por
Elyse Fitzpatrick
Um “Chapeleiro Louco” de verdade: Paralisado pelo Medo
O auditório estava lotado com os pais orgulhosos dos alunos de teatro avançado mais promissores da região. Nos bastidores, membros de cada elenco repassavam apressadamente suas falas, preparando-se para a sua vez de competir.
“Vocês são os próximos”, disse a nossa professora, a Sra. Archer. “Basta lembrarem-se daquilo que viemos trabalhando e... quebrem uma perna”. Todos nós sorrimos um para o outro, sabendo que a expressão “quebre uma perna” significava, na linguagem do teatro, “boa sorte”. Nós não achávamos que precisávamos de sorte; nós havíamos ensaiado nossas falas tantas vezes que elas eram pronunciadas no automático. Nós nos sentíamos confiantes – e por que não deveríamos? Afinal, nós éramos os melhores. Quando os cinco de nós, atores e atrizes que estavam dramatizando a famosa festa do chá de Alice no País das Maravilhas, entramos no palco, o público ficou em silêncio, e as luzes se acenderam.
“Eu adoro a festa do chá”, disse Alice para mim, o Chapeleiro Louco. Enquanto ela sentava-se olhando para mim, esperando que eu lhe respondesse com a minha fala, algo absolutamente chocante aconteceu. De repente, senti como se estivesse assistindo toda a cena como uma espectadora – tudo se tornou confuso, e parecia que eu estava perdendo contato com a realidade. Lá no fundo da minha mente, eu sabia que eu deveria estar fazendo alguma coisa. Não tinha algo que eu deveria dizer? À medida que os segundos, que pareciam horas, passavam, eu ficava cada vez mais desorientada. Minhas mãos suavam e o meu coração batia fortemente. Eu senti como se fosse desmaiar. Em algum lugar no fundo da minha mente, eu ouvi vagamente a nossa professora sussurrando para mim freneticamente as minhas falas de fora do palco. Eu deveria falar essas frases? Eu não conseguia sequer me lembrar de como falar. Nada do que estava acontecendo ao meu redor fazia sentido.
“Eu adoro a festa do chá”, disse Alice novamente, dessa vez olhando fixamente para mim. Eu queria responder para deixá-la feliz, mas, no fundo do meu coração, eu não conseguia entender o que ela queria. Eu não sabia quem eu era ou o que eu estava fazendo ali, com todas aquelas luzes sobre mim. O público começou a murmurar. Os meus colegas atores e atrizes olhavam incrédulos para mim. Eu simplesmente fiquei sentada ali, na ponta da mesa, em transe. Quem eu era... o que estava acontecendo comigo? Tudo o que eu conseguia pensar era em como escapar. Então, eu simplesmente me levantei e caminhei para fora do palco. O resto do elenco, humilhado e irritado, saiu em seguida.
Sabe, eu consigo me lembrar vividamente dessa cena, mesmo ela tendo acontecido há mais de 30 anos. Ela está congelada na minha mente, juntamente com todas as outras grandes humilhações da minha vida. Eu gostaria de lhe dizer que eu fui aos bastidores, voltei ao normal e continuei com a nossa apresentação, mas isso não seria verdade. Não, na verdade, esse foi o fim da minha grande chance de ficar famosa, bem como o de algumas amizades da aula de teatro. Naquele dia me senti mais como um Chapeleiro Louco do que eu gostaria.
O medo é incrivelmente poderoso, não é? Ele pode acabar com a sua memória e fazer com que o seu coração bata fortemente. Na verdade, ele pode paralisar você. Ele pode fazer um soldado treinado chorar como uma criança, assim como o apavorado soldado de infantaria no filme O Resgate do Soldado Ryan. Ele sabia que deveria se levantar e salvar o seu amigo, mas ele se sentia completamente incapaz de se mover.
À medida que passarmos tempo juntas analisando os nossos medos e ansiedades, eu compartilharei mais desses momentos com você – tanto da minha própria vida quanto da vida de outras. Desde as grandes humilhações às pequenas e incômodas ansiedades que dançam como espectros ao redor de nossos pensamentos, eu quero que você saiba que não está sozinha. Eu sei o que é ficar acordada, à noite, com aquele mau pressentimento, pensando: “As coisas estão muito bem, isso não vai durar para sempre” ou “as coisas estão péssimas, elas nunca vão mudar!”. Eu sei o que é se preocupar, sentir os músculos ficarem tensos ao redor do pescoço, e sentir o estômago se revirar. Passei dias lutando contra o pensamento de que tudo estava à beira do colapso. Eu deixei minha mente vagar por todos os labirintos – imaginando que os meus filhos estavam mortos, ou que o meu marido havia perdido o seu amor por mim, ou que eu tinha alguma doença horrível, ou... e assim por diante.
Em resposta a esses pensamentos cheios de temor, eu disse e fiz algumas coisas bem tolas. Algumas delas, analisando bem, são realmente muito engraçadas, enquanto outras deixaram um rastro de tristes consequências. Eu compartilharei, propositadamente, muitos desses incidentes pessoais com você, para que veja que somos todas iguais em nossas respostas emocionais. Eu também compartilharei algumas histórias de mulheres que eu aconselhei – mulheres como você e eu. Eu farei isso porque quero que saiba que você não está sozinha.
Na verdade, isso é exatamente o que a Bíblia ensina: “Não vos sobreveio tentação que não fosse humana...” (1 Coríntios 10.13). Os medos que você e eu enfrentamos não são, na verdade, tão peculiares assim; esse versículo ensina que todas nós estamos praticamente no mesmo barco. Embora o foco e a intensidade dos nossos medos possam ser diferentes, cada pessoa que já viveu teve que lutar contra eles. Talvez, do seu ponto de vista, não pareça ser assim, mas mesmo aquelas que aparentam ser as mais corajosas entre nós tiveram que superar o medo.
Aquele que Venceu o Medo
Este não é apenas um livro sobre as lutas e os fracassos que temos em comum. Mesmo que seja útil para nós sabermos que não estamos sozinhas, eu entendo que o fato de termos essa consciência não nos ajudará a superarmos o problema. Os passageiros do Titanic podem ter ficado contentes por terem tido a mão de alguém para segurarem, mas, no final, isso não impediu que o navio afundasse sob aquela água gelada. Não! Assim como eles, nós precisamos de alguém forte o suficiente para nos resgatar da escuridão da noite, do frio terrível que ameaça paralisar as nossas almas. Precisamos de alguém que seja mais forte do que os nossos medos.
Jesus Cristo é esse alguém. Ele é o único que conhece intimamente todos os nossos pensamentos e medos. Ele é o único capaz de nos libertar. Isso porque ele enfrentou o maior de todos os medos por nós – o medo da morte e da separação de Deus – e ressurgiu vitorioso. A Bíblia ensina que uma das razões pelas quais ele deixou o céu e veio ao mundo foi para livrar “todos que, pelo pavor... estavam sujeitos à escravidão por toda a vida” (Hebreus 2.15).
Nossos medos são como correntes em volta de nossos corações – eles nos paralisam, prendem e escravizam. Mas Jesus Cristo é a chave que pode banir todos os seus medos e libertá-la. Ele é capaz de fazer isso porque o amor dele é mais poderoso do que os seus medos. É plano dele ensiná-la, encorajá-la e transformá-la em uma pessoa que confia nele – mesmo em face de suas mais profundas preocupações e ansiedades. Ele não promete torná-la perfeita aqui na Terra, mas promete trabalhar poderosamente em seu coração agora e, enfim, libertá-la completamente de todos os medos no céu.
Fonte: Introdução do livro "Vencendo Medos e Ansiedades", de Elyse Fitzpatrick, lançamento de Junho/2015 da Editora Fiel.
Nenhum comentário :
Postar um comentário