasileiro se deu por duas vertentes: os missionários escandinavos e os americanos. Como em sua maioria esmagadora eram formados por irmãos oriundos de confissões batistas, é natural que tal influência acontecesse.

Portanto, ser pentecostal em nosso país é quase sinônimo de ser dispensacionalista e pré-tribulacionista.
Um extravagante adesivo de carro testemunha a forte ligação pentecostal com a tese do arrebatamento secreto:
“CUIDADO! PENTECOSTAL A BORDO!”.
O que este motorista está querendo dizer é o seguinte: “Faço parte da geração dos arrebatados, por isso, a qualquer momento este carro ficará desgovernado. Por tanto, se você é um dos que vão ficar para trás, dirija com atenção redobrada!”.

É justamente deste arrebatamento secreto que eu, e ninguém, pode fazer parte.
O motivo?
Ele não existirá!


“Pastor Marcelo, você está nos dizendo que os mestres que nos ensinam o Arrebatamento Secreto estão equivocados?”.
Isso mesmo! Eles ensinam uma teoria que não possui respaldo bíblico. Sei que para muitas pessoas está afirmação é difícil de digerir, afinal, eu mesmo passei por isso, tendo já sido um fervoroso defensor do arrebatamento secreto. Porém, a Bíblia é muito clara em nos apresentar evidências sólidas contra esta tese, de modo que, humildemente, precisamos combatê-la.
Uma das maneiras mais fáceis de se perceber a fragilidade desta teoria é comparar seus principais argumentos com o que dizem as Escrituras. Tentaremos fazer isso a seguir.
Argumento: “A Segunda Vinda do Senhor ocorrerá em duas fases. A primeira fase será nos ares, apenas para a Igreja, e invisível para o mundo. Na segunda fase, Jesus colocará os seus pés sobre a Terra, portanto, um evento visível a todos os povos”.
 Em outras palavras, para se defender um arrebatamento secreto é preciso afirmar que Jesus retornará ao mundo não mais uma vez, mas duas vezes mais. Jesus voltará uma primeira vez para a sua Igreja e, uma segunda vez, para o restante da humanidade. O argumento básico aqui é que no arrebatamento, Jesus virá apenas nos ares, sem tocar a terra. Logo, apenas a Igreja – conduzida até os ares – verá a primeira etapa da vinda de Jesus. Isso procede?
Normalmente costuma-se apresentar os seguintes textos para comprovar esta teoria: Mt 25:6; Lc  17:34-36; 1 Ts 4:16-17. Sendo que o mais importante deles, indubitavelmente, é a passagem de I Tessalonicenses 4.16-17. O que todos estes textos possuem em comum? Porque se acredita que eles forneçam suporta a referia teoria?
Em Mateus 25.6, lemos sobre um grupo formado por cinco virgens prudentes e cinco virgens loucas. Como sabemos, apenas um dos grupos pode ver a chegada do noivo e, assim, entrar para as Bodas Celestiais. O problema fundamental aqui é que a vinda do noivo não foi secreta para as virgens loucas. Muito pelo contrário, elas foram avisadas e, desesperadamente, tentaram “arrumar a casa” de última hora. Além disso, trata-se de uma história, uma parábola. Qual o objetivo da parábola? Provar que a chegada foi secreta para um dos grupos, ou provar que os dois grupos perceberam a chegada, mas apenas um estava preparado? Penso que a resposta não é muito difícil…
Em Lucas 17.34-36, encontramos uma das únicas passagens que parecem confirmar a teoria de um arrebatamento secreto. Aliás, esta era a minha passagem favorita. O texto nos apresenta uma descrição [supostamente] do futuro da humanidade, na qual podemos ver que estando duas pessoas juntas, uma delas é “levada” e a outra “deixada para trás”. Lendo a passagem com as lentes do pré-tribulacionismo é quase impossível não encontrar nela uma confirmação da teoria. Como já disse, eu mesmo pensava assim. Mudei de opinião quando percebi que a passagem é um tiro no pé do dispensacionalismo pré-tribulacionista.
Não é possível interpretar esta profecia sem analisar o texto de Mateus 24. Uma das regras mais elementares da hermenêutica é que Escritura interpreta Escritura. Portanto, vejamos o que nos diz o texto de Mateus 24. 37-42:


“E, como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem. Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem. Então, estando dois no campo, será levado um, e deixado o outro; estando duas moendo no moinho, será levada uma, e deixada outra. Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor”.
Antes de qualquer outra coisa, peço-lhes que atente ao fato desta profecia não se referir ao Arrebatamento da Igreja, mas sim a Destruição de Jerusalém. Todos os detalhes do texto aplicam-se claramente ao contexto dos Judeus do primeiro século, e no de mais ninguém:
“Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê, atenda; então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; e quem estiver sobre o telhado não desça a tirar alguma coisa de sua casa; e quem estiver no campo não volte atrás a buscar as suas vestes. Mas ai das grávidas e das que amamentarem naqueles dias! E orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado… Em verdade vos digo que NÃO PASSARÁ ESTA GERAÇÃO SEM QUE TODAS ESTAS COISAS ACONTEÇAM!”.
A maioria dos leitores, incapazes de perceber o ensino claro por trás da linguagem “apocalíptica” que Jesus usa nesta passagem, apressam-se a interpretarem o texto como uma profecia a respeito do fim do mundo, incorrendo em erro. A luz do contexto imediato e geral, a passagem refere-se à Destruição de Jerusalém pelo Império Romano.
Para os leitores que ainda insistem na busca por algum significado alternativo para a expressão “esta geração”, nunca é demais relembrá-los do ensino cristalino de Jesus: “Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui estão, que não provarão a morte até que vejam vir o Filho do homem no seu reino!” (Mateus 16.28). “Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste que será? Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu” (João 21.21-22).
Em segundo lugar, observe que fazer parte dos que “são levados” não é uma coisa boa, muito pelo contrário, é sinal de derrota. Observe os destaques em azul. Atente para o fato de haver dois grupos “levados” nesta passagem. Atente também para o fato de que Jesus faz uma comparação e não um contraste entre os dois grupos. Segundo Jesus, assim como os incrédulos foram “levados” (destruídos) nos dias de Noé; assim também, os incrédulos daquela geração seriam “levados” (destruídos) quando Cristo trouxesse seu Juízo sobre Jerusalém. Como é possível compreender “levados” como sendo algo bom, dentro deste contexto tão evidente? Ora, se ser “levado” fosse algo bom, Jesus deveria ter dito que os salvos seriam levados como Noé foi levado, porém, o que Ele diz é: na destruição de Jerusalém alguns seriam levados assim como os ímpios dos dias de Noé foram levados! Portanto, se levado não pode ser sinônimo de algum arrebatamento futuro da Igreja. Ser levado é ser destruído ou escravizado do exército que invadiria Jerusalém.
O contexto é tão claro que Jesus orienta seus ouvintes a se esconderem quando o fatídico dia chegasse! Aqueles que estavam no campo não deveriam retornar para a cidade; os que estavam no telhado deveriam continuar ali. Nenhuma atitude que atrasasse a fuga deveria ser tomada. E acima de tudo, deveriam orar para que o cerco contra Jerusalém não se desse no Sábado nem no Inverno, do contrário teriam a fuga prejudicada: aos sábados os portões da cidade estavam fechados e no inverno o clima seria mais um inimigo.
Noé foi “deixado para trás” quando veio o Dilúvio. Os demais foram levados, mas ele e sua família ficaram, com a missão de restaurar o que se perdeu. De igual modo acontece na Destruição de Jerusalém. Aqueles que estavam desprevenidos foram “levados” pela tragédia, os demais, os avisados, “ficaram para trás”, com a tarefa de reconstruir tudo outra vez.
Em terceiro lugar é digno de nota que a cronologia desta passagem contradiz abertamente a cronologia do arrebatamento secreto. Segundo a teoria do arrebatamento secreto, Jesus virá ao mundo secretamente e levará consigo a Igreja; depois de alguns anos, o Anticrito irá destruir a cidade de Jerusalém, profanando o seu tempo. Evidentemente não é possível encaixar naturalmente esta cronologia no texto de Mateus 24.
Na passagem, podemos observar que primeiro surge o Anticristo, predito na profecia de Daniel: “Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê, atenda” (Mateus 24.15). Ocorrendo a aparição do Anticristo, inicia-se a perseguição anti-semita: “Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; e quem estiver sobre o telhado não desça a tirar alguma coisa de sua casa; e quem estiver no campo não volte atrás a buscar as suas vestes. Mas ai das grávidas e das que amamentarem naqueles dias! E orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado” (Mateus 24.16-20).
Até que todas estas coisas comecem a acontecer ninguém é “levado”, segundo a própria profecia de Jesus. Contudo, logo estas coisas comecem, aparece no céu o Sinal do Filho do Homem. Ele vem sobre “as nuvens do céu” e ordena que seus anjos “ajuntem os escolhidos” (vv. 29-31). Observem que, de fato, a passagem nos fala de Cristo “ajuntando os seus”. Estaríamos diante de uma referência ao Arrebatamento? Se for este o caso, o Arrebatamento Secreto continua errado, pois, este “ajuntamento” acontece DEPOIS da Grande Tribulação, não antes! Logo, não pode ser secreto e nem pré-tribulacional.
Examinando o texto atentamente, contudo, percebe-se que este “ajuntamento” é distinto do ser “levado” a que se referem os versos seguintes. A partir do verso 36 Jesus focaliza a condição lamentável dos infiéis de seu tempo, comparando-os com os infiéis antediluvianos! Se em 29-31 contemplamos a sorte dos fiéis, nos versos seguintes vemos a dos perseguidores de Cristo.
Os dispensacionalistas pré-tribulacionistas não percebem estes problemas? Percebem, todavia, arrumam algumas justificativas a fim de moldarem o texto à sua teoria. Por exemplo, eles podem alegar que um trecho da passagem refere-se aos judeus, e a outra, a Igreja. Tal divisão, claro, não é de forma alguma naturalmente percebida no texto.
Na primeira seção deste artigo já comentamos o texto de I Tessalonicenses 4; de modo que apenas reiteraremos o que já afirmamos: nenhum detalhe do texto indica um arrebatamento secreto, invisível. Muito pelo contrário, a luz do ensino geral das Escrituras, pode-se afirmar com segurança que tal evento se dará aos olhos de todo o mundo. Segundo Paulo, o arrebatamento da Igreja acontecerá por ocasião da ressurreição dos mortos, particularmente, dos santos. Portanto, se a ressurreição dos santos for um evento visível ao mundo, o arrebatamento também o será. Além disso, Paulo também ensina que o arrebatamento se dará por ocasião do recebimento da recompensa por parte da Igreja. Assim, caso a Igreja seja
recompensada na mesma ocasião que o mundo infiel receber a sua recompensa, o arrebatamento não pode ser secreto e invisível.


“Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação” (João 5.28,29).
“E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo… Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos… E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna!” (Mateus 25).
Argumento: “A Segunda Vinda do Senhor ocorrerá em duas fases. A primeira fase é descrita como parousia, manifestação. A segunda fase é descrita como apokalupsis, revelação. Portanto, temos duas fases, uma invisível, outra visível”.
Este argumento aparentemente erudito não passa de cortina de fumaça. Ele pode impressionar alguém que desconheça o uso que o Novo Testamento faz destes dois termos gregos. Facilmente podemos classificar o argumento acima como falacioso, e por isso mesmo, impressiona a quantidade de dispensacionalistas que se valem do mesmo:
“A parousia indica presença pessoal (At.1:11; ITs.4:14-17). A palavra parousia é usada nas seguintes passagens: (Mt.24:3,27,37,39; ICo.1:8;15:23; ITs.2:19; ITs.3:13;4:15;5:23; IITs.2:1; Tg.5:7; IIPe.1:16;3:4,12; IJo.2:28; e nas seguintes passagens referindo-se a homens: (ICo.16:17; Fp.2:12; IICo.10:10)… A apokalupsis indica a visibilidade da vinda do Senhor (Ap.1:7,9-11; Mt.24:26,27,30; Lc.21:27; Tt.2:13; IJo.3:2,3; Is.52:8; Os.5:15). O termo apokalupsis é usado nas seguintes passagens: (Rm.8:19; IITs.1:7; IPe.1:7,13;4:13)” – Pastor Luiz Antônio Ferraz, Escatologia, publicado no solascriptura-tt.
No mesmo site, no artigo A Doutrina das Últimas Coisas, escrito e publicado pelo editor da web page, encontramos o mesmo argumento, de forma ligeiramente modificada:
“A 2a. vinda de Cristo será em 2 etapas… 1a. etapa (Arrebatamento): Nos ares, para buscar Sua noiva… 2a. etapa (Revelação): Na terra, para julgar o mundo” – Hélio de Menezes Silva.
Apesar do autor não usar textualmente o contraste entre “parousia” e “apokalupsis”, a idéia permeia sua afirmação quando diz: “A segunda etapa, a Revelação, será na terra…”. Mais adiante, confirmando nossa constatação, o autor afirmará que as Bodas do Cordeiro acontecerá “após o julgamento dos crentes, e antes da REVELAÇÃO”. Também afirma que a Tribulação acontece “entre o Arrebatamento e a REVELAÇÃO”. Linguagem muito semelhante aparece em O Plano Divino Através dos Séculos, de N. Lawrence Olson (CPAD): “O rapto será um evento secreto enquanto a revelação terá a mais ampla divulgação, todo o mundo tomando conhecimento da mesma”.


O que todos estes escritores possuem em comum? Vejamos:
Afirmam que Parousia refira-se a uma vinda invisível de Cristo;
Afirmam que Apokalupsis refira-se a vinda visível de Cristo, na segunda fase.
Qual a validade destes argumentos? Será que os escritores do Novo Testamento fizeram um uso tão seletivo assim destes termos, tornando-os excludentes?
Exemplos do uso de “Parousia” no Novo Testamento:
“Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda (parousia) do Filho do homem. Pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias. E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus” (Mateus 24.27-31).
A passagem acima nos fala do que acontece precedendo a Parousia de Cristo. Não é difícil perceber a total impossibilidade de tal “parousia” acontecer de forma “invisível”. O sol escurecerá, a lua não dará sua luz e as estrelas caem do céu. Onde fica a invisibilidade da parousia de Cristo?
Mateus 24.27 nos demonstra que o termo “Parousia” não significa apenas presença, ou um evento “invisível”; isso é invenção. Por isso, nos texto onde “Parousia” refere-se a vinda de Cristo (I Ts. 2.19; I Ts. 3.13; I Ts. 4.15; I Ts. 5.23; II Ts. 2.1; etc), nada justifica interpretar como sendo “invisível”. De fato, o termo “Parousia” indica apenas chegada, presença, e não se refere exclusivamente a Segunda Vinda de Cristo: I Cor. 16.17; II Cor. 7.6-7; Filip. 2.12. Imagine interpretar a “Parousia” nestes versos como sendo “vinda invisível”! Absurdo, não é mesmo?
Finalizando este argumento citamos um outro exemplo do uso que o Novo Testamento faz do termo “Parousia”, referindo-se a Segunda Vinda de Cristo. Em II Tessalonicenses 2.8, Paulo nos fala sobre o Anticristo sendo destruído pelo sopro da boca de Cristo. Quando isso aconteceria? Segundo Paulo, isto se daria por ocasião da VINDA de Cristo. Ora, segundo os defensores do “arrebatamento secreto”, o Anticristo será destruído por Cristo no Apokalupsis, a vinda visível de Cristo. Porém, não é isso o que a Bíblia diz:
“E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda (parousia)” (II Ts. 2.8). De modo que, caso “parousia” significasse ‘vinda invisível’, tanto a primeira quando a segunda fase seria invisível. A menos que o dispensacionalista queira defender que o Anticristo será destruído antes mesmo da Grande Tribulação começar!


Exemplos do uso de “Apokalupsis” no Novo Testamento:
Apokalupsis, segundo os defensores da teoria que estamos analisando, refere-se a manifestação visível de Cristo. Ou seja, no arrebatamento secreto, teremos a Parousia, depois da Grande Tribulação termos o Apokalupsis. Pelo fato da Bíblia usar o termo grego Parousia tanto nos textos que eles usam para o arrebatamento, quando nos textos que usam para depois da Grande Tribulação, sabemos que suas afirmações sobre a Parousia são falsas. Será que acertam quanto ao uso do termo Apokalupsis?
Lembrem-se: segundo eles, Apokalupsis refere à manifestação visível. Por isso, por uma questão de lógica, a Bíblia jamais utilizará este termo nos textos que os dispensacionalistas usam como referencia ao arrebatamento, não é mesmo? Errado, novamente!
“De maneira que nenhum dom vos falta, esperando a manifestação (apokalupsis) de nosso Senhor Jesus Cristo” (I Cor. 1.7).
“E a vós, que sois atribulados, descanso conosco, quando se manifestar (apokalupsis) o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do seu poder…” (II Tes. 1.7).
“Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação (apokalupsis) de Jesus Cristo…” (I Pedro 1.7).
“Mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação (apokalupsis) da sua glória vos regozijeis e alegreis” (I Pedro 4.13).
De acordo com a interpretação dispensacionalista, todas estas passagens referem-se ao encontro da Igreja com Cristo por ocasião do Arrebatamento Secreto. Sendo assim, o fato é que estas passagens deveriam usar o termo parousia e não apokalupsis. Vemos, portanto, que usar parousia para ‘invisível’ e apokalupsis para ‘visível’ é algo completamente insustentável exegeticamente.
Somos forçados a concordar com Adolfo Ricardo Ybarra: “A Bíblia usa as palavras Aparição (gr. epifaneia), Revelação (gr. apokalupsis) e Vinda (gr. parousia), para referir-se ao encontro da Igreja com Cristo”. – Fundamentos da Fé Postribulacional. Em outras palavras, o Novo Testamento não faz a diferenciação pretendida pelos dispensacionalistas. A obra de Ybarra, todavia, peca ao defender uma visão futurista sobra a Grande Tribulação; contudo, ao situar o arrebatamento após a Grande Tribulação, ele é mais bíblico do que o dispensacionalismo pretribulacionista.
Concluímos este artigo chamado à atenção do leitor para o seguinte fato: a fim de defender a idéia de um arrebatamento secreto, o dispensacionalismo tradicional acabou criando um emaranhado de teorias e teses que, ao invés de ajudar o estudante, cria infindáveis nós em sua cabeça. Não é a toa que a maioria dos cristãos simplesmente teme estudar Escatologia, pensando que estes temas são acessíveis apenas a mentes privilegiadas. Infelizmente, desconhecem que o que temem não passa de ficção…


Queremos convidar você, leitor, a ponderar com maior esmero estes temas, não temendo agir como os cristãos de Beréia:
“E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus. Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim!” (Atos 17. 10,11).
Nossa oração é que o Espírito de Deus o conduza a uma escatologia simples, clara e bíblica; transformadora.

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