por
Rev. Francisco Macena da Costa
“Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os exilados que eu deportei de Jerusalém para a Babilônia: Edificai casas e habitai nelas; plantai pomares e comei o seu fruto. Tomai esposas e gerai filhos e filhas, tomai esposas para vossos filhos e dai vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas; multiplicai-vos aí e não vos diminuais. Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz. Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Não vos enganem os vossos profetas que estão no meio de vós, nem os vossos adivinhos, nem deis ouvidos aos vossos sonhadores, que sempre sonham segundo o vosso desejo; porque falsamente vos profetizam eles em meu nome; eu não os enviei, diz o Senhor. Assim diz o Senhor: Logo que se cumprirem para a Babilônia setenta anos, atentarei para vós outros e cumprirei para convosco a minha boa palavra, tornando a trazer-vos para este lugar. Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais. Então, me invocareis, passareis a orar a mim, e eu vos ouvirei. Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração. Serei achado de vós, diz o Senhor, e farei mudar a vossa sorte; congregar-vos-ei de todas as nações e de todos os lugares para onde vos lancei, diz o Senhor, e tornarei a trazer-vos ao lugar donde vos mandei para o exílio.” (Jeremias 29:4-14)
Introdução
Às vezes não percebemos o quanto somos influenciados pelo meio em que vivemos, até que um dia tudo muda de forma impetuosa e abrupta. De súbito um sentimento de desvalorização pessoal se funde a uma sensação de precariedade que radicalmente impede de nos adaptarmos no novo contexto e geralmente esse novo contexto se torna um lugar onde não queremos estar.
As Escrituras de certa forma nos revelam experiências de pessoas que em algum momento estavam vivendo em lugares onde elas não queriam viver. Essa foi a realidade do exílio na Babilônia. Com base no testemunho bíblico podemos presumir que as pessoas foram brutalmente arrancadas de onde haviam nascido deixando para trás a terra prometida, o templo, as casas e de modo mais amplo sua cultura. O povo foi forçado a caminhar como mais de 1.100 quilômetros pelo deserto para finalmente serem recebidos em país de língua estranha, com costumes paganizados e onde a geografia nem de longe lembrava a imponência dos montes da palestina.
Definitivamente o povo estava onde não queria estar. Estavam longe de casa, vivendo uma nova realidade, em meio à dor e a alienação. No entanto havia um desígnio maior debaixo do governo de Deus, no sentido de ensinar ao povo algo que só pode ser aprendido quando se vive onde não se quer viver.
Da mesma forma como aconteceu no passado ao povo de Israel somos sujeitados por algumas circunstâncias a viver onde não queremos viver. Muitas vezes somos afastados da nossa zona de conforto quando perdemos referenciais de amizade, costumes, histórias e hábitos. Podemos sentir isso com maior ou menos intensidade, quando se muda de bairro, de cidade, de país, de igreja e etc. No entanto o fato que permanece é que em muitas situações podemos identificar nossos exílios na medida em que Deus nos constrange a viver onde não queremos viver.
Mas o que fazer quando estamos longe de nossa zona de conforto? O que fazer quando somos constrangidos a viver aquilo que não queremos viver?
O texto que lemos hoje em Jeremias 29.4-14 nos ensina três atitudes que devemos assumir quando Deus nos manda viver onde não queremos viver.
I. Quando Deus nos manda viver onde não queremos viver a primeira atitude que devemos assumir é fazer o melhor com aquilo que temos. (4-7)
No exílio (no lugar onde não se quer estar), absolutamente sem direção, desajustados e arrasados os expatriados receberam uma carta do profeta Jeremias que dizia:
5 Edificai casas e habitai nelas; plantai pomares e comei o seu fruto.
6 Tomai esposas e gerai filhos e filhas, tomai esposas para vossos filhos e dai vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas; multiplicai-vos aí e não vos diminuais.
7 Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz.
Ora, meus irmãos e irmãs, quando se está num lugar onde não se quer estar, são criadas deliberadamente algumas atitudes para blindar do mundo externo, como por exemplo:
· O isolamento total ou parcial da cultura – seja por medo, arrogância ou depressão;
· Negligência quanto a criar raízes e relacionamentos profundos – o desejo nesse caso é abandonar e voltar para casa;
Evidentemente que na Babilônia os desterrados não tinham nenhum desejo, ambição ou motivação para se darem pela excelência. Na maioria dos casos a vida dos desterrados se misturava amargamente com uma existência opaca, amorfa e zumbificada. Discernindo esse estado de alma dos desterrados Jeremias disse:
· Vocês não querem morar na Babilônia, mas é nela que vocês vão morar, portanto construam nelas as suas casas; não cruzem os braços de vocês, vivam da melhor forma possível;
· Não sejam parasitas preguiçosos, nem fanáticos obscurantistas que se isolam de tudo e todos; tratem de estudar, e desenvolvam o trabalho na Babilônia;
· Constituam famílias; cumpram o mandato de Deus quanto a multiplicação;
· Busquem a paz e orem por ela. Vocês vão ficar onde não querem, mas é onde vocês não desejam estar que terão que buscar viver em paz.
Jeremias estava dizendo para o povo: façam o melhor, busquem o melhor. A Babilônia não é o lugar que vocês querem estar, contudo é nela que se cumprirá o destino de vocês, portanto tratem de viver da melhor forma possível. Vocês não aprenderam a viver assim em Jerusalém, agora vão ter que viver na Babilônia.
Meus irmãos e minhas irmãs, o testemunho das Escrituras nos convida a crer no Soberano Deus.
“Ainda antes que houvesse dia, eu era; e nenhum há que possa livrar alguém das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá? ” (Isaías 43:13, RA)
“Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado.” (Jó 42:2, RA)
“Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda.” (Salmos 139:16, RA)
“Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai. E, quanto a vós outros, até os cabelos todos da cabeça estão contados.” (Mateus 10:29-30, RA)
Aqui cessam todas as nossas pretensões de livre arbítrio, aqui cessam todas as nossas ilusões de controle, aqui cessam todas as nossas fantasias de liberdade e resta apenas o fato que Deus governa sobre todas as coisas. E porque Deus é soberano eu sei que não estou aqui por acaso. Sei que estou aqui hoje porque essa foi a vontade de soberana do Senhor e que por fim há propósito na ação de Deus.
Irmãos e irmãs, Deus é soberano e por vezes no grande propósito de Deus não conseguimos entender porque Ele nos levar para o lugar onde não queremos estar. Por meio do profeta Jeremias, o Senhor está dizendo façam o melhor, mesmo que vocês estejam onde não querem estar.
· Se família está em crise (você não queria estar na situação que vive), faça o melhor: faça o melhor que você pode como filho, como marido, como esposa;
· Se a Igreja está em crise (você não queria estar numa igreja em crise), faça o melhor: busque a excelência no seguimento de Jesus Cristo.
· A sociedade embriagada por Satanás (e você não quer viver a realidade) faça o melhor; faça tudo para a glória de Deus.
Além de fazer o melhor:
II. Quando Deus nos manda viver onde não queremos viver a segunda atitude que devemos assumir é a coragem para enfrentar a realidade. (8-9)
Enquanto o povo construía muros para se defenderem dos inimigos o profeta Jeremias e outros pregavam que a única segurança era viver em fidelidade ao Senhor. Essa mensagem, porém foi ridicularizada e desprezada.
Um dia então o exílio chegou separando os líderes mais influentes para serem deportados, pois sem líderes o povo seria como ovelha sem pastor. Jeremias não foi deportando, pois de julgavam ser ele um inútil diante da grande crise de fé que o povo vivia. Sim, o povo vivia uma grande crise existencial, pois eles achavam que o castigo de Deus havia sido muito duro, já que a vida na Babilônia era marcada por uma língua estranha, comidas impuras, escolas paganizadas, e não havia um lugar solene para a adoração.
Um dos salmos que melhor expressa essa realidade é salmo 137 que diz:
“Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião. Nos salgueiros que lá havia, pendurávamos as nossas harpas, pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções, e os nossos opressores, que fôssemos alegres, dizendo: Entoai-nos algum dos cânticos de Sião. Como, porém, haveríamos de entoar o canto do Senhor em terra estranha? Se eu de ti me esquecer, ó Jerusalém, que se resseque a minha mão direita. Apegue-se-me a língua ao paladar, se me não lembrar de ti, se não preferir eu Jerusalém à minha maior alegria. ” (Salmos 137:1-6, RA)
Com base nesse grande ansiedade, não demorou muito para que falsos profetas agissem, projetando e vendendo fantasias em nome de Deus pregando que o exílio logo acabaria. Essa pregação forjou um comportamento irresponsável e contra cultural por parte dos exilados que conseqüentemente se tornaram indiferentes a realidade, afinal o exílio logo acabaria. Na verdade o povo vivia como vítima e os falsos profetas retroalimentavam essa nóia (vitimização), viciando o povo na autocomiseração que algemava os deportados na indiferença frente à nova cultura. Diante dessa realidade a palavra que Jeremias transmitiu foi a seguinte:
8 Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Não vos enganem os vossos profetas que estão no meio de vós, nem os vossos adivinhos, nem deis ouvidos aos vossos sonhadores, que sempre sonham segundo o vosso desejo; 9 porque falsamente vos profetizam eles em meu nome; eu não os enviei, diz o Senhor
Irmãos e irmãs vamos convir num ponto, é mais fácil viver lamentando do que encarar a realidade de frente.
Mais fácil do que encarar os problemas de hoje é se enganar olhando álbuns de fotografias do passado, dizendo para si mesmo que melhor foram os dias passados;
Mais fácil é fugir dos conflitos de hoje do que conviver com gente que você não gosta e num lugar que você não vê futuro (se for um casamento você acaba – se for igreja você muda – se for emprego você larga – se for uma pessoa você ignora)
Mais fácil é fazer beicinho diante da vida, quando tudo parece conspirar contra a nossa felicidade e a existência grita violentamente para nos acordar das utopias mostrando o quanto a realidade pode ser entediante e monótona.
É exatamente nesse vício da autocomiseração e seu efeitos psicológicos e comportamentais que os falsos profetas encontram ecos minimizando a realidade e apontando uma solução simplista dizendo: Pare de sofrer! Basta você “declarar”, “pensar positivo”, “fazer ritual tal” ou sacrificar valor “X” e tudo será diferente!
Querido irmão, Em nome de Jesus, entenda de uma vez por todas que a vida é difícil, por vezes gememos, sentimos medo, ficamos apavorados, deprimidos, chateados. Por vezes temos conflitos no lar, os filhos crescem e se tornam desobedientes, infelizmente alguns se desviam da igreja. Por vezes trabalhamos em situações extremamente estressantes, o dinheiro é pouco, a doença não tem cura, a sociedade é podre e a cada dia fica pior.
Não queremos viver nesse exílio, não queremos habitar nas terras da decepção e da tristeza, mas ainda que seja contra a nossa vontade temos que enfrentar a realidade procurando fazer o melhor.
Como bem disse Paulo: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento. O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; e o Deus da paz será convosco. Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor porque, agora, uma vez mais, renovastes a meu favor o vosso cuidado; o qual também já tínheis antes, mas vos faltava oportunidade. Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece.” (Filipenses 4:8-13, RA)
basta somente fazer o melhor e encarar a realidade:
III. Quando Deus nos manda viver onde não queremos viver a terceira atitude que devemos assumir é ter esperança nas promessas do Senhor. (10-14)
Em meio tantas advertências e conselhos, a carta de Jeremias termina com uma promessa da parte de Deus para os exilados:
10 Assim diz o Senhor: Logo que se cumprirem para a Babilônia setenta anos, atentarei para vós outros e cumprirei para convosco a minha boa palavra, tornando a trazer-vos para este lugar.
11 Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais.
12 Então, me invocareis, passareis a orar a mim, e eu vos ouvirei.
13 Buscar-me-ei e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração.
14 Serei achado de vós, diz o Senhor, e farei mudar a vossa sorte; congregar-vos-ei de todas as nações e de todos os lugares para onde vos lancei, diz o Senhor, e tornarei a trazer-vos ao lugar donde vos mandei para o exílio.
Penso que essas palavras são o ponto mais alto da profecia de Jeremias, não que tudo ele disse perdesse o seu valor ou fosse inferior, mas porque a esperança sempre é o ponto mais alto para quem está à beira do desespero. Todavia nem sempre a Palavra de Deus tem sido absorvida da mesma forma pelas pessoas que ouvem. No tempo de Jeremias três profetas se levantaram furiosos contra ele e cobravam do sacerdote Sofonias dizendo:
“O Senhor te pôs por sacerdote em lugar do sacerdote Joiada, para que sejas encarregado da Casa do Senhor sobre todo homem fanático que quer passar por profeta, para o lançares na prisão e no tronco. Agora, pois, por que não repreendeste a Jeremias, o anatotita, que vos profetiza? Pois nos enviou mensageiros à Babilônia para nos dizer: Há de durar muito o exílio; edificai casas e habitai nelas; plantai pomares e comei o seu fruto.” (Jeremias 29:26-28, RA)
Assim era a vida de Jeremias: por um lado hostilizado pelas elites, e por outro predestinado desde o ventre materno para ser profeta. Por isso, se por um lado alguns desprezaram a pregação da esperança, creio que outros ouviram de bom grado a mensagem profética da esperança e por conta disso passaram por uma grande experiência de conversão que constituiu um dos períodos mais criativos na história religiosa dos hebreus.
É interessante observar que foi exatamente onde eles não queriam viver:
que muitos perseveraram no caminho da piedade;
que muitos se converteram;
que descobriram que não existe fronteira geográfica para servir a Deus
Por causa do exílio, eles perderam tudo para entenderem que a vida não vale nada se Deus não estiver no centro de todas as coisas.
Em Jerusalém durante a reforma de Josias, dogmaticamente tudo estava perfeitamente alinhado e aritmeticamente ajustado com o deuteronômio, no entanto a Palavra de Deus não era traduzida em vida em todas as dinâmicas da existência. Em sua maioria o povo vivia de rituais vazios, orgasmicamente pressionados pelo consumo, pelos modismos e pela mentira.
Veio o exílio e eles se viram onde não queriam estar. Não havia templo, não havia os montes, não havia mais o aconchego e a tranqüilidade que se tem quando se está em casa, todavia foi nesse ambiente hostil que muitos aprenderam a textura de uma vida moldada pela promessa de Deus, para a partir de então buscar a paz, através da oração e da suplica na presença de Deus.
Meus irmãos e irmãs, muitas vezes Deus nos leva para onde não queremos estar para que possamos de fato aprender a viver pela esperança nas promessas do Senhor.
Parece irônico, mas às vezes temos recursos, doutrina, história, tradição, erudição, temos praticamente tudo, mas não temos vida, não apresentamos uma vida piedosa e verdadeira diante de Deus. Temos tudo e ao mesmo tempo não temos nada.
Por isso, Deus como um pai que nos disciplina e para a nossa correção tira de nós o que mais queremos e nos leva para onde não queremos estar para que assim nossas vidas sejam equilibradas e redimidas de tudo que é periférico e assim fiquemos essencialmente com o Senhor acima de todas as coisas.
Talvez você esteja onde você não quer estar, talvez você esteja revoltado com muitas coisas (Deus, com a igreja, com as pessoas, com a sociedade, com o sistema). Se você está assim hoje, em Nome de Jesus, entenda que Deus nos tira tudo que achamos ser importante para que possamos viver;
Confiando em sua bondade;
Piedosamente em oração;
Buscando o Senhor de todo o coração;
Confiando que nossas vidas pertencem a Ele;
E que no tempo Dele nossa sorte será mudada.
Conclusão
O exílio é o pior que manifesta o melhor. Deus nos manda viver onde não queremos viver. A realidade da nossa vida muda num piscar de olhos de tal maneira que oscilamos dos espasmos sazonais de felicidade para enfrentar nossos exílios que nos sobrevêm na forma de catástrofes, doenças, desempregos, morte, mudanças. De uma hora para outra tudo mudou e você nem seque é consultado.
Quando chega o exílio o que você faz: você reclama, foge da realidade?
Hoje Deus nos diz:
Construa uma casa – constitua família – trabalhe duro e busque viver em paz.
Em outras palavras Deus está dizendo:
· Viva o melhor que você pode;
· Enfrente a realidade;
· Você pode ser uma pessoa melhor onde quer que esteja, desde que o seu coração esteja no centro das promessas de Deus.
Que o Senhor tenha misericórdia de nós e nos ajude em nome de Jesus.
Rev. Francisco Macena da Costa.
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